postado em 05/07/2019 04:19
A derrota imposta ao governo pelos deputados na Comissão Especial ao rejeitar destaques para inclusão de regras de aposentadorias mais suaves aos policiais foi indigesta. Na tradicional ;live; semanal do presidente Jair Bolsonaro, realizada ontem, ele não comentou sobre a reforma da Previdência em momento algum nos cerca de 37 minutos da transmissão ao vivo. Somente ao fim, nas declarações finais, por 23 segundos, ele comentou o assunto, de forma velada, sem menção mesmo à aprovação do texto base da reforma da Previdência. Manifestou respeito às instituições e citou o ;povo brasileiro; como algo muito mais importante do que elas.
Mesmo no Twitter, Bolsonaro não comentou nada em publicação própria sobre a reforma. Postou um vídeo em que o ministro da Economia, Paulo Guedes, manifestou a vontade do presidente em beneficiar algumas categorias. As declarações do chefe da equipe econômica foram dadas ontem em evento da XP Investimentos, em São Paulo, onde sugeriu que o capitão reformado tenha uma ;ingenuidade ou outra; ao tentar conceder aposentadorias especiais. ;Não dá para ajudar aquele ali, não?; (manifestou Bolsonaro), como ocorreu agora com a Previdência. E eu disse: ;Presidente, é o Congresso que está com a reforma. Jogo que segue, a bola está com eles;;, declarou Guedes (Leia mais na página 6).
A postura de Bolsonaro após a derrota na Comissão Especial é um desabafo silencioso do presidente, que se engajou pessoalmente na articulação para incluir as categorias policiais na reforma. ;Nós respeitamos, como democratas, todas as instituições do Brasil. Mas tem algo que é muito mais importante do que qualquer instituição. É você, povo brasileiro, a quem nós devemos lealdade. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos;, finalizou Bolsonaro, na transmissão ao vivo, ontem.
Pela manhã, enquanto articulava regras diferenciadas para os policiais, Bolsonaro afirmou que o governo errou ao incluir as categorias no texto e pediu, em reunião com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), apoio dos ruralistas para corrigir. ;Tem um equívoco que nós, eu, o governo erramos. E dá para resolver essa questão através do bom senso de todos os senhores;, destacou. O apelo foi reforçado em solenidade de posse do novo ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos (Leia mais sobre o evento abaixo).
Plano A
O presidente destacou que a concessão de regras diferenciadas aos policiais não é privilégio, sejam militares ou federais. ;A certeza que tenho, em sendo policial militar, é uma classe que nunca teve privilégio em momento nenhum. O que queremos e precisamos dos senhores é consolidar essa decisão que já conversei agora há pouco com o (presidente da Câmara) Rodrigo Maia, que está tendo participação especial na questão da Previdência, de modo que acertemos as questões das PM, bem como da PF e PRF;, declarou.
A certeza, adiantou Bolsonaro, é que todos terão alguma cota de sacrifício. ;Todos nós contribuiremos para que se busque uma solução para a questão fiscal, para que o Brasil saia da situação bastante complicada em que se encontra. E a participação do Ramos é colaborar na busca dessa solução;, ressaltou. Embora não tenha parabenizado o Congresso ou celebrado a aprovação da reforma, a defesa da matéria foi feita durante a solenidade, iniciada às 10h30, ao destacar que o governo não tem uma estratégia reserva. ;Não temos plano B. O plano A é esse;, avisou.
Lembrança da infância
O presidente Jair Bolsonaro polemizou ontem em transmissão ao vivo em uma rede social. Ao lembrar da infância, quando trabalhava com ;9, 10 anos; ; como disse ele próprio ;, afirmou que o ;trabalho dignifica o homem, a mulher, não interessa a idade;. No entanto, garantiu que não vai propor nenhuma lei para flexibilizar ou regulamentar atividades profissionais para menores de idade. ;Quando um moleque de 9, 10 anos vai trabalhar em algum lugar está cheio de gente (dizendo) aí: ;Trabalho escravo, não sei o quê, trabalho infantil;. Agora, quando está fumando um ;paralelepípedo; de crack, ninguém fala nada. Trabalho não atrapalha a vida de ninguém. Fique tranquilo que não vou apresentar nenhum projeto aqui para descriminalizar o trabalho infantil, pois eu seria massacrado. Mas quero dizer que eu, meu irmão mais velho, uma irmã minha também, pouco mais nova, com essa idade, 8, 9, 10, 12 anos, trabalhava na fazenda. Trabalho duro;, declarou.