Em uma tentativa de minimizar a repercussão negativa da fala do presidente Jair Bolsonaro sobre trabalho infantil, parte dos apoiadores do governo escreveram nas redes sociais as próprias experiências durante a infância. Uma delas foi a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), que entrou para os assuntos mais comentados do Twitter nesta segunda-feira (8/7).
"Aos 12 anos de idade eu fazia brigadeiros para vender na minha escola. E o mais interessante era que eu não precisava mas eu sentia uma enorme satisfação de pagar minhas aulas de tênis com esse dinheiro. Eu me sentia criativa e produtiva", escreveu a deputada no microblog.
Aos 12 anos de idade eu fazia brigadeiros para vender na minha escola.E o mais interessante era que eu não precisava mas eu sentia uma enorme satisfação de pagar as minhas aulas de tênis com o esse dinheiro. Eu me sentia criativa e produtiva.
; Bia Kicis (@Biakicis)
Até a publicação desta reportagem, o tuíte tinha mais de 15 mil curtidas e 4,9 mil respostas. Em parte, de pessoas que defendem a deputada, e em parte, pela oposição que argumenta que trabalho infantil não deve ser comemorado (veja repercussões abaixo).
Na opinião da pesquisadora Monica de Bolle, “deveria ser óbvia a afirmação de que trabalhar no armazém do papai, vender bombom na escola, ou trabalhar na lojinhha da família nas férias não é o que se entende por trabalho infantil”. Para ela, “trabalho infantil é assunto sério demais para ser tratado de forma tão torpe por aqueles que se julgam representativos de algo que não são”.
Além disso, para o advogado e sócio do Ferraz dos Passos Advocacia e Consultoria, Ronaldo Tolentino, as declarações de políticos podem impactar negativamente a luta contra o trabalho infantil. "O governo tinha que incentivar uma campanha de conscientização porque mudar esse pensamento cultural não é fácil. E isso [declaração] pode afetar, porque você reforça uma cultura que não é correta", afirmou.
De acordo com Tolentino, no país, há uma cultura de minimização dos impactos do trabalho infantil. Isso porque "tem pai que acha que colocar o filho para trabalhar cedo é bom para a educação deles. Mas a criança e o adolescente têm que estar no colégio, estudando, praticando atividade complementar", completou. Para o especialista, o trabalho infantil pode impactar também na economia de uma região, já que pessoas que não têm uma boa formação escolar, também terão uma mão de obra menos qualificada.
No caso de jovens com idade superior a 16 anos, a legislação já garante deveres e direitos, como é o caso, dos programas que aceitam menores aprendizes, pontua Tolentino. "Mas isso sempre deve ser como um segundo plano. O foco principal para crianças e adolescentes sempre deve ser o estudo".
O professor do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB), Vicente Faleiros destacou que o trabalho infantil retira a oportunidade de crianças e adolescentes se desenvolverem e é uma espécie de violência. De acordo com o especialista, elas, muitas vezes, também são exploradas fisicamente e economicamente e não têm garantia de um futuro digno.
“O trabalho nas ruas é uma ocasião para contato com o tráfico e com o uso inadequado de substâncias. Além disso, todo o dinheiro que essa criança ganha vai para a família. Ou seja, ela passa a ser a responsável pela renda dos pais, quando na verdade o adulto é quem deveria sustentar a família. Isso é totalmente anticonstitucional”, disse.
Polêmica
A polêmica da publicação da deputada Bia Kicis veio dias após Bolsonaro falar que "trabalho dignifica o homem, a mulher, não interessa a idade", em uma live no Facebook na quinta-feira (4/7). Logo em seguida, ele ressaltou que não irá propor a flexibilização da lei que trata do trabalho infantil, pois sabe que, se fizesse isso, "seria massacrado".
Apesar de dizer que ele e os irmãos trabalham desde os "9,10 anos" na fazenda, o irmão de Bolsonaro, Renato Bolsonaro, relatou em 2015, durante uma entrevista à revista Crescer, da editora Globo, na qual negava que o pai tenha os feito trabalhar porque "achava que o filho tinha que estudar".
Repercussões
Após o tutíte, internautas comentaram a publicação da deputada. Apesar de alguns defenderem a postagem, a maioria se mostrou contrário à declaração. Veja algumas das repercussões:
Vc disse bem: ;eu não precisava;.Eu trabalhava servindo coxinha e refri num buffet infantil pra pagar meus rolês, mas pq EU queria , nunca dependi disso pra comer ou contribuir em casa.
As crianças têm que não precisar de trabalhar, esse é o ponto.; Cissa%uD83C%uDF39 (@SissyRibs)
Isso parece com fazer brigadeiro para pagar aulas de tênis, minha senhora?
; Conge de alguém %uD83D%uDC70%uD83C%uDFFB (@lilian_corado)
Crianças sendo OBRIGADAS a trabalhar pra não morrer de FOME e eu tendo q ler relativização desse nÃvel.
; Bruka Lopes (@brukalopes)
Vendeu brigadeiro pra pagar aula de TÊNIS.
T
Ê
N
I
S
; Luuh Soares %uD83C%uDFF3%uFE0F%u200D%uD83C%uDF08 %uD83C%uDF3B (@LuuhSoares1313)
;Aos 12 anos eu vendia brigadeiro para pagar aulas de tênis...;
; Carla Volhovade %uD83E%uDD89%uD83D%uDD2C %uD83D%uDCDA (@volhovade)
Eu trabalho desde os 13 anos, minha mãe era desquitada(isso mesmo), trabalhava em 3 empregos para colocar comida em casa. E sou absolutamente favorável que os menores de 16 anos trabalhem. Quero saber com quantos anos você começou, se é que trabalha?
; Rosa Lucia L.Abicair (@LuciaAbicair)
A maldade disso é tão grande que até parece burrice.
; Rafael (@RafaelMesmoReal)
A esquerda prefere que crianças pobres que não podem ajudar a famÃlia trabalhando honestamente por escolha pessoal, sejam recrutadas pelo tráfico de drogas para assaltar, matar e morrer antes dos 16 anos trocando tiros com a polÃcia.
; %u269C%uFE0F FORA PT - FORA PSOL - FORA COMUNAS %u269C%uFE0F (@Gustavo15811)
Kkkkk não é possÃvel que esse tuÃte não seja uma piada
; carol (@carolprandii)