Politica

Bia Kicis: ''Aos 12 anos eu fazia brigadeiros para vender''

A postagem no Twitter veio dias após o presidente Jair Bolsonaro falar sobre trabalho infantil em uma live no Facebook

Augusto Fernandes
Deborah Fortuna
postado em 08/07/2019 18:46 / atualizado em 29/09/2021 09:10

imagem da deputada federal Bia Kicis, sentada durante uma entrevista ao programa CB Poder da Tv Brasília em parceria com o Correio Braziliense

Em uma tentativa de minimizar a repercussão negativa da fala do presidente Jair Bolsonaro sobre trabalho infantil, parte dos apoiadores do governo escreveram nas redes sociais as próprias experiências durante a infância. Uma delas foi a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), que entrou para os assuntos mais comentados do Twitter nesta segunda-feira (8/7). 

 

"Aos 12 anos de idade eu fazia brigadeiros para vender na minha escola. E o mais interessante era que eu não precisava mas eu sentia uma enorme satisfação de pagar minhas aulas de tênis com esse dinheiro. Eu me sentia criativa e produtiva", escreveu a deputada no microblog. 

 

 

 

Até a publicação desta reportagem, o tuíte tinha mais de 15 mil curtidas e 4,9 mil respostas. Em parte, de pessoas que defendem a deputada, e em parte, pela oposição que argumenta que trabalho infantil não deve ser comemorado (veja repercussões abaixo).  

 

Na opinião da pesquisadora Monica de Bolle,  “deveria ser óbvia a afirmação de que trabalhar no armazém do papai, vender bombom na escola, ou trabalhar na lojinhha da família nas férias não é o que se entende por trabalho infantil”. Para ela, “trabalho infantil é assunto sério demais para ser tratado de forma tão torpe por aqueles que se julgam representativos de algo que não são”. 

 

Além disso, para o advogado e sócio do Ferraz dos Passos Advocacia e Consultoria, Ronaldo Tolentino, as declarações de políticos podem impactar negativamente a luta contra o trabalho infantil.  "O governo tinha que incentivar uma campanha de conscientização porque mudar esse pensamento cultural não é fácil. E isso [declaração] pode afetar, porque você reforça uma cultura que não é correta", afirmou.  

 

De acordo com Tolentino, no país, há uma cultura de minimização dos impactos do trabalho infantil. Isso porque "tem pai que acha que colocar o filho para trabalhar cedo é bom para a educação deles. Mas a criança e o adolescente têm que estar no colégio, estudando, praticando atividade complementar", completou. Para o especialista, o trabalho infantil pode impactar também na economia de uma região, já que pessoas que não têm uma boa formação escolar, também terão uma mão de obra menos qualificada. 

 

No caso de jovens com idade superior a 16 anos, a legislação já garante deveres e direitos, como é o caso, dos programas que aceitam menores aprendizes, pontua Tolentino. "Mas isso sempre deve ser como um segundo plano. O foco principal para crianças e adolescentes sempre deve ser o estudo". 

 

O  professor do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB), Vicente Faleiros destacou que o trabalho infantil retira a oportunidade de crianças e adolescentes se desenvolverem e é uma espécie de violência. De acordo com o especialista, elas, muitas vezes, também são exploradas fisicamente e economicamente e não têm garantia de um futuro digno.

 

“O trabalho nas ruas é uma ocasião para contato com o tráfico e com o uso inadequado de substâncias. Além disso, todo o dinheiro que essa criança ganha vai para a família. Ou seja, ela passa a ser a responsável pela renda dos pais, quando na verdade o adulto é quem deveria sustentar a família. Isso é totalmente anticonstitucional”, disse.

 

Polêmica  

A polêmica da publicação da deputada Bia Kicis veio dias após Bolsonaro falar que "trabalho dignifica o homem, a mulher, não interessa a idade", em uma live no Facebook na quinta-feira (4/7). Logo em seguida, ele ressaltou que não irá propor a flexibilização da lei que trata do trabalho infantil, pois sabe que, se fizesse isso, "seria massacrado". 

 

Apesar de dizer que ele e os irmãos trabalham desde os "9,10 anos" na fazenda, o irmão de Bolsonaro, Renato Bolsonaro, relatou em 2015, durante uma entrevista à revista Crescer, da editora Globo, na qual negava que o pai tenha os feito trabalhar porque "achava que o filho tinha que estudar"

 

Repercussões 

Após o tutíte, internautas comentaram a publicação da deputada. Apesar de alguns defenderem a postagem, a maioria se mostrou contrário à declaração. Veja algumas das repercussões:

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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