postado em 15/07/2019 04:21
O protagonismo que o Parlamento pretende assumir no pós-Previdência acionou o sinal de alerta na articulação política do governo. O presidente Jair Bolsonaro e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, acenam com gratidão à costura feita pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Mas aliados avisaram que, se o Palácio do Planalto não se movimentar com estratégia, observará o clima de ;parlamentarismo branco; crescer na Esplanada dos Ministérios. Para evitar isso, uma interlocução está sendo construída no sentido de compor com parte do chamado Centrão ; bloco informalmente composto por PP, PRB e PL.
As conversas estão sendo conduzidas entre Ramos e membros do alto clero de partidos do Centrão ligados às bancadas ruralista e evangélica. O ministro admite que mantém relacionamento com vários partidos, mas a base que começa a ser montada não partirá inicialmente das legendas partidárias. O articulador político está alertado de que não conseguirá montar uma estrutura de sustentação da forma como o governo tentou fazer nos primeiros seis meses de governo.
Parte do alto clero de PP, PRB e PL está alinhada com Maia. Em torno dele, orbita a cúpula de outras grandes legendas, como MDB, PSD, DEM e PSDB. A maior sinalização da influência que ele tem junto ao Centrão reside no próprio discurso dele depois da vitória da votação da reforma previdenciária no primeiro turno. ;O Centrão, essa coisa que ninguém sabe o que é, mas é do mal, mas é o Centrão que está fazendo a reforma da Previdência, esses partidos que se dizem do Centrão;, declarou.
A sinalização de Maia foi o suficiente para o governo entender que, para estruturar a base, precisará compor com parte do Centrão disposta a apoiar o Planalto. A divisão ao alto clero desses partidos possibilitará, assim, montar a base governista. Desses nomes, será possível montar uma tropa de choque para captar o médio e baixo cleros do Centrão, assim como outros partidos.
Vácuo
O líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO), é favorável à composição costurada e acena positivamente a apoiar uma articulação ideológica em prol das políticas públicas, e não fisiológica. ;Depois da votação em segundo turno da reforma, se o governo não tiver uma base, estará em mato sem cachorro. Se deixar criar um vácuo no poder e não reagir, o Parlamento irá;, pondera.
Os afagos de Maia ao Centrão incomodaram Nelto e, para ele, o governo deve ficar alerta a isso. ;Ele deu um protagonismo ao Centrão que não deveria fazer. O protagonismo deveria ser dado a todo o Parlamento, e não fazendo média com o Centrão. Por isso, é claro que temos que nos unir (com nomes dispostos a apoiar o governo);, pondera. Para conseguir montar a tropa de choque de apoio, no entanto, Ramos precisará definir novos vice-líderes no Congresso e dar poderes para as articulações mobilizadas por esses parlamentares. (RC)