Politica

Sem consenso entre senadores

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 21/07/2019 04:04
Apesar de o Congresso estar em período de recesso até o fim do mês, as atividades do Senado não devem parar por completo, em meio à possibilidade de o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ser indicado para chefiar a embaixada do Brasil em Washington, nos Estados Unidos. Até a volta oficial dos trabalhos, senadores da Comissão de Relações Exteriores (CRE) se movimentarão nos bastidores para analisar o nome do filho de Jair Bolsonaro. Em caso de confirmação da indicação do congressista pelo governo federal, vão sabatiná-lo e votar se avalizam a nomeação. Por enquanto, Eduardo não é unanimidade entre os 17 membros titulares do colegiado.

Nas contas do Correio, o filho de Bolsonaro tem oito votos contrários até o momento. Para críticos da indicação, pesa contra o parlamentar o fato de não seguir carreira diplomática e, portanto, não ter experiência suficiente para assumir o cargo, como disse o vice-presidente da CRE, Marcos do Val (Cidadania-ES). ;A embaixada é estratégica e requer um diplomata com muita consciência. Tem os profissionais que dedicam sua carreira a isso. Não vejo de forma nem um pouco positiva. Peço que o presidente da República possa reavaliar essa posição;, afirmou.

Outros contrários à nomeação veem nepotismo da parte do presidente da República. Na opinião de Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição, isso está ;claro, declarado;. ;Não existe precedente na história da diplomacia brasileira, desde a proclamação da República, a nomeação de filho de presidente para uma embaixada;, frisou. ;É um absurdo que isso seja ao menos cogitado. Bolsonaro quer fazer do governo o quintal da sua casa, uma extensão familiar.;

Mesmo que Eduardo não consiga a maioria simples dos votos na comissão para ser aprovado ao cargo, o resultado mais importante será o do plenário do Senado. De acordo com Randolfe, a oposição já teria os votos suficientes para barrar a nomeação: 41. Contudo, como o pleito é secreto, ele teme que alguns parlamentares mudem de opinião no dia do referendo. Por isso, quer articular estratégias para que a votação seja aberta. ;O Senado deve cumprir seu papel e não passar por esse constrangimento. Seria muito desgastante e vergonhoso para a instituição aprovar o filho do presidente para um dos principais postos da diplomacia;, destacou.

Sete senadores da comissão já se posicionaram a favor da nomeação, incluindo o presidente do colegiado, Nelsinho Trad (PSD-MS). Para ele, o chefe de missões diplomáticas do Brasil nos EUA tem de estar alinhado com as ideias do governo. ;É um ato discricionário do presidente. Ele acabou indicando uma pessoa, se é que isso vai se concretizar, que é muito próxima e deve dar sequência a esse alinhamento notório que tem com os EUA;, argumentou.

Romário (Podemos-RJ) segue essa linha de pensamento. Segundo ele, Eduardo ;tem algumas credenciais que fazem com que seja aprovado;. ;É o filho do presidente. Sendo assim, o tratamento será bem diferente, positivamente falando, do que seria dado a qualquer outro embaixador. Se depender do meu voto, será nomeado;, garantiu.

Para tentar garantir a aprovação, o governo estuda promover mudanças na composição inicial da comissão, mais especificamente no bloco formado por PSDB e PSL. Roberto Rocha (PSDB-MA), líder do partido no Senado, já foi consultado por interlocutores para substituir Mara Gabrilli (PSDB-SP) ; que deve votar contra a indicação ; por Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), irmão mais velho de Eduardo e um dos suplentes do bloco. Uma eventual troca não depende da vontade da senadora titular da CRE.

Incertezas

Dois senadores preferiram não se pronunciar enquanto o presidente não formalizar a indicação: Esperidião Amin (PP-SC) e Antonio Anastasia (PSDB-MG). Outro voto que também não está certo é o do congressista a ser escolhido para ocupar a quinta vaga da comissão destinada ao bloco parlamentar Unidos pelo Brasil, composto por MDB, PRB e PP. Líder do grupo, Amin terá de escolher entre Renan Calheiros (MDB-AL), Simone Tebet (MDB-RS), Ciro Nogueira (PP-PI), Vanderlan Cardoso (PP-GO) e Fernando Bezerra (MDB-PE).

Os cinco têm opiniões distintas. Líder do governo no Senado, Bezerra, por exemplo, apoia a indicação de Eduardo. Ele garantiu que ;apesar de toda a polêmica e o debate em torno dessa indicação, se for formalizada pelo presidente da República, o governo tem votos para aprovar tanto na comissão quanto no plenário;. Por sua vez, Tebet é contrária e diz que Bolsonaro ;comete um erro estratégico ao indicar o filho;. ;Há incerteza e dúvida entre alguns colegas. Independentemente de ser legal ou constitucional, eu não acho que seja moral;, opinou.


"É um absurdo que isso seja ao menos cogitado. Bolsonaro quer fazer do governo o quintal da sua casa, uma extensão familiar;
Randolfe Rodrigues, senador




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