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Bolsonaro volta a criticar Inpe

Presidente diz que Instituto não pode fazer "propaganda negativa do Brasil" ao divulgar números que mostram aumento de 68% no desmatamento da Amazônia. E determina que ministros discutam os dados com o diretor do órgão

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 22/07/2019 04:04
Bolsonaro participa de evento evangélico, entre a primeira-dama, Michelle, e Onyx Lorenzoni: questão ambiental é

O presidente Jair Bolsonaro voltou ontem a criticar os dados sobre desmatamento produzidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o diretor da entidade, Ricardo Galvão. Ao chegar a um restaurante, em Brasília, o presidente anunciou que vai designar um ministro para discutir com Galvão os dados de desmatamento que, na sua opinião, não correspondem à verdade. Ele acrescentou que seu governo não quer fazer uma ;propaganda negativa do Brasil;.

;Eu não vou falar com ele. Quem vai falar com ele vai ser o ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e talvez, também, o Ricardo Salles (Meio Ambiente). O que nós não queremos é uma propaganda negativa do Brasil. A gente não quer fugir da verdade, mas aqueles dados pareceram muito com os do ano passado, e deu um salto;, disse o presidente, horas antes de receber o ministro do Meio Ambiente no Palácio da Alvorada.

Bolsonaro afirmou que a questão ambiental no exterior é uma ;verdadeira psicose; e, em uma referência ao diretor do Inpe, disse não ser justo que um brasileiro faça uma campanha contra o país. ;Se o dado fosse alarmante, ele deveria, por questão de responsabilidade e patriotismo, procurar o chefe imediato, no caso o ministro;, disse o presidente. ;E não de forma rasa como ele faz, simplesmente coloca o Brasil numa situação complicada;, acrescentou.

Os dados preliminares de satélites do Inpe demonstram que mais de 1.000 km; da Floresta Amazônica foram derrubados na primeira quinzena deste mês, um aumento de 68% em relação a julho de 2018. Na sexta-feira, durante café da manhã com jornalistas estrangeiros, o presidente afirmou que os dados não correspondiam à verdade e sugeriu que Galvão poderia estar a ;serviço de alguma ONG;.

Acusação

No sábado, Galvão rebateu a acusação e disse que não pedirá demissão do cargo. Ele classificou como ;pusilânime; a postura do presidente de ;fazer uma acusação em público esperando que a pessoa se demita;. ;Eu não vou me demitir;, afirmou, em clara referência ao episódio que levou o então presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, a deixar o cargo após ser criticado pelo chefe de governo.

Galvão disse também que Bolsonaro ;não respeita a dignidade e liturgia do cargo;, se expressa ;como se estivesse em uma conversa de botequim; e que algumas declarações dele são ;piada de um garoto de 14 anos que não cabem a um presidente da República fazer;. Já o Inpe, em nota, afirmou que sua política de transparência permite o acesso completo aos dados e que a metodologia do instituto é reconhecida internacionalmente.

O Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou manifesto em apoio ao Inpe. ;Em ciência, os dados podem ser questionados, porém sempre com argumentos científicos sólidos, e não por motivações de caráter ideológico, político ou de qualquer outra natureza;, diz o texto do manifesto. ;Críticas sem fundamento a uma instituição científica, que atua há cerca de 60 anos e com amplo reconhecimento no País e no exterior, são ofensivas, inaceitáveis e lesivas ao conhecimento científico;, acrescenta o comunicado. O manifesto diz ainda que o ;Dr. Ricardo Galvão é um cientista reconhecido internacionalmente, que há décadas contribui para a ciência, tecnologia e inovação do Brasil;.

Ao retornar ao Alvorada, após o almoço, Bolsonaro anunciou que enviará um projeto de lei ao Congresso Nacional para legalizar a atividade do garimpo no país, sem dar detalhes. ;O garimpeiro é um cidadão que merece respeito, consideração, e obviamente a gente vai casar a exploração com a questão ambiental e botar um ponto final no mercúrio;, disse. No final da manhã, acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, Bolsonaro participou do evento ;Conquistando pelos olhos da fé;, na igreja Sara Nossa Terra.

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