Quase um terço das cadeiras do Congresso é ocupado por parlamentares do Nordeste, região que o presidente Jair Bolsonaro chamou pejorativamente de ;Paraíba;. Os 151 representantes nordestinos compõem a segunda maior bancada da Câmara, atrás apenas dos 179 do Sudeste. No Senado, são 27 parlamentares, três de cada estado.
No primeiro turno de votação da reforma da Previdência, na Câmara, 95 dos deputados do Nordeste avalizaram a proposta de emenda à Constituição (PEC) 6/2019, enquanto 53 foram contra. Três não participaram. A segunda rodada de votação está marcada para o início de agosto.
Pernambucano, o líder do Cidadania na Casa, Daniel Coelho, não acredita que, com a situação, a reforma perca algum dos 379 votos favoráveis que conquistou no primeiro turno. Além de a margem ter sido folgada, com 71 votos a mais do que era necessário, manter os posicionamentos, apesar de declarações do presidente, reforça o protagonismo do Congresso, conforme afirma. ;Hoje, o conceito de base aliada é diferente. Os deputados estão votando pelo mérito. O placar expressivo não tem a ver com deputados terem simpatia pelo presidente, mas pelo entendimento de que a pauta é importante;, explica.
Na avaliação do analista político Carlos Alberto Moura, da HC7 Pesquisas, a PEC da Previdência pode, sim, ser prejudicada pelo discurso agressivo de Bolsonaro. ;Os governadores do Nordeste titubearam quando o governo se propôs até a mandar mais dinheiro para os estados em troca de apoio. Com esse direcionamento, cheio de farpas, pode ser que os deputados sigam os mandatários e acabem voltando atrás;, frisa.
Fator de peso
Moura explica que ;deputados e senadores estão nas bases, sentindo o clima dos eleitores;. A proximidade das eleições municipais pode pesar na decisão dos deputados, cientes de que ;a sociedade não ficou satisfeita com as declarações;. Para o especialista, as bancadas mais propícias a mudar de opinião seriam Pernambuco ; governado por Paulo Câmara, do PSB ; e Maranhão ; unidade da Federação diretamente citada no discurso de Bolsonaro contra o governador Flávio Dino (PCdoB).
Não há nenhum parlamentar do PCdoB, de Dino, entre os apoiadores da matéria, em nenhum dos estados. No caso do PSB, partido do governador de Pernambuco, 11 votaram a favor, sendo dois deles do Nordeste. Outros três do PDT completam o grupo de cinco deputados nordestinos, de esquerda, favoráveis à reforma da Previdência. O número é pequeno e, na prática, a mudança de direcionamento de um ou outro não faria diferença no resultado final do segundo turno.
Sem interferência
Do PSB de Pernambuco, o deputado João Campos, que votou contra a PEC, diz que a reforma não tem nada a ver com o ;despreparo e com o desrespeito que o presidente tem com o Nordeste; e, por isso, a declaração não deve ter grande interferência. ;Para mudar de um turno para outro, é necessário ter uma justificativa mais plausível, mas mostra que o presidente não tem maturidade para cuidar do país;, critica.
O gerente de análise política da consultoria Prospectiva, Thiago Vidal, reconhece o potencial de impacto político de falas preconceituosas, mas também acredita que o efeito, na prática, pode não existir na Previdência. Para saber a real disposição que os deputados teriam de mudar o voto, é preciso analisar a vinculação de cada um ao governo estadual. ;É importante ver a qual segmento eles pertencem. Avaliar a região de origem não é suficiente, porque muitos dos parlamentares nordestinos fazem oposição aos governadores, fazem até propaganda contra;, ressalta.
Bancada nordestina
CÂMARA
151 deputados
Alagoas 9
Bahia 39
Ceará 22
Maranhão 18
Paraíba 12
Pernambuco 25
Piauí 10
Rio Grande do Norte 8
Sergipe 8
Votos na reforma da
Previdência, em primeiro turno:
A favor 95
Contra 53
Não votaram 3
SENADO
27 parlamentares
Alagoas 3
Bahia 3
Ceará 3
Maranhão 3
Paraíba 3
Pernambuco 3
Piauí 3
Rio Grande do Norte 3
Sergipe 3