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Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 24/07/2019 04:04


Os efeitos da estratégia
de Bolsonaro no Nordeste


Por mais desastrosa que a declaração de Jair Bolsonaro sobre nordestinos possa ter sido, a ausência do governador da Bahia, Rui Costa (PT), na inauguração do aeroporto de Vitória da Conquista, levou estrategistas do Planalto a comemorarem. A estratégia do pessoal que entrou em campo para gerenciar a crise aberta pelo próprio capitão reformado foi posta em prática na manhã de ontem e se limitava ao contraponto entre Bolsonaro e os chefes dos executivos regionais de oposição. Como ficou ao lado de aliados e de uma claque de convidados, e sem a presença de Costa, o presidente tentou se defender. Ganhou espaço nas tevês e na internet.

Agora, é esperar as pesquisas de opinião para avaliar qual o tamanho do desgaste com a declaração de Bolsonaro. A avaliação no núcleo do PT ; incluindo aí o senador Jaques Wagner (BA) ; é a de que Costa delimitou espaço e isolou o presidente. A popularidade do petista está em alta no estado, a ponto de um vídeo postado por ele para explicar a ausência ter ganhado visibilidade nas redes. Costa acusou o Planalto de ter selecionado os convidados, deixando a população de fora do evento. Também exaltou as administrações passadas, como a de Dilma Rousseff, responsáveis pela maior parte das obras.


Verificação I
Segundo monitoramento da Levels Inteligência em Relações Governamentais, nas redes sociais, as mensagens geradas por grupos favoráveis a Bolsonaro representaram 57% do monitoramento; em usuários únicos, esse número se manteve estável, 55%. A narrativa de maior abrangência na rede traçou críticas genéricas aos grupos que estariam se opondo ao presidente, 35%. Mensagens em defesa das críticas dele a governadores nordestinos ocuparam 10%, e repercutiram principalmente tuítes do próprio presidente e de sua equipe de governo, com destaque para o ministro Sérgio Moro.

Verificação II
As narrativas contrárias à declaração do presidente repercutiram em 43% da rede monitorada. Quando analisada em usuários únicos, a porcentagem desse grupo subiu para 45% da rede. A rede critica o chefe do Executivo por sua relação com o Nordeste. Para 28%, ele apresenta um histórico de suposto descaso com a região, tendo em vista que sua primeira viagem oficial ao Nordeste ocorreu em maio, cinco meses após a posse. As postagens enfatizaram o caráter preconceituoso das falas do capitão, 4%, e questionam se esta polêmica pode dificultar a aprovação da reforma da Previdência, que será votada em segundo turno em agosto.

Alertas
Segundo os analistas da Levels, a estratégia de comunicação do presidente é assertiva em mobilizar sua rede, mas perpetua a forte polarização que tem marcado o debate político, além de não fortalecer a narrativa de que governadores de oposição têm prejudicado o desenvolvimento do Nordeste. ;Nesse sentido, as visões regionalistas têm maior abrangência, destacando o caráter preconceituoso das falas do presidente, dificultando ainda mais a entrada de Bolsonaro na região.;


O problema; // Bolsonaro vai ter que se esforçar mais para ganhar o prestígio de lideranças do Nordeste do que os afagos dados na cerimônia de ontem, na Bahia. A estratégia do presidente em construir apoio na região esbarra não apenas na resistência de parlamentares da oposição, mas, também, de partidos de centro. Deputados da região dizem que o governo não vai ter suporte na base de agrados, que dirá no discurso de radicalização.

; é mais embaixo // O problema em construir apoio passa pelo Nordeste, mas vai além. Afinal, a construção da base governista no Parlamento está nos líderes. Na Câmara, tirando a oposição, oito partidos são liderados por deputados nordestinos que, juntos, comandam 184 deputados. São os casos do PSC, Cidadania, PP, PL, PSD, Solidariedade, DEM e PTB. E, por ora, é baixa a disposição para compor com o governo. O líder do Cidadania, Daniel Coelho (PE, foto), por exemplo, garante que
não há nenhuma pretensão do partido em ;ser governo;.

Opções contra greve I //O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, tenta encontrar soluções adicionais para os problemas dos caminhoneiros. Em contato com líderes da categoria, ele se dispôs a estudar o cumprimento da fiscalização da chamada Lei do Descanso. Prometeu que pediria para a equipe técnica da pasta comandar estudos que apontem para a eficácia da proposta.

Opções contra a greve II // O governo atribui os problemas do baixo custo do frete à oferta muito maior de caminhões do que a demanda pelos serviços. Caminhoneiros trabalham em média 16h por dia, o dobro das 8h diárias previstas na Lei do Descanso. Parte das lideranças da categoria sustenta que uma fiscalização dura o suficiente para punir quem descumpre a legislação pode, na ponta, equilibrar a oferta e demanda.

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