Danielle Santana/Diário de Pernambuco
postado em 29/07/2019 08:52
A decisão do ex-juiz Sergio Moro de divulgar parte da delação do ex-ministro da Fazenda do Governo Lula, Antonio Palocci, dias antes da eleição presidencial teve influência política, segundo mensagens trocadas por procuradores da Operação Lava-Jato.
As conversas obtidas pelo The Intercept Brasil mostram que o então juiz duvidava de algumas provas apresentadas por Palocci, mas apesar disso, considerava a colaboração do ex-ministro relevante por representar uma quebra dos vínculos entre os petistas.
Em 25 de setembro, o procurador Paulo Roberto Galvão comentou com seus colegas que "Russo comentou que embora seja difícil provar ele é o único que quebrou a omerta petista". Russo era o codinome utilizado pelos procuradores para se referirem ao atual ministro da Justiça, Sergio Moro. Já a palavra Omertà era associada aos petistas.
A procuradora Laura Tessler também não se mostrava confiante com a delação de Palocci "Não só é difícil provar, como é impossível extrair algo da delação dele", comentou com os colegas. A preocupação era compartilhada com o procurdor Antônio Carlos Welter, "O melhor é que [Palocci] fala até daquilo que ele acha que pode ser que talvez seja".
Delação premiada
No mesmo dia, Sergio Moro tinha recebido as provas entregues na delação e estava se preparando para divulgar um dos depoimentos do ex-ministro sobre a corrupção nos governos petistas. , após tentativas frustradas de conseguir um acordo com a Procuradoria-Geral da República e a força-tarefa à frente da Lava-Jato em Curitiba, as negociações duraram quase oito meses.
As mensagens analisadas pelo The Intercept e pela Folha de S. Paulo divulgadas, nesta segunda-feira (29/7), mostram que as negociações com Palocci foram encerradas após os procuradores concluirem que a delação do ex-ministro acrescentava pouco ao que os investigadores já tinham conhecimento, além de não incluir provas que justificassem os depoimentos que traziam novos fatos.
Segundo as mensagens, os procuradores chegaram a cogitar o pedido de anulação do acordo de Palocci com a PF, além de continuarem duvidando da real contribuição dos depoimentos após a divulgação dos termos pelo ex-juiz Sergio Moro, mas evitaram críticas públicas após a divulgação.