Plácido Fernandes
postado em 29/07/2019 11:22
Mesmo com o turbilhão de polêmicas abertas, diariamente, por declarações e tuítes de Bolsonaro, há um Brasil que, ainda muito lentamente, se movimenta e começa a deixar a crise para trás. Havia pouco, ninguém seria capaz sequer de imaginar, quanto mais prever, que esses avanços ocorreriam graças ao empenho do Congresso, historicamente marcado pelo alto grau de fisiologismo de grande número de parlamentares e partidos. Mas, de forma surpreendente, as reformas avançam no Parlamento, sobretudo devido ao empenho do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Com grande poder de articulação política, foi ele quem, até aqui, se colocou à frente e levou adiante a PEC da Previdência, a mais importante das reformas do ajuste fiscal, necessário para retirar o país do abismo em que mergulhou no governo de Dilma Rousseff.
Um dos efeitos do avanço na mudança das regras de aposentadoria ; hoje um dos mais perversos instrumentos de transferência de renda dos mais pobres para a elite do funcionalismo público ; foi a melhora da classificação do risco-país. Só a percepção do mercado de que a reforma será, de fato, aprovada, fez a nota do Brasil recuar ao menor nível em cinco anos, época em que tinha grau de investimento. Quanto mais baixa a nota, maior é a credibilidade externa no país e a confiança de que respeitará contratos e pagará as dívidas. Mas falta muito ainda ; principalmente a retomada do crescimento e a criação de empregos ; para que o país recupere essa espécie de selo de qualidade dado por agências de classificação de risco e que pode abrir caminho para o Brasil a receber grandes investimentos internacionais.
Paralelamente à tramitação da reforma da Previdência, o governo anunciou a liberação de recursos do FGTS para tentar estimular o consumo. Também pôs em prática um amplo programa de privatizações e anunciou medidas para a abertura do mercado de gás natural, com a expectativa de que a quebra de monopólio estatal no setor leve à redução do preço do produto, beneficie a indústria e contribua para retomada do crescimento. Analistas, porém, não veem grande perspectiva de que as medidas tenham impacto imediato na economia a tempo de evitar um crescimento pífio do PIB neste ano. Mas já é um bom caminho: mostra que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vai insistir na política de quanto menos burocracia e ingerência do Estado na atividade econômica, melhor.
Ingerência do Estado, aliás, só para tomar medidas como a que pretende forçar bancos a reduzirem as estratosféricas taxas de juros. Em entrevista ao Correio, o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, disse que a iniciativa faz parte da agenda prioritária do governo a ser colocada em prática neste segundo semestre. ;Vamos trabalhar para reduzir o spread bancário com várias medidas;, prometeu. O ;spread; é a diferença entre a taxa que o banco capta dinheiro e a que ele usa para emprestar. Um exemplo: R$ 1 mil na poupança leva 155 anos para se transformar em R$ 1 milhão, enquanto uma dívida de R$ 1 mil no cheque especial leva menos de cinco anos para virar um R$ 1 milhão. Se o Brasil se transformar numa economia liberal, como defende Guedes, a concorrência pode reduzir os juros no país a taxas civilizadas, como as cobradas dos cidadãos de economias de primeiro mundo.