Na manhã desta terça-feira (30/7), o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10; Vara Federal de Brasília, vai ouvir as quatro pessoas detidas, na semana passada, suspeitas de invadirem os celulares de centenas de autoridades brasileiras. A audiência começará às 10h e, após o interrogatório, o magistrado decidirá se liberta os hackers ou converte as quatro prisões temporárias, que expiram nesta quarta-feira (31/7), em preventivas.
Presos temporariamente pela Operação Spoofing desde a última terça-feira, Walter Delgatti Neto, líder do grupo, Danilo Cristiano Marques, Gustavo Henrique Elias Santos e Suelen Priscila de Oliveira são apontados pela invasão de mensagens atribuídas ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e ao procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato no Paraná, que teriam sido feitas durante as investigações da operação.
Na sexta-feira passada, o próprio juiz Vallisney de Souza havia prorrogado o período de detenção dos hackers em cinco dias, por entender que ;pelos respectivos interrogatórios, observa-se que os investigados deram diversas informações sobre os fatos em apuração, havendo ainda necessidade da continuidade das investigações para se almejar, conforme se conclui da representação policial e dos documentos juntados: o completo cenário e a profundidade das invasões praticadas;. Na decisão, o magistrado deu a entender que a liberdade de Delgatti Neto, Danilo Cristiano, Gustavo Henrique e Suelen Priscila representaria um perigo às investigações da Polícia Federal (PF).
Além de Moro e Dallagnol, o grupo teria tido acesso aos conteúdos de celulares dos presidentes da República, Jair Bolsonaro; da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha; além do aparelho da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Segundo a PF, a lista de hackeados pode chegar a mil nomes, incluindo juízes e delegados federais, procuradores e jornalistas.
Em depoimento à PF ainda na última semana, Delgatti Neto confessou a autoria das invasões e que repassou os diálogos de Moro e Dallagnol ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do The Intercept Brasil, por meio da ex-deputada Manuela D;Ávilla (PCdoB), candidata a vice-presidente da República na chapa do petista Fernando Haddad em 2018.
Com um histórico criminal extenso, o hacker responde a no mínimo 20 acusações de instituições policiais e da Justiça. Na maioria delas, é suspeito de estelionato.
Falsificação
Do inglês ;to spoof;, spoofing significa falsificar ou forjar. No mundo da tecnologia, um ataque de spoofing acontece quando um hacker falsifica informações e credenciais, seja para facilitar o acesso a um sistema, seja para ganhar a confiança de uma vítima na tentativa de extrair dela informações confidenciais.Investigação continua
Uma semana antes da prisão temporária dos quatro envolvidos na invasão dos celulares, o Ministério Público Federal (MPF) já havia concordado com um pedido da PF para que as investigações fossem prorrogadas em três meses. A solicitação não precisou de autorização judicial por ter ocorrido antes de a Operação Spoofing ser deflagrada. Se condenado, o grupo deve responder por associação criminosa, invasão de dispositivo informático e violação de comunicação telefônica. A pena para os três crimes pode chegar a nove anos de prisão.Com mais 90 dias para apurar as condutas dos hackers, os investigadores querem encontrar outros suspeitos de terem participado dos crimes. A PF suspeita que, além das quatro que já estão detidas, seis pessoas se envolveram nos ataques. Em nota oficial, os advogados de Delgatti até confirmaram que ;o conjunto das informações (obtidas pelo grupo de hackers) está devidamente resguardado por fiéis depositários, nacionais e internacionais;.
Nesta segunda-feira (31/7), Bolsonaro declarou que Glenn Greenwald também deveria ser investigado. Segundo ele, ;invasão de telefone é crime e ponto final;. ;Não tem o que discutir isso daí. Jornalista tem que fazer seu trabalho. Preservar o sigilo da fonte, tudo bem. Agora, uma origem criminosa, o cara quer preservar um crime, invadindo a República;, reclamou.
Para o presidente, ;em qualquer outro país, ele (Glenn) estaria já em uma outra situação;. ;No meu entender, isso teve transações, transações pecuniárias e, pelo que tudo indica, a intenção é sempre atingir a Lava-Jato, o Sérgio Moro, a minha pessoa;, disse.
Pelas redes sociais, Glenn se defendeu das acusações ao postar trechos da Constituição que garantem direitos à atividade jornalística. ;O presidente do Brasil, aparentemente com poucos problemas nacionais para resolver e pouco para fazer, deu uma entrevista esta manhã (nesta segunda-feira ; 29/7) novamente me atacando e sugerindo que eu era culpado de crimes. Eu não acho que ele entenda a Constituição ou que ele não é um juiz ou ditador;, escreveu o jornalista, em inglês.