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Suspeitos de hackear celulares de autoridades continuarão presos

Quatro investigados permanecerão detidos pelo menos até quinta-feira (1°/8), quando expira o prazo de prisão temporária expedido pela Justiça Federal

Augusto Fernandes
postado em 30/07/2019 12:52
Suspeitos de hackear celulares de autoridades continuarão presosA 10; Vara Federal de Brasília decidiu manter presos os hackers suspeitos de invadirem celulares de centenas de autoridades da República, após audiência de custódia feita na manhã desta terça-feira (30/7). De acordo com o titular da vara, juiz Vallisney de Souza Oliveira, as defesas dos quatro envolvidos no hackeamento de aparelhos como o do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o do presidente Jair Bolsonaro não apresentaram elementos que justificassem a suspensão das prisões temporárias, que expiram na próxima quinta-feira (1;/8). Dessa forma, os detidos permanecerão encarcerados até que haja uma nova decisão do juiz.

Walter Delgatti Neto, líder do grupo, Danilo Cristiano Marques e Gustavo Henrique Elias Santos seguirão presos na sede da Polícia Federal em Brasília. Já Suelen Priscila de Oliveira, que estava detida na Penitenciária Feminina da capital, a Colmeia, será transferida para a carceragem da PF. A justiça concordou com a mudança de presídio após um pedido da defesa, visto que Suelen alegou péssimas condições de encarceramento na prisão para mulheres.
Além disso, ficou estabelecido que cada um dos presos terá direito a 1 hora de banho de sol por dia. Desde que chegaram à Brasília, nenhum deles estava autorizado a ver a luz do dia. Outro pedido da defesa aceito pela Justiça Federal foi para que a Polícia Federal providencie as viagens de volta a São Paulo, para Gustavo Henrique e Suelen Cristina, e à Araraquara (SP), para Danilo Cristiano, em caso de soltura dos suspeitos. De acordo com os advogados, nenhum deles tem condições de arcar com os custos para retornar ao estado paulista.

Denúncia de maus-tratos


A audiência de custódia desta manhã teve duração de aproximadamente duas horas. O procedimento, previsto na Constituição, permite aos presos relatar o tratamento que receberam na prisão. Gustavo Henrique foi o primeiro a ser interrogado pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira e pela representante do Ministério Público Federal (MPF), a procuradora da República Márcia Brandão. Segundo ele, na terça-feira (23/7), dia em que Polícia Federal deflagrou a Operação Spoofing, ele foi desrespeitado pelos policiais, que o algemaram pelado.

"Estava dormindo quando os policiais estouraram a porta. Fui agredido verbalmente. Me chamaram de hacker, bandido e anunciaram a prisão. Só que eu não sabia o que estava acontecendo. Eu estava completamente nu e não me deixaram colocar roupa de jeito algum", lembrou.

Segundo o suspeito, ele não tentou resistir à prisão. Após algumas horas, os policiais deixaram que ele se vestisse. A partir daí, o investigado ficou algemado desde o momento em que os policiais o tiraram da sua casa até quando chegou no Aeroporto Internacional de Brasília, na noite daquela terça-feira.

"Durante a viagem inteira eu pedi para falar com meu advogado. Queria saber o que estava acontecendo, mas ninguém deixou. Só consegui contato quando estava na delegacia da Polícia Federal do aeroporto, e o advogado ligou para o delegado", afirmou Gustavo Henrique.

Do aeroporto de Brasília, ele foi levado à sede da PF. Lá, o tratamento dos policiais não foi adequado, segundo o investigado. "Ficaram fazendo piadinhas. Diziam que eu ia invadir os celulares deles e outras coisas. Isso sem contar que não me deixavam nem escovar os dentes", criticou.

"Prefiro morrer do que voltar para lá"


Esposa de Gustavo Henrique, Suelen Priscila foi a segunda a falar. Muito abalada, ela caiu nos prantos e declarou ser inocente. "Eu nunca fiz nada para ninguém", repetia constantemente. Ela confirmou a declaração do companheiro do momento de abordagem da PF à residência dos dois. "Nos trataram muito mal, como se fôssemos bandidos. Xingaram o meu marido e pediam para a gente ficar quietos. Tentávamos conversar com eles, mas ninguém respondia", comentou.

Assim que chegou à Colmeia, Suelen Priscila declarou ter sofrido bastante. "Fiquei sem papel higiênico, sem absorvente e tive de tomar água do chuveiro. Não me deram nada para dormir na primeira noite. Também me chamaram de má", contou.

A investigada disse ter se sentido humilhada. Ao advogado de defesa, Ariovaldo Moreira, afirmou que prefere a morte do que voltar à Penitenciária Feminina. "Não sei o que estou fazendo aqui. Não tenho nada a ver com isso", lamentou.

Com as denúncias dos suspeitos, a procuradora Márcia Brandão solicitou uma cópia dos depoimentos do casal e garantiu que o MPF vai pedir à corregedoria da Polícia Federal para abrir uma investigação que apure eventuais exageros da ação dos policiais que escoltaram Gustavo Henrique e Suelen Priscila.

Medo do avião


O terceiro a falar foi Danilo Cristiano. Ele comentou que estava em um curso de primeiros socorros quando foi abordado pelos policiais federais. A aula, segundo o suspeito, era obrigatória para que ele fosse contratado para trabalhar como eletricista em uma empresa de Araraquara. "No início, achei que era brincadeiral, porque não sabia o que estava acontecendo. Mas os policiais foram bem educados e não me agrediram", relatou.

Danilo Cristiano comentou que não entrou em contato com ninguém da família, com medo de que a mãe, "uma senhora de idade", passasse mal. "Eu não queria piorar a situação. Não tinha como explicar uma coisa que eu não sabia o que era", argumentou.

Durante a viagem à Brasília, Danilo Cristiano estranhou as condições do avião, que de acordo com ele, "era perigoso". Diferentemente dos outros investigados, ele não reclamou do tratamento dos policiais federais. "Foi normal. Tenho colchão e banho. A comida não é das melhores, mas é boa", disse.

"Livre e espontânea vontade"


Por fim, Walter Delgatti deu o seu depoimento. Ele também disse que não sofreu abuso por parte dos policiais.

"Estava em minha residência. Revistaram e me apresentaram o manado de busca. Sem algemar, nem nada, conversaram comigo e me levaram para o aeroporto. Me trataram superbem", contou.

Os policiais permitiram que ele ligasse para um advogado, e até "insistiram 20 vezes", de acordo com Walter. No entanto, ele não quis contato com a própria defesa. Além disso, afirmou que invadiu os celulares de autoridades.

"Tudo que fiz até agora foi por livre e espontânea vontade", afirmou.

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