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Para analistas, ao radicalizar discurso, Bolsonaro mira a reeleição

Com uma fatia de 33% do eleitorado que o avaliam como ótimo ou bom, segundo a última pesquisa Datafolha, Bolsonaro segue dentro dos 35% que tinha na última pesquisa de intenção de votos antes do primeiro turno, pela margem de erro

Rodolfo Costa
postado em 31/07/2019 06:00
Bolsonaro tem público fiel, mesmo com os discursos extremos deleO presidente Jair Bolsonaro não tem economizado no discurso radical. Nem vai. Com quase sete meses completos de governo, essa continuará sendo a tônica da gestão dele, que mira a reeleição, em 2022. Historicamente, chefes de Estado costumam, em algum momento, flexibilizar as declarações para agregar outros polos. Com uma fatia de 33% do eleitorado que o avaliam como ótimo ou bom, segundo a última pesquisa Datafolha, Bolsonaro segue dentro dos 35% que tinha na última pesquisa de intenção de votos antes do primeiro turno, pela margem de erro. Ou seja, nada contra a maré e impõe um jeito diferente de comandar o país.

;Bolsonaro já está em campanha, e as declarações mostram que o discurso está, dentro da estratégia dele, dando certo, pois ele não deixa surgir outro oponente dentro do espectro político ou em outro polo;, avaliou o cientista político e sociólogo Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A radicalização dele dificulta que nomes em gestação na direita para as eleições presidenciais se firmem, sejam da classe política, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sejam outsiders, como o apresentador Luciano Huck. ;Não conseguem se firmar em face do sucesso de Bolsonaro. Não da ideia embrionária, pois, na estratégia dele, está dando certo;, sustentou Baía.

A tática de Bolsonaro mantém a polarização política no país. ;E toda a estrutura feita por ele é de seguir assim, impedindo o surgimento de outros polos e a aglutinação de adversários que ficam entre esses polos;, destacou Baía. O chefe do Planalto desdenha publicamente de pesquisas, mas a equipe presidencial o alerta sempre que o eleitorado mais fiel a ele se mantém desde a corrida eleitoral. ;Só vai mudar se começar a perder esse público. E isso dependerá de resultados do governo. Se a economia melhorar, surgir eficiência governamental e políticas públicas, e, com isso, as pessoas sentirem que a vida melhorou, ele ganha mais apoio;, ressaltou o especialista da UFRJ.

Capital político

A fatura de resultados, entretanto, deve ser apresentada rapidamente. Para o cientista político Geraldo Tadeu, professor e coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), aumentou o número de pessoas que aprovam ou desaprovam o modo de governar. ;A parcela que migrou para a posição mais crítica subiu exponencialmente dos 100 para os 200 dias de governo;, frisou.

Dessa última pesquisa Datafolha, Tadeu destacou que, do eleitorado que aprova o governo, 36% consegue apontar algo positivo. Da parcela que desaprova, 76% indica que não teve nenhuma realização de destaque. ;Bolsonaro gasta o capital político de maneira absurda e não acho que há um cálculo estratégico em criar cortina de fumaça com esse temperamento autoritário. Os 7% que aprovam a reforma da Previdência são negativados pelos 9% que criticam o comportamento e a imagem pública dele;, disse.

No Congresso, líderes partidários avaliam a postura como negativa. ;Somos contra as declarações mais radicais, como em assuntos relacionados aos direitos humanos e à questão ambiental. Mas não vamos deixar que a radicalização contamine o partido;, alertou o líder do Cidadania na Câmara, Daniel Coelho (PE). As agendas econômica e de segurança ainda criam sinergia entre o governo e a bancada, mas os resultados serão cobrados. ;No tempo certo (vamos cobrar resultados). Nosso julgamento não vai se pautar na radicalização. E no que nós acharmos que está errado, vamos cobrar.;

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