postado em 02/08/2019 04:05
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) Cláudio Antônio Guerra, 79 anos, pelo crime de ocultação e destruição de 12 cadáveres, entre 1973 e 1975, por meio de incineração em fornos da Usina Cambahyba, em Campos, norte fluminense. Entre eles, o corpo de Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira, do pai do presidente da OAB, Felipe de Santa Cruz Oliveira.
No início da semana, o presidente Jair Bolsonaro declarou ter informações de que Fernando Augusto, que militou na organização Ação Popular (AP), teria sido morto pelos próprios companheiros. No livro Uma guerra suja, porém, o ex-delegado relata que, de 1973 a 1975, recolheu no imóvel conhecido como ;Casa da Morte;, em Petrópolis (RJ), e no Destacamento de Operação de Informação e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), na Tijuca, os corpos de 12 pessoas, levando-os para o município de Campos dos Goytacazes, onde foram incinerados. Um deles era o de Fernando Santa Cruz Oliveira.
Para o procurador da República Ghilherme Garcia Virgílio, autor da denúncia, Cláudio Guerra agiu por motivo torpe para ;assegurar a impunidade de crimes de tortura e homicídio praticados por terceiros, com abuso de poder e violação do dever inerente do cargo de delegado de polícia que exercia no estado do Espírito Santo;. Na ação, além da condenação do ex-agente, o MPF pede o cancelamento de eventual aposentadoria dele ou qualquer provento que receba em razão de ter sido agente público.
Guerra prestou diversos depoimentos à Procuradoria da República no Espírito Santo. Além da confissão, testemunhas e documentos confirmaram a autenticidade dos relatos. As 12 pessoas citadas por Guerra constam na lista de 136 dadas por desaparecidas nos termos da Lei n; 9.140, de 1995. O texto ;reconhece como mortas pessoas desaparecidas em razão de participação ou acusação de participação em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979;.
Em seu depoimento, Cláudio Guerra relatou que os órgãos de informação se preocupavam com as repercussões na imprensa quando eram encontrados corpos de pessoas eliminadas pelo regime. Nesse contexto, informou que sugeriu o forno da Usina Cambahyba como forma de eliminação sem deixar rastros.