Agência Estado
postado em 03/08/2019 08:02
O prefeito da capital fluminense, Marcelo Crivella (PRB), nomeou ontem, 2, Erick Marques Witzel, de 24 anos, filho do governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), para o cargo de assistente na Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual da Prefeitura. A nomeação expõe a aproximação entre Crivella e Witzel, bem como as agendas em conjunto que tiveram nas últimas semanas. Interlocutores não descartam um eventual apoio do governador à campanha à reeleição do prefeito.
O PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, entretanto, cobra o apoio de Witzel ao nome que será indicado pela legenda para concorrer à prefeitura do Rio no ano que vem. A sigla, que tem 12 deputados estaduais e é a principal base do governo no Legislativo, já anunciou a pré-candidatura do deputado estadual Rodrigo Amorim para o cargo. Witzel e Amorim aparecem juntos na foto que mostra o parlamentar quebrando uma placa com o nome da vereadora assassinada Marielle Franco.
"Wilson não tem eleitor. Teve zero votos. Foi Jair Bolsonaro que transferiu aqueles votos para ele", afirmou o vice-líder do governo na Alerj, deputado Alexandre Knoploch (PSL). "Se ele for apoiar o Crivella, vai estar até ridicularizando todos aqueles que votaram nele. Eu acredito que ele tenha caráter e seja leal àqueles que votaram nele." Segundo Knoploch, o governador garantiu há menos de um mês ao partido que irá apoiar Amorim.
O governador, por outro lado, já demonstrou interesse em se projetar nacionalmente. Em março, antes de completar 100 dias à frente do governo do Rio, Witzel externou em entrevista sua intenção de concorrer à Presidência em 2022. Ele disse ainda que havia conversado sobre o assunto com Bolsonaro, e que o presidente disse na ocasião que não pretendia se candidatar à reeleição. Em junho, no entanto, Bolsonaro falou mais de uma vez sobre a possibilidade de concorrer a um novo mandato em 2022.
"Somos uma coalizão conservadora capaz de enfrentar a esquerda colorida, a decadência e a turma de São Paulo (o PSDB, que busca palanque para o governador João Doria em 2022). Não há motivos para rompimento. Seria uma incoerência", diz Rodrigo Amorim.
No próprio PSC, partido do governador, há a possibilidade de ser lançada candidatura própria. Amorim recebeu proposta para se filiar ao partido, mas não aceitou. Para o líder do governo na Alerj e correligionário de Witzel, deputado Márcio Pacheco (PSC), a candidatura no Rio é um "caminho natural" da legenda, que, além de apostar num até então desacreditado Witzel na eleição do ano passado, lançou o hoje senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, para a prefeitura do Rio em 2016. Isso foi antes dele se filiar ao PSL - atualmente, é o presidente estadual da legenda.
"Tenho certeza de que o PSL saberá separar a eleição municipal da questão da governabilidade na Alerj", diz Pacheco. "Estamos conversando com o Amorim, que é um player muito importante, mas o governador entende que não é hora de falar em eleição." Knoploch, porém, diz que, caso Witzel abrace a reeleição de Crivella, não terá o apoio dele na Assembleia.
Filho
A coordenadoria para a qual Erick foi nomeado afirmou que ele já trabalhava havia três meses como voluntário e agora cumprirá, como assistente, expediente de 40 horas semanais, de segunda a sexta-feira. O salário é de R$ 1.695.
O coordenador especial de diversidade sexual, Nélio Georgini, divulgou uma nota em que afirma que a contratação não se deu "pelo sobrenome", e sim "por méritos próprios, pelo ativismo público e seu engajamento em defesa da comunidade LGBT e dos direitos humanos." Erick é transsexual.
No ano passado, ele ficou meses sem falar com o pai. O rompimento se deu ainda durante a campanha, segundo Erick, por divergências políticas. Após a eleição de Witzel, o filho afirmou que "perdeu o pai" quando viu a foto dele comemorando a quebra da placa com o nome de Marielle Franco.
Em maio, ele anunciou em suas redes sociais que havia voltado a falar com o governador. Era dia dos pais, e Erick publicou duas fotos em suas redes sociais ao lado do governador. "Por esses dias eu ouvi o seguinte: 'mesmo que eu e meu pai não concordássemos em nada, eu daria tudo para tê-lo aqui perto.' Foi um tapa na cara. (...) Preciso abrir esse caminho do diálogo", afirmou, destacando que não iria abandonar os ideais em defesa da comunidade LGBT+. Na quarta-feira passada, 31, ele foi com o pai, corintiano, ver o jogo do Flamengo no Maracanã. Apareceram abraçados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.