Pela primeira vez desde a exoneração do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, o presidente Jair Bolsonaro admitiu ontem que a decisão sobre a saída foi tomada por ele. De acordo com o chefe do Planalto, ;certas coisas eu não peço, eu mando, por isso eu sou presidente;. Ainda segundo Bolsonaro, ;mesmo que ele viesse provar que os dados estavam mesmo certos, não tinha mais clima;.
O presidente foi contra os dados apresentados pelo Inpe de que o desmatamento na floresta amazônica teria aumentado em 88% em junho deste ano em relação ao mesmo mês de 2018. Para Bolsonaro, Galvão deveria ter agido de forma diferente antes de divulgar o número. ;Não é a posição de um brasileiro que quer servir a sua pátria e que está preocupado com os negócios do Brasil. Eu acho até que se um funcionário como ele descobre um dado desse, ele tinha que chegar apavorado até para os ministros para falar olha o que vai estourar, o que a gente vai divulgar, o absurdo. Avisa o presidente para não ser surpreendido;, disse Bolsonaro.
Ao participar de culto em uma igreja evangélica de Brasília, Bolsonaro voltou a fugir das críticas de que cometeria nepotismo ao indicar o filho Eduardo para ocupar o cargo de embaixador do Brasil em Washington (Estados Unidos) e disse não ver problemas na nomeação de parentes para cargos políticos dentro do governo. O presidente também reclamou da ;mania; da imprensa de achar que ;todo parente de político não presta; e criticou os jornalistas por terem ;massacrado; Eduardo.
;Eu tenho um filho que está para ir para os Estados Unidos e foi elogiado pelo Trump. Vocês massacraram meu filho, a imprensa massacrou, (chamou de) fritador de hambúrguer. O Senado pode barrar, sim. Mas imagine que no dia seguinte eu demita o (ministro de Relações Exteriores) Ernesto Araújo e coloque meu filho. Ele não vai ser embaixador, ele vai comandar 200 embaixadores e agregados mundo afora. Alguém vai tirar meu filho de lá? Hipocrisia de vocês;, declarou. Apesar disso, ao ser questionado se pretende mesmo nomear Eduardo ministro no caso de reprovação do seu nome para embaixador, o presidente respondeu que não trabalha com essa hipótese. ;Não vou fazer isso.;
Coaf
De acordo com Bolsonaro, qualquer ministro do seu governo tem ;carta branca; para fazer as alterações que achar necessárias dentro das pastas. A declaração surgiu após o presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Roberto Leonel, que pertence ao Ministério da Economia, ser questionado devido a críticas que ele teria feito ao Supremo Tribunal Federal (STF), de suspender investigações que usem informações do Coaf, da Receita Federal e do Banco Central sem autorização judicial.
As ações afetadas pelo despacho da Corte são as que tratam de crimes financeiros, como o de lavagem de dinheiro. Presidente do STF, o ministro Dias Toffoli foi o responsável pela decisão, após atender a um pedido da defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidente da República.
;Eu dei carta branca a todos os ministros para, vamos assim dizer, indicar as pessoas e o poder de veto. O Coaf, na medida provisória da reestruturação estava com (o Ministério da) Justiça. A partir do momento em que vai para a Economia, é o Paulo Guedes quem define. Ou alguém está desconfiando do Paulo Guedes agora? Qualquer um que quiser mudar qualquer coisa, muda sem problema nenhum;, afirmou Bolsonaro. ;Eu quero é que o seu ministério dê certo;, frisou o presidente.