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Dallagnol estimulou apuração sobre Gilmar Mendes, sugerem conversas vazadas

Nova série de diálogos atribuídos a procuradores da Lava-Jato foi publicada nesta segunda-feira pelo site The Intercept

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 06/08/2019 16:13
Gilmar Mendes e Deltan DallagnolNova revelação de conversas pelo celular atribuídas a procuradores que atuaram na força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba, feita nesta terça-feira (6/8) em parceria do site The Intercept com o El País, indicam que, além de estimular a busca de informações sobre Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o coordenador do grupo, Deltan Dallagnol, demonstrou interesse também em descobrir irregularidades sobre outro ministro da Corte: Gilmar Mendes.

Os diálogos publicados agora começam em 19 de fevereiro deste ano, quando Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, apontado como operador financeiro do PSDB, foi preso. Os procuradores passaram, então, a cogitar a possibilidade de, nos documentos que autoridades suíças haviam recolhido sobre Souza, existir alguma prova contra Gilmar, que já havia concedido dois habeas corpus em favor do operador.

Nas mensagens, os procurados brincaram: "Vai que tem um (cartão) para o Gilmar... hehehe", escreveu o procurador Roberson Pozzobon. "Não que estejamos procurando. Mas vaaaai que.; Dallagnol, então, sugere que se faça contato com a Suíça: ;hummm acho que vale falar com os suíços sobre estratégia e eventualmente aditar pra pedir esse cartão em específico e outros vinculados à mesma conta;, afirmou. ;Talvez vejam lá como algo separado da conta e por isso não veio (...) Afinal diz respeito a OUTRA pessoa.;

Cientes de que, pela Constituição, não podem investigar um ministro do Supremo ; a atribuição é da Procuradoria-Geral da República (PGR) ;, os procuradores ressaltam a importância de não "dar a entender" que estão investigando Gilmar Mendes, como diz Dallagnol. Logo em seguida, segundo a reportagem, o procurador sugere que se analise telefones feitos por Paulo Preto para o Supremo. ;Vale ver ligações de PP pra telefones do STF;, escreveu.

Reação

[SAIBAMAIS]Na semana passada, após a divulgação de que Dallagnol teria estimulado apurações sobre Toffoli, uma série de decisões de ministros do STF foram interpretadas como uma reação aos diálogos vazados. Os ministros Luiz Fux e Alexandre de Moraes chegaram a solicitar que o material colhido com os suspeitos de hackear autoridades presos pela Polícia Federal seja encaminhado à Corte.

No domingo passado, em entevista ao Correio Braziliense, o ministro Gilmar Mendes fez duras críticas à Lava-Jato. Ao comentar a atuação atribuída a Dallagnol a respeito de Toffoli, disse: "A impressão que eu tenho é que se criou no Brasil um Estado paralelo, se a gente olhar esse episódio, para ficarmos ainda nas referências que o procurador faz. Dizer ;eu tenho uma fonte na Receita e já estou tratando do tema;, significa o quê? Significa ;estou quebrando o sigilo dele;. No fundo, um jogo de compadres. É uma organização criminosa para investigar pessoas. Não são eles que gostam muito da expressão Orcrim? ;Eu tenho um amigo na Receita que já está fazendo esse trabalho;. Veja bem, qual é esse trabalho? De quebra de sigilo".

O que dizem os procuradores

O Intercept e o El País procuraram a força-tarefa de Curitiba e questionou se os procuradores pediram informações aos investigadores na Suíça sobre possíveis ligações de Mendes e Paulo Preto. E, caso tenham encontrado elementos, se os enviaram à PGR. Por meio de nota, os procuradores afirmaram que "não surgiu nas investigações nenhum indício de que cartões da conta de Paulo Vieira de Souza tenham sido emitidos em favor de qualquer autoridade sujeita a foro por prerrogativa de função. Qualquer ilação nesse sentido, por parte de quem for, seria mera especulação. Em todos os casos em que há a identificação de pagamentos de vantagens indevidas e lavagem de ativos no exterior, o Ministério Público busca fazer o rastreamento do destino de todos os ativos ilícitos, para identificar os destinatários desconhecidos".

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