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Dividido, MP começa a avaliar conduta de Dallagnol na próxima semana

Duas das 10 queixas existentes contra o coordenador da Lava-Jato serão analisadas pelo CNMP na próxima terça-feira. Procuradores ouvidos pelo Correio têm opiniões divergentes sobre o colega

Jorge Vasconcellos
postado em 08/08/2019 06:01
Duas das 10 queixas existentes contra o coordenador da Lava-Jato serão analisadas pelo CNMP na próxima terça-feira. Procuradores ouvidos pelo Correio têm opiniões divergentes sobre o colegaMembros do Ministério Público (MP), ouvidos pelo Correio, expressaram opiniões opostas sobre a conduta do procurador Deltan Dallagnol à frente da força-tarefa da Lava-Jato. Festejado como o coordenador da maior operação de combate à corrupção da história do país, ele está no centro da crise aberta com a série de reportagens do site The Intercept Brasil, baseadas em mensagens vazadas do Telegram. No Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), é alvo de um Processo Administrativo Disciplinar e de nove Reclamações Disciplinares, seis delas relacionadas ao vazamento dos diálogos.

O CNMP, presidido pela Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, é o órgão encarregado de fiscalizar a atuação dos procuradores e promotores. A próxima reunião ordinária do colegiado está marcada para a próxima terça-feira (13/8), e inclui a análise de duas das 10 queixas contra Dallagnol, nenhuma delas relacionada à mensagens vazadas.

Renan e Toffoli

[SAIBAMAIS]A primeira delas é uma Reclamação Disciplinar aberta a pedido do senador Renan Calheiros (MDB-AL), que acusa o procurador de fazer contra ele acusações falsas desde 2017, ainda no período pré-eleitoral, "em nítida tentativa de influenciar o resultado do pleito", segundo trecho do documento. Em março, ao anunciar a reclamação disciplinar pelo Twitter, Calheiros chamou Dallagnol de "pistoleiro de reputações".

No CNMP, as reclamações disciplinares são abertas pelo corregedor nacional do Ministério público, cargo hoje ocupado por Orlando Rochadel. É através da análise do voto do corregedor que o plenário decide abrir ou não um Processo Administrativo Disciplinar, o chamado PAD.

Um procedimento desse tipo também está na pauta da próxima sessão do colegiado. Ele resulta de uma queixa apresentada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e está relacionado a uma entrevista concedida por Dallagnol à rádio CBN, em 2018, na qual ele afirmou que a Suprema Corte passa a mensagem de leniência a favor da corrupção em algumas de suas decisões.

Opiniões divergentes

Após a divulgação de diálogos por parte do Intercept, as opiniões de colegas sobre Dallagnol se dividiram. "Toda essa retaliação já era esperada, e é idêntica à que se viu, na Itália, após a Operação Mãos Limpas, que desbaratou um enorme esquema de corrupção", afirma Francisco Dirceu Barros, procurador-geral de Justiça do Ministério Público de Pernambuco.

"Na Itália, após a operação, a sociedade se voltou contra o Ministério Público, que sofreu um enorme desgaste, e no Brasil a Lava-Jato também está sendo alvo de retaliação, por ter investigado e prendido poderosos. O MP está pagando um grande preço pelo excelente trabalho que tem feito na Lava-Jato", diz Barros, acrescentando não ter visto nenhum sinal de irregularidade nos diálogos divulgados até agora.

Há quem pense diferente, no entanto. "Vejo com muita consternação o que considero trágico e que mancha a história do Ministério Público, uma instituição que foi criada pela Constituição de 1988 com a missão de defender a ordem jurídica nacional e que hoje está envolvido em investigações extrajudiciais, completamente ilegais, e cujos procuradores recebem ordens de um juiz e as cumprem. A missão do Ministério Público é fiscalizar a atuação dos juízes, não obedecer suas ordens;, afirmou o promotor de Justiça do Estado de São Paulo Gustavo Costa, antes de destacar que as ;ilegalidades cometidas no âmbito da Lava Jato podem resultar na anulação de condenações já proferidas;.

Rogério Greco, procurador de Justiça aposentado de Minas Gerais, considera que Dallagnol e outros integrantes da Lava-Jato estão sendo alvo de ;uma perseguição absurda; por terem, pela primeira vez na história jurídica do país, colocado poderosos atrás das grades, acusados de corrupção. Ele disse não ter visto nos diálogos vazados nenhum indício de irregularidade e destacou que os membros do Ministério Público são autônomos e independentes. ;Espero que o CNMP leve em contra esse princípio ao julgar os procedimentos relacionados ao procurador Dallagnol;, concluiu.

;Tudo isso que está acontecendo, modéstia à parte, eu previa há muitos anos atrás, que essa fúria investigatória, esse seletivismo penal do Ministério Público fosse conduzir a situações assim. Claro que assusta, indigna, mas não surpreende, porque eu acho que essas coisas foram riscos não calculados que esse punitivismo penal acabou nos levando. Quando a gente saiu da casinha, que era a casinha jurídica, pra casinha policialesca, o preço foi alto;, disse o ex-procurador de Justiça Roberto Tardelli.

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