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Reforma tributária: propositores têm grandes desafios pela frente

Propositores que querem, finalmente, concretizar mudanças no sistema de impostos, taxas e contribuições têm a tarefa de fazer com que o debate não se perca e não acabe adiando novamente a reforma. Representantes do comércio querem celeridade

Rodolfo Costa
postado em 12/08/2019 06:00
Luis Miranda (DEM) acredita que a taxação de lucros e dividendos vai pautar as discussões no CongressoA difusão de reformas tributárias deixa dúvidas sobre qual projeto vingará. Para alguns, as incertezas colocam em xeque se existirá consenso para aprovar alguma matéria sobre o tema ou se, em mais uma gestão, a modernização do sistema tributário continuará na conversa e no papel. Nesta semana, quando o governo encaminha ao Congresso sua Proposta de Emenda à Constituição (PEC), o texto se junta à PEC 45, na Câmara, e à PEC 110, no Senado. Outra deve ser encaminhada nos próximos dias, a dos governadores, chegando a quatro proposições. Em meio a tantas sugestões para um mesmo assunto ; apesar de cada uma ter as suas diferenças ;, dois movimentos confluentes estão surgindo com a intenção de amarrar as pontas e construir consenso.

Representantes da União Nacional das Entidades do Comércio e Serviços (Unecs) estiveram em Brasília na última quarta, dia 7, conversando com parlamentares e integrantes da equipe econômica para negociar um ponto de equilíbrio. Nos últimos dois meses, ouviram os autores técnicos por trás de todas as propostas em debate, incluindo o economista Bernard Appy, que propôs a PEC 45, e chegaram à conclusão de que o melhor caminho a ser conduzido é apoiar um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) que unifique apenas impostos federais e um outro estadual, que funda o ICMS e o ISS, chamado de IVA Dual.
Os líderes empresariais estão se posicionando como mediadores entre o governo e o Congresso, mantendo uma relação próxima do secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, e do deputado federal Efraim Filho (DEM-PB), presidente da Frente Parlamentar do Comércio, Serviços e Empreendedorismo. ;Efraim tem ligação próxima com (Rodrigo) Maia (presidente da Câmara) e vai ouvir a voz dos empresários. E o Marinho está trabalhando para amarrar as contas. Esperamos que dê certo;, sustenta o presidente de uma das entidades da Unecs.

Outro movimento convergente ao construído entre Marinho, Efraim e os empresários, está sendo capitaneado pela Frente Parlamentar da Reforma Tributária. A bancada vai apresentar na próxima quarta, 14, na Câmara, uma quinta PEC. No entanto, a promessa não é de pulverizar mais o debate, mas aglomerar os melhores pontos entre as outras quatro matérias.

Desoneração

Em um mesmo texto, será proposto um IVA federal, unificando o PIS, Cofins, IPI, CSLL e IOF, e um IVA Dual, proposta que tem a simpatia dos secretários de Fazenda. Eles querem uma reforma sobre o ICMS e o ISS em um único texto, e não dividido em duas etapas. A proposta da bancada tributária, de certa forma, também se assemelha à PEC 110, do Senado, que unifica tributos, mas cria competências distintas, possibilitando que estados e municípios versem sobre suas alíquotas.

A minuta do projeto à qual o Correio teve acesso com exclusividade sugere, como o governo, um Imposto sobre Movimentações Financeiras (IMF), que começaria incidindo em 0,1% sobre cada operação financeira e terminaria o período de transição, de sete anos, em 0,5% ; mesma alíquota proposta pelo governo. O presidente da Reforma Tributária, deputado Luis Miranda (DEM-DF), rechaça as comparações com a CPMF e explica que o tributo será utilizado para deixar a alíquota do IBS federal em 5%.

;Na PEC 45, juntando só os impostos federais, a tributação fica em 10% nos cálculos do economista Bernard Appy, criador do projeto. O governo fala que ficaria em 15%. Nossa frente propõe 5%. Mas a desoneração do consumo só é possível tendo alguma fonte para equilibrar a renúncia fiscal ;, sustenta.
A proposta do governo sugere o uso do IMF para desonerar a folha de pagamento e incentivar os investimentos. Na proposta da bancada, os recursos de incentivo ao empresariado viriam da redução do Imposto de Renda às empresas. A renúncia seria suprida via tributação escalonada sobre lucros e dividendos, começando em uma alíquota de 4% que chegaria a 20%. ;Uma parcela significativa da direita e todos da esquerda dizem que, sem o retorno dos lucros e dividendos, não vão votar a reforma. Estamos solucionando isso;, pondera Miranda.

Quarteto tributário

Confira o resumo das reformas discutidas até o momento:
PEC 45:
; Unifica o IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS em um, o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).
; Transição de 10 anos e alíquota de 25% ao fim do período;
; Comitê gestor responsável pela arrecadação do tributo e distribuição da receita é composto por representantes da União, dos estados e municípios.

PEC 110:
; Unifica o IPI, PIS, Cofins, IOF, CSLL, Salário-Educação, Cide, ICMS e ISS em um, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA);
; Transição de 5 anos e alíquota de 25% ao fim do período;
PEC dos governadores:
; Mantém os mesmos princípios da PEC 45, mas estabelece que os entes federados possam diminuir incertezas em relação à arrecadação e à política de isenções fiscais, e prevê um comitê gestor sem a presença da União.

PEC do Guedes:
; Unifica apenas impostos federais, o PIS, Cofins, IPI, CSLL e IOF em um, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA);
; Corrige o Imposto de Renda para empresas e consumidores
; Cria o Imposto sobre Movimentações Financeiras (IMF), que tributa transações financeiras de ponta a ponta, tanto por quem paga, quanto por quem recebe.

Simplificação é fundamental

Em comum entre todas as reformas tributárias, em tramitação no Congresso ou não, está a simplificação por meio da unificação de impostos incidentes sobre bens e serviços. Hoje, com a pulverização de impostos, o consumo é taxado, em média, em aproximadamente 50%, uma vez que cerca de metade da carga tributária brasileira vem da cobrança sobre bens e serviços, aponta a Associação Nacional de Auditores da Receita Federal (Anfip).

É aí que entra a importância de uma reforma tributária. A PEC 45, por exemplo, propõe reduzir pela metade os gastos atuais, por meio da unificação de três tributos federais, IPI, PIS e Cofins, um estadual, o ICMS, e um municipal, o ISS, em um, o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Ao fim do período de transição, de 10 anos, a alíquota única sobre o consumo chegaria a 25%.

A PEC 110, do Senado, é semelhante à da Câmara. Mas, além dos tributos previstos na PEC 45, inclui, ainda, a unificação do IOF, CSLL, Salário-Educação e Cide. Da fusão de todos eles, seria criado um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) de competência estadual e outro, de competência federal. O consumidor seria beneficiado com uma redução da tributação semelhante, próxima, também, de 25%.
A proposta dos governadores, elaborada pelos secretários de Fazenda dos 26 estados e do Distrito Federal, é ainda mais parecida com a PEC 45. A diferença é a previsão de os entes federados poderem diminuir incertezas em relação à arrecadação e à política de isenções fiscais.

A mais diferente é a do governo, que prevê a unificação de apenas impostos federais, o PIS, Cofins, IPI, CSLL e IOF. Estabelece, ainda, outros dois tripés, uma reestruturação do Imposto de Renda e a criação de um Imposto sobre Movimentações Financeiras (IMF), que tributa transações financeiras de ponta a ponta, tanto por quem paga, quanto por quem recebe, algo análogo à extinta Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

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