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Em novas mensagens vazadas, Deltan usa movimentos para pressionar STF

Segundo o site The Intercept, o procurador usou de grupos políticos para pressionar decisões no governo

Deborah Fortuna
postado em 12/08/2019 14:10

foto do procurador Deltan Dallagnol Novas mensagens dos procuradores da Lava-Jato, divulgadas pelo site The Intercept nesta segunda-feira (12/8), mostram que o procurador Deltan Dallagnol utilizou movimentos sociais para pressionar decisões políticas do governo e do Supremo Tribunal Federal (STF). Veja alguns dos pontos mais importantes:


Vaga no STF

Após a morte do ministro e então relator da Lava-Jato no STF, Teori Zavascki, os procuradores da operação discutiram nos grupos do Telegram quem seria o melhor magistrado para assumir os processos da operação na Suprema Corte. Para ocupar o cargo, o ministro deveria ser da Segunda Turma ; a mesma de Teori. No entanto, nenhuma das opções agradava aos procuradores: Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski ou Celso de Mello.

Com o líder do movimento social Mude, Fabio Alex de Oliveira, Deltan relatou uma conversa que teve com um integrante de outro movimento político. "Falei os 4 que seriam ruins, que Toff, Lewa, Gilm e Marco Aur". O Mude chegou a pedir uma orientação sobre quem seria o ministro ideal para ocupar o cargo, mas o procurador respondeu que "não podemos nos posicionar. Queimamos a pessoa rsrsr".

Segundo o The Intercept, Deltan delegou a movimentos sociais a tarefa de pressionar o STF a não definir a questão por sorteio, o que seria uma "roleta russa". "Se houver um movimento social, sem vinculação conosco, contra o sorteio, aí pode ter algum resultado...", avaliou o procurador Paulo Roberto Galvão.

Em 1; de fevereiro, o ministro Edson Fachin, então da Primeira Turma, pediu a transferência para a Segunda. Em uma conversa privada, Deltan discutiu a mudança com a procuradora da República Anna Carolina Resende. "Deltan, fale com Barroso. Insista pra ele ir para 2; Turma", ela escreveu. "Fachin não é ruim, mas não é bom como Barroso", acrescentou Resende.

Em uma conversa com Patrícia Fehrmann, cofundadora do Mude, Deltan diz que "seria bom" que os movimentos sociais replicasse uma postagem do jurista Luis Flavio Gomes nas redes sociais. No texto, Gomes atacava Mendes, Lewandowski e Toffoli. Dallagnol também pediu que Ferhmann procurasse o Vem Pra Rua para reproduzir a mensagem. "Só não me citem como origem, para evitar melindrar o STF".

Como Fachin foi transferido e sorteado relator da Lava-Jato, Dallagnol comemora ao escrever a Fabio Oliveira: "Fachin foi coisa de Deus".

Segunda instância

As mensagens mostram que outra preocupação dos procuradores da Lava-Jato era o voto do ministro Alexandre de Moraes, que havia sido indicado pelo presidente Michel Temer a ocupar a vaga deixada por Teori, sobre a prisão após condenação em segunda instância. Tal decisão poderia beneficiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que poderia recorrer a outras instâncias em liberdade. Como a Corte já havia votado em 2016 o mesmo assunto, e apenas Alexandre não havia participado, os procuradores já sabiam a tendência do voto dos outros ministros.

"Quanto à execução provisória, temos que deixar mais caro pro Alexandre de Moraes mudar de posição", escreveu Deltan à procuradora da República, Thaméa Danelon. "Temos que reunir infos de que no passado apoiava a execução após julgamento de SEGUNDO grau pros movimentos baterem nisso muito", completou Deltan. "Ok, eu posso passar para os movimentos. Para o Vem Pra Rua e Nas Ruas", respondeu Danelon.

Em conversa com um assessor que não teve nome divulgado, Deltan reforça a necessidade de mostrar a posição de Alexandre de Moraes. O assessor rebate o cuidado com a manifestação da força-tarefa sobre o assunto. "Qualquer manifestação da FT sobre o assunto agora vai ser usada pelo PT e aliados para repetir a ladinha de que a LJ persegue Lula", escreveu o assessor. "Alimentar ; discretamente ; os movimentos sociais e até a imprensa me parece mais ;seguro;", opinou.

"Se tivermos um vídeo bem claro, será top", disse Dallagnol. "Um vídeo viralizaria", acrescentou. "É exatamente isso que estou procurando agora, um vídeo", respondeu o assessor.

Horas depois, o assessor encontra um vídeo no qual Alexandre é sabatinado pelo Senado, antes de assumir vaga no STF, no qual o ministro diz que é a favor da prisão após segunda instância. "Cortei o vídeo ;grosseiramente; para deixar só a fala sobre execução provisória. Não acrescentei legenda, nada, e reduzi a resolução para viralizar mais fácil", diz o assessor. "E pelo visto dra. Thaméa já acionou o Vem Pra Rua", contou ao mostrar um vídeo publicado na página do Facebook do movimento social em que pede que a sociedade pressione o STF para que vote a favor da prisão.

Em conversa com outros procuradores, Deltan pede para Danelon passar o vídeo para outros movimentos. "Você acha que posso compartilhar?", perguntou a procuradora. "Da para compartilhar dizendo: certamente Alexandre de Moraes vai votar pela prisão... não teria razão para mudar de opinião que tem desde 2009 agora...", sugeriu Deltan. "É uma mensagem que deposita confiança e, ao mesmo tempo, empareda", disse. E logo em seguida acrescentou: "Esse vídeo tem que viralizar! Seria bom se fizessem uma edição bacana para circular..." e: "Se puder, assume a sugestão como sua. Quando menos força-tarefa da Lava-Jato aparecer nisso, melhor." "Nem menciono seu nome", completou Danelon.

Lista Tríplice

As mensagens também mostram que Deltan fez campanha para que o jurista Nicolao Dino fosse o primeiro nome da lista tríplice para assumir a Procuradoria-Geral da República (PGR), logo após a saída de Rodrigo Janot.

Quando conseguiu que Dino fosse o primeiro colocado, pediu apoio aos movimentos sociais para que Temer o escolhesse: "Vocês conseguem articular com o Vem Pra Rua e outros uma campanha pra escolha do mais votado, com a hashtag e tal?", perguntou no grupo nomeado de "Grupo #Mude".

No entanto, Temer optou por Raquel Dodge, o segundo nome mais votado da lista tríplice. Com Ana Carolina Resende, Deltan lamentou: "Eu já estava falando com os movimentos em favor de uma campanha". E depois acrescentou : "Não comente isso".

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