Leonardo Cavalcanti
postado em 16/08/2019 15:12
Depois de quatro intermináveis horas de tensão com os delegados da Polícia Federal, Jair Bolsonaro decidiu recuar na queda-de-braço com a corporação. ;Ufa;, escreveu um delegado pouco antes das 13h num aplicativo de mensagens instantâneas. O presidente finalmente parecia ter desistido do combate, numa indicação de que toda fanfarronice tem limite.
A escalada de tensão entre a Polícia Federal e Bolsonaro começou ainda na manhã de quinta-feira, durante a agora tradicional coletiva das manhãs no Palácio do Alvorada. O capitão reformado anunciou a troca de comando na chefia da regional fluminense: ;Vou mudar, por exemplo, a superintendência da PF no Rio. Motivo? Gestão e produtividade;, disse.
A declaração pegou a corporação de surpresa, até porque a troca estava decidida entre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. E nunca envolveu questões relacionadas à produtividade. A fala improvisada foi criticada por entidades sindicais por causa da tentativa de interferência do presidente nos trâmites internos da PF.
A tensão aumentou de maneira exponencial na manhã de hoje, quando Bolsonaro de maneira desavisada voltou à carga, desautorizando dessa vez a escolha de Carlos Henrique Oliveira, lotado em Pernambuco, para substituir Ricardo Saadi, o atual chefe da superintendência do Rio. Se existiam dúvidas na tentativa de Bolsonaro em interferir na PF, parece evidente.
Se o rastilho de pólvora havia sido aceso na quinta-feira, na manhã de hoje chegou perigosamente perto do barril. Ao longo de uma série de reuniões presenciais nas superintendências regionais em todo o país ; e nos grupos de WhatsApp ;, os delegados, antes surpresos, estavam indignados, prestes a ameaçar uma rebelião sem precedentes.
As conversas entre os delegados giravam sobre o autoritarismo desassisado de Bolsonaro e uma eventual fraqueza de Valeixo. A questão crucial: o presidente estava transformando uma corporação de Estado numa entidade de governo, refém de caprichos de um político cada mais controverso e vingativo. Ao mesmo tempo, existia a esperança de que Valeixo se impusesse.
A questão principal era que, ruim com Valeixo pior sem ele. O receio nas quatro horas era de que o diretor-geral pedisse demissão e Bolsonaro ficasse com a avenida aberta para indicar um delegado que, a partir dali, só diria ;sim; ao presidente. Moro entrou em campo no final da manhã quando sentiu que o próprio cargo estaria ameaçado com a rebelião na PF.
Assim, Bolsonaro voltou a procurar os jornalistas. E disse que para ele era indiferente quem substituiria Saadi. ;Eu sugeri o de Manaus. Se vier o de Pernambuco não tem problema, não. Tanto faz para mim.; A paz, a partir do recuo do presidente, voltou a reinar. Pelo menos por ora. Um ;ufa; provisório, digamos.