postado em 19/08/2019 04:26
Países dependentes de commodities brasileiras e que mantêm boas relações bilaterais, como os asiáticos, não se sentem incomodados pelos recentes posicionamentos de Bolsonaro. A China, por exemplo, considera que o relacionamento com o Brasil melhorou de abril até agosto. ;Como acabaram os ataques, melhorou muito a relação. Como desejam impulsionar o agronegócio, eles até gostam do posicionamento do presidente;, afirma um parlamentar brasileiro com trânsito entre os chineses.A narrativa de Bolsonaro de desenvolvimento econômico com preservação e sustentabilidade não afugenta os asiáticos. O presidente da Frente Parlamentar Brasil-Japão, Luiz Nishimori (PL-PR), pondera que, em São Paulo, o Brasil consegue atingir níveis de 94% de reaproveitamento e reciclagem de defensivos agrícolas nas lavouras. ;Antigamente, era jogado fora. Hoje, recolhe e recicla. A Alemanha tem uma taxa de 70%, e os Estados Unidos, de 30%. O Japão é um grande parceiro do Brasil e deseja manter essa relação;, destaca.
Já o impacto das declarações de Bolsonaro no mundo é atenuado pelo coordenador de pós-graduação do Mackenzie, Márcio Coimbra, ex-diretor da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) na atual gestão. ;A narrativa criada pelo presidente busca aproximá-lo de líderes e governos que dividem a mesma visão de mundo, ao mesmo tempo que aposta na renovação pela direita em países que hoje são objeto de suas críticas;, pondera.
Impacto
As colocações, no entanto, geram apreensão. Como a imagem do país está associada à figura do presidente em eventos mundiais, elas impactam negativamente, com consequências grandes e riscos de boicote aos produtos nacionais, analisa o cientista político Paulo Calmon, professor da Universidade de Brasília (UnB). ;Essas declarações têm o potencial de afetar diferentes áreas. Mas pode ser revertido. Países em desenvolvimento costumam ter uma visão estratégica da sua imagem no exterior e envolvem equipes de especialistas no sentido de se apresentar como sério e crível junto ao mercado internacional;, avalia.
O cientista político Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice, avalia que o discurso de Bolsonaro não tem nenhum tipo de surpresa. Mas reconhece que o país não precisa abrir um confronto verbal com nações de primeiro mundo. ;Ele sempre foi assim, sempre teve discurso radical e acredita nessas coisas. Não é novidade, mas é importante desenvolver a política externa de forma mais cautelosa. Esse tipo de discurso acaba tendo repercussão grande internacional. Parece que está descuidando do meio ambiente, e essa imagem é negativa;, conclui. (RC e IS)