Na sua avaliação, não se deve complicar o clima entre os dois blocos com questões que não estão no acordo comercial. ;Para isso, é importante o ambiente que vamos criar. Se vamos fazer uma política de confronto, não estamos servindo ao acordo, que estabelece uma relação de proximidade entre a União Europeia e o Mercosul, em um momento em que o livre comércio está posto em questão por todo mundo;, afirmou Ybañez, ao comentar, também, a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.
;Claro que é um processo político, pois envolve os parlamentares que vão analisar, em primeiro lugar, pelo valor do acordo. Qualquer coisa que introduza uma dificuldade na relação entre a União Europeia e o Mercosul vai ser uma dificuldade para a ratificação. Se os políticos, que serão eleitos no parlamento europeu, começarem a fazer declarações contra o Brasil ou a Argentina, a percepção não vai ser positiva;, disse, mas destacou que os fatos são mais importantes do que as declarações, ao ser questionado, por jornalistas, sobre os efeitos de falas polêmicas do presidente Jair Bolsonaro. ;Em campanha, o presidente Bolsonaro dizia que a prioridade eram os Estados Unidos, mas a primeira ação concreta foi o acordo com a União Europeia;.
Na semana passada, após a Alemanha congelar doações de R$ 155 milhões ao Brasil para projetos de proteção à Amazônia, depois de manifestar preocupação com o ritmo do desmatamento na Amazônia, Bolsonaro mandou a chanceler alemã, Angela Merkel, usar o dinheiro no reflorestamento daquele país. Um dia depois da fala de Bolsonaro, o governo da Noruega tomou a mesma decisão e bloqueou repasses de R$ 133 milhões para o combate ao desmatamento, também no âmbito do Fundo Amazônia.
Dados recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que a área desmatada aumentou 40% entre janeiro e agosto, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Em outro episódio envolvendo uma autoridade europeia, no início do mês, Bolsonaro decidiu fazer uma live enquanto cortava o cabelo em horário que estava reservado, em agenda, para um encontro com o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian.
Meio Ambiente e Direitos Humanos
O novo embaixador explicou que tanto o Acordo de Paris como todas as convenções internacionais sobre direitos humanos ou indígenas, assinadas pelos pelos dois blocos, integram o acordo comercial firmado em Bruxelas, no final de junho . Na avaliação do embaixador, ;o melhor elemento para respeitar os compromissos internacionais é a ratificação do acordo comercial, que será uma garantia de que os países envolvidos vão seguir valores e princípios que, ao integrarem o acordo comercial, passam a ser comuns;.
Ele disse, ainda, que um dos compromissos é não apenas assinar, mas também cumprir o acordo de Paris. ;Há um acordo entre as duas partes e o que está lá tem que ser defendido com a mesma intensidade e convicção, pois foi aceito pelas duas partes e não há como modificar;. O embaixador explicou que, uma vez parte do acordo comercial, os compromissos ambientais, indígenas e de direitos humanos passam a ser, também, referências de cuprimento, inclusive, do acordo Mercosul-União Europeia.
Ybañez explicou que a parte comercial do acordo não pode mais ser modificada e deve ser aprovada ou rejeitada pelo parlamento europeu, como de praxe em outras negociações do bloco. A parte política, no entanto, que inclui o acordo climático e demais convenções, em análise jurídica na Comissão Europeia, pode precisar da análise e aprovação dos parlamentos nacionais, tal qual ocorre atualmente com a acordo firmado pela União Europeia e o Canadá.
;O meio ambiente é um bom exemplo de que precisamos de um bom acordo, mas também as denominações de origem. É importante que haja um bom entendimento entre os países durante o processo de ratificação. Essa mensagem foi compreendida e compartilhada pelas autoridades brasileiras;, disse.
Potencial e Reformas Econômicas
Segundo Ybañez, o acordo abre possibilidades para todas as atividades econômicas, não apenas para a indústria europeia no Mercosul ou para produtos do agronegócio do bloco sul americanos no mercados europeu. Para ele, o acordo vai surpreender. Ele elogiou o comprometimento da equipe econômica. ;A última parte da negociação foi muito boa. Houve esforço para compreender as necessidades europeias, que também fez concessões. Foi uma boa notícia ver os presidentes Macri (Maurício Macri, da Argentina) e Bolsonaro celebrando em Osaka (encontro do G20, em junho) o acordo como um êxito;, disse.
Para o representante da União Europeia, o governo brasileiro está fazendo uma aposta radical e vai para uma boa direção. ;Reformas não são fáceis, mas o acordo é uma parte dessa transformação;, disse. Na opinião do embaixador, o ministro da Economia, Paulo Guedes, demonstra que ;dá valor ao acordo com a União Europeia;, quando afirma que o Brasil pode sair do Mercosul, caso o próximo governo argentino, que terá eleições em outubro, dificulte o processo de liberalização comercial. Ele afirmou porém, que o bloco não avalia essa possibilidade, nem as consequências para ratificação do acordo, neste cenário, pois não se trata de uma informação oficial que tenha chegado a Bruxelas. Ele também elogiou a política do governo brasileiro para os refugiados venezuelanos. Pra ele, a Europa tem o que aprender com a política.