Politica

Presidente do BC nega intenção de permitir ingerência política no novo Coaf

De acordo com Campos Neto, a ideia de levar pessoas de fora do serviço público para a UIF, o antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras, foi dele

Vera Batista
postado em 27/08/2019 11:58
Presidente do Banco Central, Campos Neto, no Senado
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), afirmou que a ideia de levar pessoas de fora do serviço público para a Unidade de Inteligência Financeira (UIF), o antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), foi dele e não do governo. ;Mas não tive nenhuma intenção de permitir ingerência política. A escolha vai recair sobre o presidente do Banco Central e eu entendo muito pouco de política;, justificou.

Campos Neto contou que o BC estava pensando em um processo de aperfeiçoamento regulatório, em linha com o sistema financeiro. Um dos desenhos era incentivar a autonomia do BC. Ele mostrou, durante sua apresentação, que países que têm Banco Central com mais autonomia, têm inflação mais baixa e com menos alterações. ;Nesse caminho, no modelo regulatório, tive conversa com o ministro (Paulo Guedes) sobre o Coaf, de forma que o organismo tivesse autonomia operacional. Como o BC está no caminho da autonomia, entendemos que, se o órgão tivesse debaixo do BC, o BC poderia blindar o Coaf, por ser um órgão mais técnico;, afirmou Campos Neto.

;Não foi ideia do governo, foi minha. Coaf é um centro de processamento de dados, que faz relatório de inteligência financeira e passa para as autoridades. O Coaf não faz investigação;, reforçou. Ele disse, ainda, que, na primeira reunião com o pessoal do Coaf, constatou como o modelo era obsoleto: não tem dados na nuvem e na área de tecnologia, só tem uma pessoa. ;Nesse sentido, a ideia de trazer gente de forma não era para interferência política, era para modernizar. Ter gente de fora, torna o ambiente mais saudável;, afirmou.

A mudança do Coaf, que estava sob o guarda-chuva do Ministério da Economia, para o BC ocorreu em meio a questionamentos sobre a autonomia da UIF e a blindagem da unidade contra indicações políticas. Durante a audiência, Campos Neto também ressaltou que as condições globais, especialmente as disputas entre Estados Unidos e China, podem provocar um crescimento econômico menor no mundo. ;Os riscos associados a uma desaceleração da economia global permanecem. As incertezas sobre políticas econômicas e de natureza geopolítica ; notadamente as disputas comerciais e tensões geopolíticas ; podem contribuir para um crescimento global ainda menor;.

Apesar disso, o Brasil tem balanço de pagamentos robusto, inflação em baixa, reservas internacionais próximas a US$ 389 e por isso tem perspectivas de recuperação econômica. Mas a robustez da economia brasileira, diante dos riscos externos, assinalou Campos Neto, vai depender da continuidade das reformas estruturais, que passarão pelo crivo do Congresso Nacional. Campos Neto lembrou que a inflação, que chegou a 10,7% em 2015, foi reduzida significativamente.

No acumulado em 12 meses, a inflação chegou a em 3,22%. ;As expectativas de inflação permanecem ancoradas em torno das metas. Segundo a pesquisa Focus, as expectativas de inflação para 2019, 2020 e 2021 encontram-se em 3,65%, 3,85% e 3,75%, respectivamente;, assinalou. Ele destacou, ainda, que a credibilidade da política monetária também se reflete nas expectativas de inflação para 2022, que convergiram rapidamente para a meta de 3,5% , definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). E a consolidação da inflação em torno da meta tem permitido a redução consistente da taxa de juros, que chegou a 14,25% em outubro de 2016 e agora está em 6% ao ano.

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