Politica

Glenn Greenwald defende divulgação de documentos obtidos de forma ilegal

O fundador do site 'The Intercept Brasil' deu entrevista ao programa 'Roda Viva', da TV Cultura na noite desta segunda-feira (2/9)

Jorge Vasconcellos
postado em 03/09/2019 00:38 / atualizado em 22/10/2020 14:55
 (crédito: reprodução/Tv Cultura)
(crédito: reprodução/Tv Cultura)
O jornalista e advogado Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, afirmou que os jornalistas têm o dever de divulgar qualquer documento que seja do interesse público, mesmo que ele tenha sido obtido pela fonte da notícia de forma ilegal. Glenn, responsável pela divulgação de diálogos entre membros da Lava Jato, travados no Telegram, foi o entrevistado na noite desta segunda-feira (2/9) do programa Roda Viva, da TV Cultura. A jornalista Ana Maria Campos, editora de política do Correio Braziliense, foi uma das entrevistadoras.
“Eu falaria que um jornalista não só pode usar informação assim, mas tem que usar. Se você olha para o jornalismo no mundo democrático mais importante [Estados Unidos], com mais benefícios, mais premiados, muitas vezes, talvez a maioria das vezes, é baseado na informação que foi obtida por uma fonte de maneira ilícita ou talvez ilegal”, disse Glenn, em resposta à editora do Correio Braziliense.
A jornalista Ana Maria Campos, editora de política do Correio Braziliense, foi uma das entrevistadoras
“Um caso muito famoso foram os papéis do Pentágono que mostraram que o governo dos Estados Unidos, em 1971, estava mentindo durante muitos anos para a população norte-americana sobre a guerra do vietnã. Esses documentos foram roubados por Daniel Elisberg, que hoje é um herói nos Estados Unidos. Ele passou para o The New York Times, que publicou”, disse o fundador do The Intercept, que citou como outro exemplo a série de reportagens baseada em material roubado por Edward Snowden, ex-analista de sistemas da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês). Essa série de reportagens, que recebeu diversos prêmios internacionais, revelou como o governo dos EUA violava a privacidade das comunicações de várias autoridades e cidadãos ao redor do mundo.
Durante o Roda Viva, Glenn passou a maior parte do tempo sendo alvo de perguntas que questionavam a legalidade e o legado das reportagens que o The Intercept Brasil vem publicando desde o dia 9 de junho. Perguntado se o resultado desse trabalho seria a libertação de vários réus poderosos condenados por corrupção, como o ex-presidente Lula, o jornalista americano disse que todas pessoas que cometem crimes devem ser condenadas, mas os juízes e os procuradores devem atuar com equidistância e dentro da legalidade. “O processo tem que ser justo para se colocar alguém na prisão”, afirmou o fundador do The Intercept Brasil.
Durante a entrevista, Glenn disse que a divulgação das mensagens que indicam parcialidade na atuação de membros da Lava Jato, ao invés de beneficiar criminosos, tem o objetivo de denunciar que a corrupção existe também entre as autoridades do judiciário. “O ex-juiz Sérgio Moro [hoje ministro da Justiça] cometeu métodos corruptos o tempo todo. Corrupção é corrupção”, disse o jornalista.
Greenwald admitiu ter cometido dois erros. Um deles foi quando, pelo Twitter, atribuiu um diálogo do Telegram a uma pessoa errada. A outra, segundo ele, foi quando confundiu, no texto de uma notícia, os anos de 2018 e 2019. Para ele, foram erros pequenos que não abalam a credibilidade das reportagens.
Durante o Roda viva, Glenn reclamou do recente vazamento da informação de que seu companheiro, o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), está sendo investigado por suspeita de ter praticado, quando era vereador no Rio de Janeiro, a prática conhecida como “rachadinha”, que consiste em obrigar que os funcionários devolvam parte de seus salários ao político que assessoram. Além de criticar o vazamento, ele disse que David Miranda é inocente e que essa é mais uma retaliação contra o trabalho do The Intercept Brasil.

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