O jornalista e advogado Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, afirmou que a imprensa tem o dever de divulgar qualquer documento que seja do interesse público, mesmo que obtido de forma ilegal pela fonte. O norte-americano, responsável pela divulgação de diálogos entre membros da Lava-Jato, travados no Telegram, foi o entrevistado de ontem à noite, no programa Roda Viva, da TV Cultura. A editora Ana Maria Campos, do Correio Braziliense, foi uma das entrevistadoras.
;Eu falaria que um jornalista não só pode usar informação assim, mas tem de usar. Se você olha para o jornalismo no mundo democrático mais importante (Estados Unidos), com mais benefícios, mais premiados, muitas vezes, talvez a maioria das vezes é baseado na informação que foi obtida por uma fonte de maneira ilícita ou ilegal;, disse Greenwald, em resposta à editora. ;Um caso muito famoso foram os papéis do Pentágono que mostraram que o governo dos Estados Unidos, em 1971, estava mentindo durante muitos anos para a população norte-americana sobre a guerra do Vietnã. Esses documentos foram roubados por Daniel Elisberg (um funcionário do Pentágono), que hoje é um herói nos Estados Unidos. Ele passou para o The New York Times, que publicou;, disse.
O fundador do Intercept citou como outro exemplo a série de reportagens baseada em material roubado por Edward Snowden, ex-analista de sistemas da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês). As matérias, que receberam diversos prêmios internacionais, revelaram como o governo americano violava a privacidade das comunicações de várias autoridades e cidadãos de diferentes partes do mundo.
Greenwald passou a maior parte do tempo sendo alvo de perguntas que questionavam a legalidade das reportagens que The Intercept Brasil vem publicando desde 9 de junho. Perguntado se o legado desse trabalho seria a libertação de vários réus poderosos acusados de corrupção, o jornalista afirmou que todas as pessoas que cometem crimes devem ser acusadas e condenadas, mas os juízes e os procuradores devem atuar com equidistância e dentro da legalidade. ;O processo tem que ser justo para se colocar alguém na prisão;, frisou.
O americano negou que tenha a intenção de favorecer a libertação do ex-presidente Lula, preso em Curitiba por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ou de qualquer criminoso. De acordo com ele, a divulgação das mensagens que levantam suspeitas sobre a imparcialidade na atuação de membros da Lava-Jato tem o objetivo de denunciar que a corrupção existe também entre as autoridades do Judiciário. ;O ex-juiz Sérgio Moro cometeu métodos corruptos o tempo todo. Corrupção é corrupção;, afirmou.
Greenwald admitiu ter cometido dois erros. Um deles foi quando, pelo Twitter, atribuiu um diálogo do Telegram a uma pessoa errada. A outra, quando confundiu, no texto de uma notícia, os anos de 2018 e 2019. Para ele, foram erros pequenos que não abalam a credibilidade das reportagens.
O jornalista reclamou do recente vazamento da informação de que seu marido, o deputado federal David Miranda (PSol-RJ), está sendo investigado por suspeita de ter praticado, quando era vereador no Rio de Janeiro, a conhecida ;rachadinha;, que consiste em obrigar funcionários a devolver parte de seus salários ao político que assessoram. Além de criticar o vazamento, disse que David Miranda é inocente e que essa é mais uma retaliação contra o trabalho do Intercept.
;Eu falaria que um jornalista não só pode usar informação assim, mas tem de usar. Se você olha para o jornalismo no mundo democrático mais importante (Estados Unidos), com mais benefícios, mais premiados, muitas vezes, talvez a maioria das vezes é baseado na informação que foi obtida por uma fonte de maneira ilícita ou ilegal;
;O processo tem que ser justo para se colocar alguém na prisão;
;O ex-juiz Sérgio Moro cometeu métodos corruptos o tempo todo. Corrupção é corrupção;