Catarina Loiola*, Bernardo Bittar
postado em 04/09/2019 12:27
Uma semana após a crise internacional criada em torno das queimadas na Amazônia, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, disse, nesta quarta-feira (04/09) que "o aquecimento global e o efeito estufa precisam entrar na agenda brasileira". Para o magistrado, a questão ambiental é deixada de lado por causa do "egoísmo" e pelo fato de as consequências do desmatamento "só serem sentidas daqui há 50 anos". As declarações ocorreram no Conseguro 2019, evento promovido pela Confederação das Seguradoras (CNseg) nesta quarta e quinta-feira em Brasília.
Durante sua palestra, o ministro afirmou que "a importância da questão ambiental e da preservação da Amazônia, que é um dever com mundo; esbarra na ideia de entendermos que a responsabilidade da sociedade é ter políticas públicas dentro de um quadro que incentive a geração de riquezas e distribuição de renda. Precisamos de ideias justas para as pessoas no sentido geral". O ministro lembrou, ainda, sobre a necessidade da inteligência artificial ao falar sobre a importância e os perigos do avanço da tecnologia.
"Estamos criando um mundo em que a inteligência artificial progressiva está tomando decisões melhor que nós mesmos", ponderou, lembrando que um dos maiores inconvenientes dos avanços tecnológicos é a falta de privacidade. Sobre o que chamou de "crise na democracia", Barroso disse que "há uma onda populista e autoritária, uma recessão democrática varrendo o mundo". O ministro acredita que "a democracia vive um momento de enfraquecimento, tendo uma condução de líderes eleitos por voto popular mas que, uma vez no poder, desconstroem tijolo por tijolo a democracia".
Ao justificar o pensamento, Luís Roberto Barroso afirmou que "há muitas causas para isso" e que uma delas "é o sistema de representação política que não dá relevância à voz dos cidadãos". Ainda nas ponderações, o ministro lembrou que "fatores simultâneos que levaram a democracia a estar em xeque estão presentes em várias partes do mundo".
Economia
Durante as explanações sobre o Brasil, o ministro do Supremo exemplificou o tom da economia nacional com a queda na renda per capta, comparando os números com os da Coréia do Sul. "Em 1960, o Brasil tinha duas, três vezes mais renda que a Coréia do Sul. Hoje, temos 1% da renda. Erramos muito ao longo dos últimos anos...". As más decisões, segundo Barroso, foram "causa importante deste atraso".
"A falta de investimento adequado na educação básica, falta de qualidade que impede que a vida das pessoas seja iluminada (...) é responsável pela baixa produtividade do trabalhador. Escolaridade não é sinônimo de produtividade, mas o atraso na história ocorre porque criamos um estado grande demais numa economia sem capacidade privada", completou o magistrado.
Barroso falou, ainda, sobre corrupção. "Não é dramática só pela propina ou pela quantidade de dinheiro desviado. O grande problema é o conjunto de decisões erradas que se toma para atender os interesses financiados pela corrupção. Isso colaborou para a criação da crise fiscal que nos trouxe ao momento difícil que vivemos", concluiu,
O ministro do STF foi um dos palestrantes do primeiro dia de evento. Estão confirmados, também, Solange Vieira, superintendente da Superintendência de Seguros Privados (Susep); e os professores Gustavo Robichez, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); e Naercio Menezes Filho, do Insper. Quatro eventos foram incorporados à Conseguro 2019: o 13; Seminário de Controles Internos & Compliance, Auditoria e Gestão de Riscos, a 9; Conferência de Proteção do Consumidor de Seguros, o 6; Encontro Nacional de Atuários e a 1; Conferência de Sustentabilidade e Diversidade.