postado em 08/09/2019 04:16
O desfile do Dia da Independência deixou claro que o presidente Jair Bolsonaro busca retomar estratégias que o alçaram à Presidência. No desfile de 7 de setembro, ele reforçou a aposta no ufanismo para manter o engajamento do eleitorado mais fiel. A expectativa do governo é blindar as últimas e as próximas decisões controversas, a exemplo da escolha do subprocurador Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a formalização do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a embaixada brasileira nos Estados Unidos. Na solenidade, Bolsonaro quebrou o protocolo seguido há 30 anos e saiu da arquibancada destinada às autoridades para caminhar pelo asfalto, acenando ao público.
O movimento foi acompanhado por alguns auxiliares mais fiéis, os ministros-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. Também participou do afago aos populares o ministro da Justiça, Sérgio Moro, que afinou o relacionamento com o presidente, num movimento em que ambos se beneficiam .
Na arquibancada, estavam, ainda, o ministros Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Abraham Weintraub (Educação) e Tereza Cristina (Agricultura), além do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Em viagem ao exterior, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não estava presente.
O presidente rechaça os dados apresentados por pesquisas de opinião, mas aliados próximos admitem que o governo não consegue mais reter o apoio do eleitorado centrista, que tem se afastado do perfil de Bolsonaro. Embora não consiga agregar uma maior parcela de brasileiros, a aposta do governo é reforçar a imagem junto aos apoiadores mais fiéis. Depois de o próprio chefe do Executivo ter pedido, na última transmissão ao vivo em uma rede social, para que seguidores apaguem críticas a ele por causa da escolha de Aras para a PGR, a estratégia é se resguardar junto à massa ;raiz;.
A estratégia pôde ser observada, ontem, no discurso voltado diretamente aos bolsonaristas. Em comentário à TV Brasil, o presidente criticou, sem nomear, ;brasileiros que não têm outro propósito a não ser o poder pelo poder; que, ;por tantas e tantas vezes;, ameaçaram a liberdade, em referência aos ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff a quem ele dirigiu frases semelhantes em outras oportunidades. Bolsonaro também fez críticas veladas ao presidente francês, Emmanuel Macron.
Nova cirurgia deve ser a última
O presidente Jair Bolsonaro foi internado, ontem, em São Paulo, no Hospital Vila Nova Star, para ser submetido a uma quarta cirurgia. O procedimento, marcado para hoje, às 7h, é para a correção de uma hérnia incisional. A necessidade da operação decorre de outras intervenções cirúrgicas feitas no abdômen para tratar danos provocados pelo atentado sofrido em 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora (MG), durante a campanha eleitoral.
Segundo o médico André Luiz de Vasconcellos Macedo, mesmo cirurgião que comandou as duas operações anteriores ; para instalação e remoção da bolsa de colostomia que usou após sofrer o atentado ;, a previsão é que a cirurgia dure até três horas. Macedoe avalia que a cirurgia fecha o ciclo de tratamento relacionado à facada.
A hérnia foi detectada em consultas de rotina pelo médico da Presidência, Ricardo Peixoto Camarinha. A equipe médica que acompanha Bolsonaro atribui a formação do problema ao enfraquecimento da parede muscular do abdômen, em que parte do intestino passou por uma cavidade do tecido na região. Os cortes cirúrgicos na barriga, assim, deixaram essa área muscular mais fraca, a ponto de uma camada de gordura e do intestino romper a membrana abdominal.
Pós-operatório
O procedimento cirúrgico é menos grave em relação aos outros três feitos. Por esse motivo, Bolsonaro confidenciou a pessoas próximas que está confiante de que tudo transcorrerá bem, e que o pós-operatório não exigirá mais do que os 10 dias previstos pela equipe de Macedo. Bolsonaro se licenciará da Presidência por cinco dias. Durante esse período, o vice-presidente, Hamilton Mourão, assumirá o governo.
A previsão, no entanto, é que Bolsonaro retome o cargo ainda no hospital, enquanto permanecer internado. O presidente ficará acompanhado pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e por dois dos três filhos políticos: o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). ;Toda cirurgia é um risco. Mas essa, em relação às últimas três, será a menos invasiva e a que oferece menor risco. Mas eu estive do outro lado da morte e vou passar por um momento igual novamente;, disse o presidente, em declaração na segunda-feira.