Do total de entrevistados pela reportagem, 11 gravaram entrevistas, sendo que nove preferiram não se identificar. Os únicos que aceitaram são Francisco Martins, identificado como um ex-funcionário, e Sandro Silveira, um empresário que alega ter investido R$ 150 mil. Ele afirmou ter comprado de Miranda um curso no valor de R$ 1,2 mil, parcelado em 12 vezes.
O deputado vendeu mais de 8 mil cursos, chamado Os Segredos da América. Nela, ele prestava consultorias sobre como entrar nos Estados Unidos de maneira legal e chegar a morar lá, adquirindo um green card. A ideia surgiu sobre como mostrar a possibilidade de crescer e prosperar na maior economia do mundo. Em determinado momento, a reportagem relata que ele chegou a trabalhar com o negócio de compra e venda de veículos de leilão, com promessas, segundo Martins, de promessa de lucro líquido por mês de 6%, em lucro que seria dividido igualmente entre ele e o cliente.
O ex-funcionário, que diz ter trabalhado por dois anos com Miranda, diz que, no primeiro trimestre, o fundo de investimento não deu lucro esperado, afirmando que o deputado teria apresentado dados falsos. O Fantástico acrescenta que que o resultado teria levado amigos e familiares dos clientes a investirem também. À reportagem, ele alega que, se alguém cometeu alguma fraude, é o próprio denunciante. ;Pois era ele que assinava, ele que preparava. Eu não sou especialista em números. Ele era a pessoa que se responsabilizava por isso. Ele vai responder por isso e vai responder de verdade;, sustentou Miranda.
A reportagem do Fantástico não relata o posicionamento do deputado em relação a Silveira, mas Miranda sustenta, em prints de conversas pelo WhatsApp, que, em 3 de julho de 2018, uma terça-feira, pediu a ele uma conversa pessoalmente para ter alguma oportunidade. ;Bom dia, Luis, eu preciso conversar com você, desabafar. Desculpe estar te contando isso. Não sei por onde começar. Estou desesperado e com vergonha. Quero conversar pessoalmente. O nosso ;$$; está acabando. Só queremos uma oportunidade de trabalho, quero vencer aqui. Não quero voltar para o Brasil. Meu irmão já está querendo voltar. Desistir de tudo o meu irmão;, disse. Em resposta, Miranda marca uma conversa para quinta-feira.
Compromissos
Nos prints, Silveira comenta sobre lavagens de carros. Miranda afirma que ele era um lavador de carros que pediu uma oportunidade de emprego a ele nos Estados Unidos. ;E aparece em um vídeo falando em R$ 150 mil, e o pior, um empregado que roubou meus investidores!”, criticou. Ao Correio, o deputado nega ter aplicado golpe em alguém. ;Realmente, os ataques influenciaram nos resultados dos meus negócios, isso é óbvio. Isso é notório, sempre falei, pô. Eu nunca neguei que já perdi mais de US$ 2 milhões com esses ataques. O que posso fazer é dizer: meu irmão, a empresa nos Estados Unidos está atrasada com seus compromissos, mas está honrando. Lentamente, mas está honrando. É muito diferente de golpe. Quem dá golpe, não cumpre compromisso, não paga, não dá a cara a tapa, não está à disposição;, destacou.
Os ataques sofridos na internet teriam impactado os negócios de Miranda. Um grupo articulado nas redes sociais estariam recebendo recursos para difamá-lo e derrubar as vendas de cursos e afetar nos negócios de compra e venda de veículos. Uma investigação da Polícia Civil do Distrito Federal (PC-DF) prendeu, na noite de quinta-feira, Daniel Luís Mogendorff, que, em imagens filmadas pelo parlamentar, exigiu o pagamento de R$ 760 mil para parar os ataques.
Da extorsão, Mogendorff, que tem passaporte alemão e mora em Israel, disse que R$ 400 mil seria usado para ;barrar; a matéria publicada pelo Fantástico, alegando ter influência sobre a equipe jornalística. O restante seria usado para pôr fim às publicações produzidas por um grupo de youtubers que o atacavam nas redes sociais. Outros quatro integrantes foram indiciados por extorsão, incitação ao crime, organização criminosa, e por difamação. Eles foram localizados nos Estados Unidos, e no Brasil, nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e em Brasília. Outros 18 suspeitos, ainda não identificados, permanecem alvos da apuração da PCDF.