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Líder do MBL, Kim Kataguiri sobe o tom das críticas à família Bolsonaro

Entrevistado do programa CB.Poder desta quarta (11/9), o deputado federal e líder do Movimento Brasil Livre também cobrou explicações do ministro do Turismo sobre a denúncia de candidaturas laranjas no PSL

Thaís Moura*
postado em 11/09/2019 16:55
O entrevistado do CB.Poder de hoje (11/9) é o deputado federal e líder do Movimento Brasil Livre (MBL) Kim Kataguiri. Após discutir em rede social com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), o líder do Movimento Brasil Livre (MBL), o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), voltou a criticar a família Bolsonaro e algumas recentes atitudes e declarações do presidente. Nesta quarta-feira (11/9), em entrevista ao CB.Poder, programa do Correio em parceria com a TV Brasília, Kataguiri elogiou o quadro técnico de ministros da gestão de Bolsonaro, com exceção do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que, para ele, "deve explicações". O parlamentar ainda repudiou o recente tuíte do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-SP) sobre democracia, e a ofensa do ministro da Economia, Paulo Guedes, à primeira-dama francesa, Brigitte Macron.

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Para o líder do MBL, o "grande ponto positivo" do governo Bolsonaro são os "ministros técnicos com liberdade para nomear subordinados". Porém, segundo Kataguiri, o ministro do Turismo precisa prestar esclarecimentos a respeito das acusações de candidatura laranja por parte de uma filiada do PSL. Zuleide Aparecida Oliveira, candidata a deputada estadual nas eleições de 2018, confirmou ao Ministério Público (MPF) ter sido convidada para atuar como laranja pelo ministro. "O Ministério do Turismo tem um ministro que precisa dar explicações (Marcelo Álvaro Antônio). Não há razão que justifique o presidente (Jair Bolsonaro) ainda não ter afastado o ministro, dada a gravidade das acusações e a omissão dele em relação à própria defesa", constatou Kataguiri.

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Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse publicamente que a mulher do presidente da França, Emmanuel Macron, é "feia mesmo". A declaração ocorreu após o presidente Jair Bolsonaro responder, em concordância, à ofensa de um internauta contra Brigitte Macron. O deputado e líder do MBL vê a atitude de ambos como "injustificável". "É injustificável a questão de você tratar com qualquer adjetivo a mulher de um chefe de Estado, foi inapropriado, não há palavras para justificar o que ele (Guedes) e o presidente fizeram. É inadequado para o país, porque quando um ministro fala tem um maior impacto do que um deputado, por exemplo, ou outra autoridade", defendeu Kataguiri.

Em relação à agenda econômica do governo, o deputado também criticou a proposta de retorno da extinta Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), imposto que incidiria sobre 0,20% do valor cobrado em débito e crédito financeiro e de 0,40% no saque e depósito em dinheiro. Kataguiri ressaltou que Guedes "sempre defendeu o imposto único", porém, o presidente, não. "O presidente sempre se manifestou contra e deixou claro em 2018 que não iria recriar a CPMF, isso seria uma contradição do governo, mas não do ministro Paulo Guedes em si, que defende há tempos a tese de que deveria ter um imposto único", disse o deputado. "Eu discordo (da recriação da CPMF), acho que é uma tendência a desbancarização. Não tem a menor chance de ser aprovado na Câmara."

De acordo com ele, a "instabilidade política" causada pelos discursos presidenciais compromete a agenda econômica do país. O parlamentar também afirmou que o próprio presidente e o núcleo de articulação política se "envolvem em polêmicas desnecessárias", e os acusou de "não se juntarem à Câmara (dos deputados) para defender os próprios interesses governamentais". "Muito dificilmente o governo se posiciona dentro da Câmara. Existe uma confusão que inclusive eu estava vivenciando nesse exato momento, na Comissão do Trabalho, em que um representante do PSL vai na reunião prévia a reunião da comissão, faz um acordo, depois vem o líder do governo e diz que não fez acordo nenhum", reclamou o deputado. "Esse tipo de desastre, mais a verborragia do presidente, prejudicam a agenda do país, que no início do ano, tinha uma perspectiva de crescer 3%. Por causa das caneladas, como o próprio presidente diz, hoje a expectativa é em torno de 0,83%."

Na última segunda-feira (9/9), o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, afirmou, no Twitter, que "a transformação que o Brasil quer" não vai ocorrer na velocidade almejada por "vias democráticas". Na entrevista de hoje, Kataguiri demonstrou repúdio à declaração, e afirmou que o vereador é como um "trem desgovernado sem freio".

"Ele (Carlos Bolsonaro) é um trem desgovernado sem freio, prestes a bater na República e causar grandes estragos com seus arroubos autoritários e com seu sectarismo. A pessoa que mais puxa o governo Bolsonaro para o desastre, para o sectarismo e para o radicalismo é Carlos Bolsonaro. É a pessoa que mais radicaliza o discurso, que mais tenta impor o seu próprio pai como uma figura hegemônica na direita", opinou o deputado. "Uma pessoa com esse peso não pode ter esse discurso totalitário, isso é inaceitável em uma república, em uma democracia."

"Carlos tenta fazer com Jair Bolsonaro a mesma coisa que o PT fez com o Lula: sufocar todas outras lideranças de seu espectro politico para obter hegemonia, pensamento totalitário. Não só autoritário, mas totalitário", acrescentou Kataguiri. O deputado ainda criticou a atitude do vereador no cargo: "Ele foi eleito para ser vereador no RJ e não faz nada na Câmara Municipal do RJ, isso quando comparece. O máximo que ele ficou conhecido foi por chamar outro vereador de cabeça de balão ou algo assim, essa é a grande proposta e contribuição para o município".

Kataguiri também voltou a criticar a indicação de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, para ser embaixador do Brasil nos EUA. "Como é que a gente vai ter um embaixador em Washington, no topo da carreira diplomática, uma pessoa que fala inglês tão bem como Joel Santana? É uma piada, é um escárnio com a República. O topo da carreira diplomática, o Itamaraty, nunca passou tanta vergonha como com essa candidatura de Eduardo Bolsonaro", alegou o parlamentar. "O básico e simples (para o cargo) é saber falar inglês fluentemente. O segundo ponto é ter experiência de representação, de chefia de Estado. Ele representa governo, ele opina, ele fala de arma, ele apoia Trump, isso não é postura de chefe de estado de representação diplomática. O diplomata representa os interesses do seu país, ele não pode apoiar candidato X ou candidato Y."

Questionado sobre o motivo do MBL ter apoiado a candidatura de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, já que o movimento tem feito críticas ao presidente, Kataguiri justificou com a questão do "voto útil". Para ele, o governo de Fernando Haddad (PT) seria "bem pior", e o de Álvaro Dias (Podemos) seria o ideal, no contexto das eleições de 2018. "No primeiro turno, na última semana, ja sabíamos que o segundo turno seria entre Haddad e Bolsonaro. Mesmo não sendo nosso candidato dos sonhos, apoiamos. Mas discordo de que ele (Jair Bolsonaro) esteja cumprindo com aquilo que prometeu em campanha", constatou o parlamentar. "Eu li toda a proposta de governo de Bolsonaro e de Haddad e não há a priorização da agenda econômica prevista no governo dele. É um equívoco dizer que ele esteja cumprindo todas suas promessas de campanha. Foi um voto útil porque eu tenho plena convicção de que o governo Haddad seria bem pior, mas é o governo dos sonhos que sempre apoiei? Não".

* Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca

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