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''Apresento aos senhores um novo Brasil'', diz Bolsonaro na ONU

No discurso na Organização das Nações Unidas, presidente menciona ''falácia'' sobre a Amazônia, avisa que não haverá mais demarcações de terras indígenas e dispara contra Cuba, Venezuela, governos petistas e algumas potências europeias

Denise Rothenburg - Enviada Especial
postado em 25/09/2019 06:00

Para apoiadores, discurso de Bolsonaro foi ''épico''Nova York (EUA) ; Em sua estreia nas Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro foi; Jair Bolsonaro. Em termos conciliatórios, pode ter ficado aquém do que esperavam outros líderes, como Emmanuel Macron, da França, que sequer ouviu todo o discurso do presidente, porque foi para uma reunião com o governador do Amapá, Waldez Goés. Porém, para outros, como o presidente Donald Trump, que o parabenizou, e aqueles que o apoiam nas redes sociais, o chefe do Executivo foi ;épico;, conforme foto que circulou com essa expressão destacada em verde e amarelo. O presidente não saiu um milímetro do que pensa e pretende empreender o que disse ao longo da sua campanha. ;Apresento aos senhores um novo Brasil, que ressurge depois de estar à beira do socialismo;, começou ele, logo de saída, citando o PT e o acordo com a ;ditadura cubana; a respeito do programa Mais Médicos.


Na largada, deu para perceber que Bolsonaro não estava ali para ser diferente do que vinha pregando até o momento nem tampouco para chamar Emmanuel Macron de ;meu querido amigo;. O único presidente no exercício do cargo citado no discurso foi Donald Trump, quando o brasileiro mencionou a Amazônia. ;É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo. Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista;, disse.

Ele prosseguiu: ;Questionaram aquilo que nos é mais sagrado: a nossa soberania. Um deles, por ocasião do encontro do G7, ousou sugerir aplicar sanções ao Brasil, sem sequer nos ouvir;, frisou, sem citar a França nem seu presidente. O chefe do Executivo brasileiro passou, então, ao agradecimento a Trump. ;Agradeço àqueles que não aceitaram levar adiante essa absurda proposta. Em especial, ao presidente Donald Trump, que bem sintetizou o espírito que deve reinar entre os países da ONU: respeito à liberdade e à soberania de cada um de nós;, completou, com um recado direto a Antonio Guterres, secretário-geral das Nações Unidas.

No dia anterior, Guterrez havia liderado a cúpula do clima sem que o Brasil tivesse voz no encontro, porque o presidente não havia chegado, e o ministro Ricardo Salles não pôde falar por não ser chefe de Estado. Entretanto, a jovem brasileira Paloma Costa e a sueca Greta Thunberg abriram o evento, cobrando ações concretas das Nações. Bolsonaro, em suas declarações, reagiu: ;A ONU pode ajudar a derrotar o ambiente materialista e ideológico que compromete alguns princípios básicos da dignidade humana. Essa organização foi criada para promover a paz entre nações soberanas e o progresso social com liberdade, conforme o preâmbulo de sua Carta;, frisou.

Bíblia

Bolsonaro acrescentou que ;nas questões do clima, da democracia, dos direitos humanos, da igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres e em tantas outras;, tudo o que é necessário está contido na Bíblia, em João 8:32: ;E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará?;. ;Todos os nossos instrumentos, nacionais e internacionais, devem estar direcionados, em última instância, para esse objetivo. Não estamos aqui para apagar nacionalidades e soberanias em nome de um interesse global abstrato. Esta não é a Organização do Interesse Global. É a Organização das Nações Unidas. Assim deve permanecer;, destacou.

A maior parte do discurso ; em que ele frisou a liberdade econômica, as questões da Amazônia e o fato de a França e a Alemanha terem mais de 50% do território destinado à agricultura, enquanto o Brasil usa apenas 8% ; foi acompanhada atentamente pelas delegações de todos países, à exceção da francesa, que estava em reunião com o governador do Amapá. Prestaram muita atenção quando ele mencionou que o seu governo tem ;o compromisso solene com a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável em benefício do Brasil e do mundo;.

Houve um certo burburinho quando Bolsonaro disse que havia acabado o tempo do cacique Raoni. Ele afirmou também que não haverá aumento da área de terras indígenas demarcadas de 14% para 20% ;como querem alguns chefes de Estado;, ressaltou. Surgiram conversas laterais em algumas bancadas no momento em que o presidente citou os antecessores. ;Presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto. Foram julgados e punidos graças ao patriotismo, à perseverança e à coragem de um juiz que é símbolo no meu pais, o doutor Sérgio Moro, nosso atual ministro da Justiça e Segurança Pública.;

Petistas

Bolsonaro fez questão, ainda, de mandar um aviso a nações ajudadas pelos governos petistas no passado. ;Esses presidentes também transferiram boa parte desses recursos para outros países, com a finalidade de promover e implementar projetos semelhantes em toda a região. Essa fonte de recursos secou;, afirmou. ;Esses mesmos governantes vinham aqui, todos os anos, e faziam descompromissados discursos com temas que nunca atenderam aos reais interesses do Brasil nem contribuíram para a estabilidade mundial. Mesmo assim, eram aplaudidos.;

O presidente também ouviu aplausos de algumas bancadas, como a americana e a argentina. Os europeus, como a chanceler alemã Angela Merkel, preferiram a ironia. Ela deu ao discurso do presidente brasileiro cinco aplausos em câmera lenta, com um largo espaço entre eles.

Na 13; fila

Embora Bolsonaro tenha criticado o PT e dito que foi vítima de uma facada por um militante da esquerda, a comitiva brasileira estava na 13; fileira, do canto esquerdo do plenário da ONU. Lá, sentaram os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles; a primeira-dama, Michelle Bolsonaro; a índia Ysani Kalapalo; o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP); e o senador Nelsinho Trad (PSD-MS). A distribuição de lugares funciona em sistema de rodízio, com troca todos os anos para que cada nação tenha a oportunidade de ficar à frente. Este ano, o Brasil ficou lá atrás.

Protestos contra presidente

Com camisetas verdes e exibindo um boneco gigante de Jair Bolsonaro e um cartaz com os dizeres ;Bolsonaro, uma ameaça à Terra;, manifestantes protestaram em frente à ONU durante o discurso do presidente. ;A Terra está queimando, a Amazônia está queimando, Bolsonaro é um mentiroso!”, gritavam durante os protestos. O presidente é cético em relação às mudanças climáticas e defende a exploração comercial em áreas de preservação ambiental e indígena.

Primeiro lugar no Twitter

A hashtag #BolsonaronaONU atingiu o primeiro lugar entre os assuntos mais comentados no mundo após o discurso do presidente na abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York (EUA). No Brasil, o assunto também ficou em primeiro lugar entre os Trending Topics, enquanto UNGA (Assembleia-Geral da ONU, em inglês) ocupou a segunda posição e ;foro de São Paulo;, organização mencionada por Bolsonaro em seu discurso, ficou em oitavo lugar.

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