Politica

Nova derrota no pacote anticrime

Grupo de trabalho da Câmara que analisa projeto encaminhado pelo governo retira do texto item que ampliava situações em que policiais podem matar sem serem punidos

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 26/09/2019 04:14
Proposta elaborada por Sérgio Moro amplia conceito de excludente de ilicitude previsto no Código Penal

Depois da derrubada de 18 vetos do presidente Jair Bolsonaro à lei de abuso de autoridade, no plenário, o Congresso impôs mais uma derrota ao governo. Por nove votos a cinco, os deputados do grupo de trabalho que avalia o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro, retiraram do texto o dispositivo que aumentaria a lista de situações nas quais o juiz poderia diminuir a pena de policiais que matam em serviço.

A proposta de Moro encaminhava uma das promessas de campanha de Bolsonaro, ao ampliar o conceito de excludente de ilicitude previsto no Código Penal para permitir a redução ou até isenção da pena para agentes que matassem por ;escusável medo, forte emoção ou surpresa;. Hoje, o juiz pode diminuir ou até perdoar a pena em atos cometidos ;no estrito cumprimento do dever legal, em casos de legítima defesa e em estado de necessidade;.

A pressão para retirar os novos casos aumentou nos últimos dias, devido à repercussão do caso da menina Ágatha Félix, de oito anos, morta durante tiroteio da polícia com traficantes, no Rio de Janeiro, na última sexta-feira. Diante da comoção nacional sobre o caso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), manifestou-se algumas vezes a favor de rever essa parte do projeto. ;É um tema com o qual a gente precisa ter muito cuidado, se merece ou não ser modificado;, comentou, na última segunda-feira.

Entre os cinco votos contrários à ampliação do excludente de ilicitude, o líder da bancada da bala e relator do pacote anticrime, deputado Capitão Augusto (PL-SP), resistiu à mudança no texto. Até a votação, ele argumentava que a medida proposta por Moro não seria ;uma licença para matar;, como afirmam analistas e parlamentares críticos da matéria. ;É para quem agiu em legítima defesa, que é a vítima, que ele não seja punido pelo excesso;, defendeu.

O Código Penal já trata da legítima defesa nos casos previstos, que não foram flexibilizados na nova versão do projeto. Ontem, inclusive, o colegiado aprovou parcialmente proposta do deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG) que amplia as hipóteses em que o policial pode atuar nessas situações. Os deputados trocaram a palavra ;previne; por ;repele; no trecho que trata como legítima defesa situações em que ;agente de segurança pública repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes;.

Próximos passos

Autor da emenda aprovada para suprimir o trecho sobre o excludente de ilicitude, o deputado Marcelo Freixo (PSol-RJ) comemorou a manutenção da lei atual, mas afirmou que ;a luta, agora, será no plenário da Câmara;. A avaliação por todos os deputados é a próxima fase pela qual o texto precisa passar, antes de ir ao Senado.

Nas próximas etapas, os parlamentares ainda podem mudar o texto e incluir qualquer outro dispositivo ; até mesmo o que prevê a ampliação do excludente de ilicitude. O texto não precisa passar por comissões, como explicou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). ;Eu prometi ao ministro que não haveria comissão especial, para não atrasar a tramitação da proposta;, afirmou, na última terça-feira.

Na próxima semana, o grupo de trabalho que tem discutido a proposta ainda se reúne para avaliar outros pontos. Nas reuniões, que acontecem desde março, os deputados já fizeram outras mudanças no texto original, como a retirada da prisão após condenação em segunda instância, deixando o caso para deliberação do Supremo Tribunal Federal (STF).


Votação
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a Casa votará na próxima semana o pacote anticrime proposto pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Maia ressaltou que tem dialogado com Moro sobre o projeto, que atualmente é analisado por um grupo de trabalho da Câmara. ;Está na hora de dialogar. Queremos aproveitar a experiência do ministro no combate à lavagem de dinheiro, por exemplo;, disse Maia. ;Vamos votar semana que vem. A gente deve ter uma última reunião; vamos tentar introduzir o Senado nesse debate;, acrescentou.




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