Politica

Raoni mostra divergências entre Maia e Bolsonaro sobre política indigenista

O cacique e líder indígena se reuniu com o presidente da Câmara nesta quarta-feira (25/9)

Rodolfo Costa
postado em 26/09/2019 16:02
O cacique e líder indígena se reuniu com o presidente da Câmara nesta quarta-feira (25/9)O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente Jair Bolsonaro, estão com divergências nítidas na política indígena. Depois de, na quarta-feira (25/9), o demista ter recebido o cacique Raoni Metuktire, indicado ao Nobel da Paz, e frisado não ter interesse em pautar temas envolvendo a ;retirada de direitos; aos povos indígenas, o chefe do Executivo federal voltou a alfinetar o indígena. Nesta quinta-feira (26/7), disse que ;não existe mais o monopólio do Raoni;. ;Ele fala outra língua, não fala a nossa língua;, declarou, na saída do Palácio da Alvorada.

Enquanto Bolsonaro é a favor do desenvolvimento sustentável, ou seja, da união entre a atividade econômica e a preservação ambiental, Maia se mostra contrário à ideia. O governo prepara um projeto, que está em gestação no Ministério de Minas e Energia, para regulamentar e legalizar o garimpo -- inclusive em terras indígenas --, de modo a desburocratizar e flexibilizar a política ambiental.

O texto elaborado pelo governo propõe a regulamentação da exploração de recursos hídricos, potenciais energéticos e lavra de riquezas minerais em terras indígenas, que, ressalta sempre Bolsonaro, detêm uma área de cerca de 14% do território nacional. Há previsão dessas atividades econômicas na Constituição, no entanto, juristas ressaltam que precisa ser regulamentada pelo Congresso.

O pensamento de Maia vai na contramão da ideia do governo. ;Não há interesse nosso em pautar temas que retirem direitos dos povos indígenas, nem em relação às questões da mineração e, tampouco, na aprovação da ampliação dos espaços das madeireiras. Vamos construir projetos que sinalizem aos brasileiros e ao mundo a nossa preocupação na preservação do meio ambiente;, ponderou.

A declaração do presidente da Câmara foi feita nas redes sociais, como comentário de uma foto em que ele cumprimenta Raoni. Na imagem, eles se cumprimentam com um aperto de mãos. O encontro entre ambos é aplaudido pelo líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ). Ao lado de Maia, encontra-se a líder da Minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Monopólio

Enquanto Maia faz afagos ao indígena, Bolsonaro adota outra postura. A apoiadores, ele lembrou ter levado à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) a índia Ysani Kalapalo, da aldeia Thuhungu, no parque do Xingu, que embarcou com a comitiva como representante de 52 povos indígenas interessados em explorar as reservas. ;Não existe mais o monopólio do Raoni. Ele fala outra língua, não fala a nossa língua. É uma pessoa que está com idade avançada, vamos respeitá-lo, como cidadão, mas ele não fala pelos índios;, declarou.

Cada tribo, destacou Bolsonaro, tem um cacique. Ysani foi à ONU com uma carta assinada por líderes indígenas produtores rurais que a reconheceram como representante. ;Eles querem sair da escravidão, de esmola de ONG (Organização Não-Governamental), de Bolsa Família e cesta básica. E querem produzir. E um cara que diz lá, não sou eu que to dizendo, uma pessoa, assim como no passado as Malvinas estavam para a Argentina, hoje, a Alemanha está para o Brasil. Tire as suas conclusões, não fui eu que disse isso;, sustentou.

A fala de Bolsonaro faz referência à Guerra das Malvinas, ocorrida em 1982, no qual o governo argentino defendeu a soberania sobre as Ilhas Malvinas. O arquipélago foi reivindicado pelo Reino Unido em 1833, mas a Argentina, colônia espanhola, sustentava ser herdeira dos direitos espanhóis sobre as ilhas. No conflito armado, o Reino Unido foi apoiado pela França, nação atualmente presidida por Emmanuel Macron, desafeto de Bolsonaro.

Ao longo da conversa na saída do Alvorada, o presidente lembrou ter citado a França e Alemanha em seu discurso na ONU e garantiu que, em momento algum, foi ofensivo ou agrediu ambos os países. ;Eu citei falando que eles têm mais de 50% de seu território destinado à agricultura, e nós, 8%. Qual sentimento tem disso aí? São números. Nós temos 61% de território demarcado. A média das queimadas do passado em relação a hoje foram maiores. Nossas queimadas estão abaixo da média;, ponderou.

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