E as instituições, estão funcionando?
Há poucas frases mais controversas na política brasileira do que a tal ;o importante é que as instituições estão funcionando;. Repetida à exaustão ao longo dos últimos cinco anos, aqueles que coincidiram com a Operação Lava-Jato, virou jargão na boca de políticos de todos os poderes e, pior, de jornalistas e analistas dos movimentos de Brasília. Não se sabe quem a criou, afinal foi usada por tanta gente que, se existe formalmente, o autor perdeu a importância. Se transformou em um apelo para a sanidade geral, um ;apesar de todas as desgraças, tem gente olhando para esse país;. Será?
Sempre é bom desconfiar de frases feitas, quase sempre elas não são verdadeiras, ou pelo menos apresentam algum traço fora da irrealidade. Não que o Brasil esteja à deriva ou que estejamos num beco sem saída da nossa política. A história não acaba assim, se querem uma frase alentadora. Mas, em retrospectiva e a partir de fatos revelados nas últimas semanas, é impossível acreditar que de fato as instituições estavam funcionamento como diziam algumas autoridades e repetiam alguns jornalistas e analistas. O Brasil entrou há tempos na fase de que ;quem não está perplexo ou é cínico ou está mal informado;, como diria o outro, em outra frase de efeito.
A informação de que o ex-procurador-geral Rodrigo Janot entrou armado no Supremo Tribunal Federal (STF) para matar o ministro Gilmar Mendes e desistiu no último momento é o exemplo mais recente de que as instituições não funcionaram muito bem. O que se seguiu depois, com as buscas nos imóveis de Janot, pode ser a continuidade do mesmo episódio canhestro. Sim, poderíamos estar pior, mas isso não significa que as ;instituições estão funcionando;. Os diálogos vazados dos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato estão longe de colaborar com a nossa surrada e brasileiríssima frase.
Desconfianças
É mais do que aceitável que alguém questione o fato de que não houve uma torcida contra atores políticos por parte da Lava-Jato ; por mais que seja razoável também que se discorde. Mas o debate em si mostra o quão desconfiados podem estar determinados eleitores com a ação. A ida do ex-juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça do presidente Jair Bolsonaro também atrapalha a percepção de que as ;instituições estão (ou pelo menos estavam) funcionando;. Moro, dono de um capital político poucas vezes visto na política brasileira, deixou surpreso os próprios integrantes da força-tarefa da Lava-Jato ao aceitar o convite de Bolsonaro.
Por mais fragilizada que a Lava-Jato possa estar ; e todos os atores envolvidos sabem e dizem que está ;, o teste de fogo será nesta quarta-feira. O Supremo decidirá a tal modulação para o julgamento da semana passada. Na prática, será avaliado em qual medida de obrigação os delatados em casos de corrupção tenham direito a apresentar alegações finais depois dos delatores. Se o Supremo estender a decisão para indefiníveis processos, a Lava-Jato pode sofrer um golpe extremo, poucas vezes visto no contra-ataque em relação às investigações conduzidas até aqui.
Se as instituições não funcionando ; ou não funcionaram ; está na hora de começarem a se fortalecer. Outra frase de efeito.
Lula
Por fim, com a decisão dos procuradores em propor o regime semiaberto para a pena do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há a constatação de que já deu. No período que passou preso, o petista perdeu familiares, e o PT perdeu uma eleição presidencial. A partir de agora, seria preciso uma bola de cristal para analisar os próximos passos da política brasileira. O que se pode dizer é que ;a história não acaba assim;, para citar um livro do português Miguel de Souza Tavares.