Politica

'Se for legal, boto as Forças Armadas lá', diz Bolsonaro sobre Serra Pelada

Representantes de cooperativa pediram ao presidente a intervenção do Exército na região sob a denúncia de que a mineradora Vale do Rio Doce estaria explorando o território ilegalmente

Augusto Fernandes
postado em 01/10/2019 14:21
Bolsonaro levanta a possibilidade do Exército fiscalizar suposta atuação irregular da ValeO presidente Jair Bolsonaro conversou com dezenas de garimpeiros da Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), do Pará, na manhã desta terça-feira (1;/10) e disse ao grupo que vai avaliar a possibilidade de deslocar equipes do Exército para fiscalizar uma suposta atuação irregular da mineradora Vale do Rio Doce no garimpo, que fica localizado no município paraense de Curionópolis.

O chefe do Executivo federal foi informado pelos manifestantes de que a Vale não estaria respeitando os limites para exploração de minérios demarcados pelo ex-presidente da República João Figueiredo. Diante disso, Bolsonaro afirmou aos garimpeiros que será montada uma comissão no Ministério das Minas e Energia, chefiada pelo almirante Bento Costa, para buscar uma solução.

;Chamei o almirante Bento para participar da rápida reunião nossa, que vai continuar agora na Agência Nacional de Mineração, para a gente buscar alternativas. Se tiver alternativas, a gente vai até o final da linha. Eu não vou oferecer milagre para ninguém aqui, mas se tiver alternativas, se tiver meios, que um presidente pode muito, mas não pode tudo, a gente solucionar o problema de vocês;, disse o presidente ao grupo, em frente ao Palácio do Planalto.

Segundo ele, ;se tiver amparo legal, boto as Forças Armadas lá;. E continuou: ;Não vou prometer para vocês e que eu não posso fazer, mas se tiver amparo legal, eu boto as Forças Armadas e a gente resolve esse problema aí. Denuncia algum contrato, a gente não vai desrespeitar contrato com ninguém, e buscar uma maneira de solucionar isso aí, porque não pode continuar como está;, destacou Bolsonaro.

Durante a fala aos garimpeiros, que durou aproximadamente 10 minutos, o pesselista criticou que o Brasil é ;roubado há 500 anos;. ;A gente conhece o potencial mineral do Brasil. Eu sei como a Vale do Rio Doce foi... Abocanhou no governo FHC (Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil), o direito do mineral no Brasil. Um crime, um crime o que aconteceu;, vociferou.

Bolsonaro ainda disse que é ;covardia; o que ;empresas de vários países do mundo; fazem com o meio ambiente brasileiro. ;Ninguém toca no assunto porque a propina, pelo que parece, corre solta. Então, nós queremos solução;, garantiu o presidente. Ele ainda reclamou: ;como pode um país rico como o nosso, que tem toda a tabela periódica debaixo da terra, e continuar vendo vocês aqui com cara de sofridos?;.

Invasão por túneis subterrâneos

De acordo com os manifestantes, uma das formas de invasão da mineradora Vale seria por túneis subterrâneos. ;Nós temos uma área demarcada, que foi doada pelo Figueiredo. Nos anos 1980, a Vale recebeu uma indenização para sair de lá, mas está do nosso lado, fazendo um buraco do projeto Serra Leste, e mandando ouro para fora do Brasil sem prestar contas. Por isso, pedimos ao Exército a demarcação de nossa terra, pois a vale pode estar na nossa terra por meio de túneis, para tirar o nosso minério;, explicou o garimpeiro Jonas de Oliveira Andrade, da Coomigasp.

Ele disse que os representantes da cooperativa, estimados em 44 mil atualmente, querem uma administração militar dentro de Serra Pelada e a federalização do território. ;Sendo assim, nem o poder municipal, nem estadual poderiam (interferir);, comentou Jonas.

;A nossa intenção é uma parceria público-privada com a engenharia do Exército brasileiro, porque assim evitaria evasão de divisa para tirar ouro. O ouro está em profundidade muito grande e nenhuma empresa foi idônea para fazer um trabalho honesto com esses milhares de garimpeiros;, acrescentou.

Diretor da cooperativa, Francimar Antônio da Silva, acredita que uma força-tarefa do governo federal para remarcar as áreas do garimpo de Serra Pelada seria fundamental. ;A Serra já foi medida uma vez, mas daí pra cá (do governo Sarney em diante) o governo federal não estava dando apoio para nós. Aí, essas empresas poderosas se aproximaram da área e tiraram os marcos do lugar. Estamos precisando que o governo federal bote o Exército para medir a área de novo e delimitar o que é nosso. A Vale é vizinha nossa e tem que nos respeitar como vizinho, assim como vamos respeitá-la também;, declarou.

Por meio de nota oficial, a Vale refutou as afirmações dos garimpeiros e frisou que ;não tem atividades minerárias em Serra Pelada nem qualquer operação de mineração subterrânea no Pará". No texto, a mineradora garante que cedeu a área de jazida à Coomigasp em março de 2007. "A empresa mantém no município de Curionópolis apenas a unidade Serra Leste, de exploração exclusiva de minério de ferro;, informou a empresa.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação