Politica

Polarização favorece Bolsonaro

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 02/10/2019 04:12
Há 30 anos, o Partido dos Trabalhadores polariza as eleições brasileiras, desde a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva contra Fernando Collor. Ao longo desse período, tal divisão política entre o petista e um adversário ; qualquer que fosse o da vez ; sempre favoreceu a legenda, mesmo com as derrotas, pois o PT conseguiu avançar alguns postos nos estados, municípios e no Congresso, para, logo depois, polarizar novamente.

A eleição de 2018 foi o primeiro momento em que, para além da derrota, o PT não conseguiu se retroalimentar, mesmo que tenha conquistado cadeiras no Legislativo e nos estados. O candidato à Presidência Fernando Haddad, passada a eleição ; por causa das guerras internas da legenda e pelo próprio perfil do ex-prefeito ;, embicou no quase ostracismo, sem qualquer chance de valorizar os mais de 47 milhões de votos.

O motivo principal para a fragilidade do partido e da ausência da polarização não está nessa dificuldade, mas na ausência de Lula no debate. Preso numa cela improvisada na Polícia Federal, em Curitiba, o ex-presidente saiu do jogo ao ter os direitos políticos suspensos. A oposição a Bolsonaro hoje, na base de 30% dos eleitores, não necessariamente formada pelo PT, abrindo espaço para partidos de esquerda ; e, mais fortemente, de centro-direita.

Assim, os principais movimentos detectados para a campanha de 2020 foram feitos pelo governador João Doria, pelo apresentador Luciano Huck e pelo pedetista Ciro Gomes. Tais nomes tentam, desde já, quebrar a polarização política, pelo menos no lugar sempre ocupado pelos petistas. A falta de um nome petista levou os atores de outras legendas a buscarem a disputa aberta com o presidente Jair Bolsonaro, com a perspectiva de protagonismo.

Mas há um detalhe: os movimentos políticos de Lula no imbróglio do ;saí da cadeia, fica na cadeia; levam o petista ao debate. Mas, ao contrário do que esperaram os petistas, tal polarização desta vez apenas favorece Bolsonaro. Primeiro, porque está diante de adversário que não pode subir ao ringue, mas que enfurece parte da torcida, justamente os eleitores do capitão reformado. Depois porque atrapalha Doria e Huck.

Os movimentos de Lula em não aceitar a progressão de regime estão longe de assustar Bolsonaro ; quanto mais evidência Lula ganhar, melhor para o atual presidente. É a antítese, a narrativa clássica do bem contra o mal, a depender do gosto do torcedor. Lula, porém, está fora do combate. Só quem ganha é Bolsonaro.

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