postado em 03/10/2019 04:11
O auditor-fiscal da Receita Federal (RFB) Marco Aurélio da Silva Canal era bem visto entre seus pares, ministrando inclusive palestras envolvendo sua atuação junto à Operação Lava-Jato e o enfrentamento da corrupção. Em dezembro de 2016, foi o último a falar no seminário "Dia Internacional do Combate à Corrupção", realizado no Rio de Janeiro e promovido pela regional do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco-RJ).
Então já atuando como supervisor da Equipe de Programação da Lava-Jato, Canal palestrou sobre a operação, a CPI dos Fundos de Pensão e a Divisão de Fiscalização da RFB. Também mereceu nota de desagravo de seus colegas, em agosto deste ano, quando o Sindifisco publicou texto em que manifestava sua preocupação "com a instabilidade institucional suscitada com a decisão monocrática do STF de afastar dois auditores-fiscais" ; sobre determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF, de suspender investigação contra 133 contribuintes. Canal não era um dos afastados, mas havia sido citado.
O auditor ingressou na RFB em 5 de janeiro de 1995, via concurso público, e recebe cerca de R$ 21 mil por mês, segundo dados do Portal da Transparência.
Pedido de retratação
O procurador Almir Teubl Sanches, da força-tarefa da Lava-Jato no Rio, cobrou retratação do ministro Gilmar Mendes que, em fevereiro, quando soube que havia um dossiê da RFB sobre ele, tentou ligar Canal à força-tarefa da operação. Na coletiva sobre a Operação Armadeira, os procuradores destacaram inúmeras vezes que Canal atuava numa etapa seguinte à investigativa.
"Agora que há um novo fato de conhecimento público, espera-se que haja alguma espécie de retratação sobre essas acusações que foram feitas. Na época, não tínhamos como nos defender, porque a investigação estava em caráter sigiloso", disse o procurador. A força-tarefa já investigava Canal àquela altura.
Almir classificou as declarações de Gilmar como descabidas e até temerárias. "Ele chegou a citar em algumas entrevistas, fazer algumas insinuações. Por um lado, temos que pesar também que ele não tinha informação dessa investigação que estava acontecendo e pode ter se sentido vítima de uma violação".