Jornal Correio Braziliense

Politica

Amazônia de novo sob holofotes

Encontro de bispos que começa amanhã, no Vaticano, discutirá problemas da região. Planalto teme "interferência em assuntos internos"



Após virar notícia global por conta das queimadas e desmatamentos, que geraram forte desgaste na imagem do governo do presidente Jair Bolsonaro, a Amazônia está novamente sob holofotes. Desta vez, do papa Francisco, que ergueu como uma de suas bandeiras a defesa do meio ambiente. Previsto para começar amanhã, o Sínodo para a Amazônia reunirá 250 bispos de todo o mundo no Vaticano para discutir ;novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral;. A igreja deve tratar, além da evangelização na região, da ordenação de homens casados e da ampliação da participação feminina na Igreja Católica, de temas ligados à proteção de povos indígenas e do meio ambiente. O encerramento do encontro, para o qual e foram convidados, como conselheiros, cientistas e ambientalistas, está previsto para 27 de outubro.

No fim de agosto, Bolsonaro reconheceu que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitorava os preparativos do sínodo. Ele afirmou que a assembleia de bispos católicos ;tem muita influência política; e explicou que a agência monitora todos os grandes grupos. O encontro preocupa o Palácio do Planalto, que apontou, mais de uma vez, que a cúpula convocada pelo líder religioso pode ser considerada uma forma de interferência estrangeira nas questões que afetam a soberania brasileira.

Os bispos da região amazônica divulgaram uma carta nosmesmo mês: ;Lamentamos imensamente que hoje, em vez de serem apoiadas e incentivadas, nossas lideranças são criminalizadas como inimigos da pátria;, escreveram. Além disso, o posicionamento do papa diverge das intenções de Bolsonaro de incentivar o turismo na região e abrir terras indígenas à exploração de minérios. O chefe do Executivo também afirmou que não fará novas demarcações de reservas para abrigar os chamados povos originários.

;Imagine o nosso Brasil com Sul e Sudeste demarcado com terra indígena. Tudo estaria inviabilizado. Tchau, agronegócio, tchau, homem do campo. Nós ocupamos 7% do nosso território para agricultura, outros ocupam 70%;, disse o presidente.

Já o cardeal Cláudio Hummes, presidente da Rede Eclesiástica Pan-Amazônica (Repam) e participante do encontro, destacou durante uma coletiva de imprensa no Vaticano que a demarcação de terras indígenas é fundamental para a conservação da Floresta Amazônica. ;Nós sabemos que, para os indígenas, isso é fundamental. Também as reservas geograficamente delimitadas são importantíssimas para a preservação da Amazônia;, afirmou.

O sínodo foi anunciado pelo papa em outubro de 2017. O documento preparatório, feito pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam Brasil), afirma que se desencadeou, na região, uma profunda crise. Os religiosos criticam, ainda, a exploração econômica, a destruição ambiental e o descaso com as populações de indígenas, quilombolas e ribeirinhos.

O documento reúne 147 pontos, divididos em 21 capítulos, separados por três partes, que abordam: ;A voz da Amazônia;; a ;Ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres; e a Igreja ;com rosto amazônico e missionário;. Na última quarta-feira, Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto o núncio apostólico Giovanni d;Aniello, representante do papa Francisco no Brasil. No entanto, o assunto tratado não foi revelado.