Politica

Movimentação reabre discussão sobre importância de Lula no cenário político

Movimentos em torno da progressão do regime da pena do ex-presidente reabrem a discussão sobre a importância do petista no atual cenário político. O Planalto sabe, porém, que o debate é positivo para Bolsonaro

Leonardo Cavalcanti
postado em 06/10/2019 08:00
LulaO helicóptero com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva traçou um círculo no céu antes de pousar no alto do prédio da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Às 22h30 daquele sábado, 7 de abril de 2018, o petista foi escoltado até a cela improvisada no imóvel da corporação, onde está até hoje, 17 meses depois da prisão. Nesse período, o homem que governou o Brasil por dois mandatos (2002 a 2010) influenciou na política brasileira a ponto de levar ao segundo turno das eleições presidenciais um ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que deixou o comando do município com índices negativos de popularidade. Hoje, porém, apesar da força de Lula, o Planalto avalia que a polarização;a partir da iminência doe o fundador do PT deixar a carceragem; favorece Jair Bolsonaro.

Antes de tentar explicar o fenômeno da polarização política brasileira, é necessário mostrar o quanto a força de Lula serve como contraponto a adversários. Nas últimas três décadas, o Partido dos Trabalhadores sempre esteve como protagonista do cenário eleitoral do país. Por mais que legendas como PSDB, PMDB, DEM (ex-PFL), PDT e PSB sempre se mostrassem competitivas em relação a candidatos próprios ou simplesmente apoios, o PT pode dizer ; e por que não, se orgulhar ; que participou de todas as eleições para ganhar ou ficar em segundo lugar. E o protagonista de todas as disputas foi Lula, mesmo quando, em 1994 e 1998, viu o tucano Fernando Henrique Cardoso vencer no primeiro turno.

Vale lembrar que, mesmo quando perdeu, o PT avançou algumas casas nas eleições estaduais, na Câmara dos Deputados e no Senado. O próprio Lula, ainda que derrotado por Fernando Collor (1989) e FHC, conseguiu sair maior dessas eleições, levando a melhor em 2002 contra José Serra e, em 2006, contra Geraldo Alckmin. Mas a lógica não se repetiu nas eleições de 2018, apesar de o plano inicial de Lula ter funcionado. Apesar de estar preso, o ex-presidente adiou a definição do nome de Haddad até o limite da legislação, mesmo com os riscos de não emplacar o nome do pupilo diante dos eleitores. O ex-prefeito cresceu e chegou ao segundo turno. Uma série de circunstâncias, como a facada em Bolsonaro, a má escolha do nome da vice e as fake news, amarraram Haddad. Mas o problema para o PT veio depois da campanha.

Polarização


Depois da eleição, o PT não avançou para além das urnas, como conseguiu em outros períodos pós-campanha. Haddad, apesar de ter conquistado 47 milhões de votos, caiu na armadilha das disputas internas e o partido se isolou nos principais movimentos do Congresso, tanto na Câmara quanto no Senado. Assim, Lula é o principal motor do partido. E os movimentos ;sai-deixa-cadeia; apenas reforçam tal aspecto, amplificado quando, por exemplo, recebe o título de cidadão honorário de Paris, na semana passada. ;É inegável a força política de Lula, mas há um detalhe: ela só reforça a polarização com Bolsonaro;, diz Ivo Coser, coordenador do grupo de teoria política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Com chances próximas a zero de voltar a ter direitos políticos, mesmo fora da cadeia , Lula se divide em polos com Bolsonaro sem permitir que outros candidatos de centro-direita ou centro-esquerda, como João Doria, Luciano Huck e Ciro Gomes, quebrem a polarização. ;O maior desejo do governo é a polarização com Lula;, avalia Coser. ;A tendência é de maior acirramento do debate político com a saída de Lula da cadeia. E isso não é má notícia para Bolsonaro;, diz Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Movimentos em torno da progressão do regime da pena do ex-presidente reabrem a discussão sobre a importância do petista no atual cenário político. O Planalto sabe, porém, que o debate é positivo para Bolsonaro

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