Politica

Justiça abre ação contra suspeitos de extorquir o deputado Luís Miranda

O Correio teve acesso com exclusividade ao relatório da Polícia Civil do DF, que detalha como funcionava o esquema de extorsão

Jorge Vasconcellos
postado em 07/10/2019 22:04

perfil de homem em frente a um microfoneA 6a Vara Criminal do Distrito Federal abriu ação penal contra dois youtubers acusados de tentar extorquir o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF). O alemão Daniel Luís Mogendorff Franken e o brasileiro Mauro Cavanha Conceição foram denunciados pelo Ministério Público do DF por exigirem dinheiro e outras vantagens em troca da retirada de vídeos em que Luís Miranda era acusado de praticar golpes milionários nos Estados Unidos antes de se eleger deputado. O Correio teve acesso com exclusividade ao relatório da Polícia Civil do DF, que detalha como funcionava o esquema de extorsão.

Daniel, que morava em Israel, foi preso em flagrante em Brasília no dia 5 de setembro deste ano, momentos depois de se encontrar com o deputado Luís Miranda no restaurante Coco Bambu. Na ocasião, o parlamentar, que já havia denunciado as tentativas de extorsão à polícia, usava um aparelho instalado pelos investigadores para gravar a conversa.

Durante o encontro, segundo o relatório da Polícia Civil, Daniel exigiu R$ 360 mil em troca da retirada dos vídeos utilizados para desconstruir a imagem do deputado. Para provar que tinha esse poder, ele telefonou, na frente de Luís Miranda, para Mauro Cavanha, que mora nos Estados Unidos. Na ligação, Daniel pediu que Cavanha retirasse um dos vídeos do ar. Minutos depois, o vídeo foi retirado.

Ainda durante o encontro no Coco Bambu, Daniel exigiu o pagamento de R$ 400 mil em troca da não publicação de uma reportagem contra o deputado na imprensa. O parlamentar, na ocasião, entregou apenas R$ 4 mil, dizendo que era um adiantamento, e se comprometeu a complementar os valores pedidos posteriormente.

Segundo o relatório da Polícia Civil, ao ser interrogado, Daniel afirmou ter vindo ao Brasil com o objetivo de oferecer a Luís Miranda um serviço de assessoria, no qual estaria incluída a retirada dos vídeos produzidos para desconstruir a imagem do parlamentar.

"Os indícios reunidos no presente inquérito policial demonstram que LUÍS CLÁUDIO FERNANDES MIRANDA, após sua eleição como deputado federal, passou a ser constrangido a pagar vantagem indevida como condição para interromper uma campanha de desconstrução de sua imagem junto à internet", diz um trecho do relatório policial.

"Os fatos relacionados ao mencionado crime, por conseguinte, não se restringem às gravações registradas na noite do dia 05/09/2019 no restaurante Coco Bambu", afirma outra parte do texto, em referência a diversas ligações telefônicas trocadas entre Daniel e o parlamentar, sempre com pedidos de vantagens indevidas.

O inquérito em questão trata apenas da extorsão praticada por Daniel no restaurante Coco Bambu. Há um segundo inquérito que investiga a ligação de Mauro Cavanha com outros youtubers acusados de extorsão contra o deputado Luís Miranda. Nesse inquérito, Cavanha foi indiciado por extorsão, difamação, incitação ao crime e organização criminosa. Os mesmos crimes foram imputados a Giselle Sousa Pereira, Eder Santos Carvalho e Lauri de Matos Filho.

No dia 8 de setembro deste ano, o programa Fantástico, da Rede Globo, exibiu uma reportagem em que o deputado Luís Miranda era acusado de, antes de se eleger deputado, praticar golpes milionários contra pessoas que aceitaram se associar a ele em supostos negócios nos Estados Unidos. Um dos entrevistados, o empresário Sandro Silveira Antonalia, disse que teve um prejuízo de R$ 150 mil. O deputado Luís Miranda nega as acusações.

O mesmo Sandro Antonalia é alvo de uma representação apresentada pelo deputado, em 17 de setembro deste ano, à Polícia Civil de São Paulo. No documento, Luís Miranda rebate a acusação do empresário, registrada em boletim de ocorrência no plantão policial em Sorocaba, de que, em junho, foi ameaçado por dois homens ligados ao parlamentar que teriam viajado à cidade com esse objetivo.

Na representação, o deputado nega a acusação e pede que o empresário seja investigado por falsa comunicação de crime. Ao documento, o parlamentar anexou cópias de passagens aéreas para comprovar que as duas pessoas citadas por Sandro não se encontravam em Sorocada na data citada no boletim de ocorrência. O caso está sendo analisado pelo 3o Distrito Policial de Sorocaba, que vai decidir se abre ou não inquérito contra o empresário.

O deputado Luís Miranda, em entrevista ao Correio, afirmou os inquéritos policiais em Brasília, a ação penal aberta pela Justiça do DF e a representação em exame pela polícia de São Paulo vão comprovar que ele é inocente de todas as acusações.

"Todos os youtubers que me acusaram estão indicados ou viraram réus na Justiça. Já o Sandro, que disse ter tido um prejuízo de cento e cinquenta mil reais, nunca fez negócio comigo. Ele lavava carros em frente ao meu prédio nos Estados Unidos e não tem como comprovar de onde teria levantado todo esse dinheiro", disse o parlamentar. "Não há nenhum inquérito contra mim, nem processo judicial", continuou, acrescentando que o seu partido, o Democratas, arquivou, por falta de provas, a apuração dos fatos narrados na reportagem do Fantástico.

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