Politica

Bolsonaro sobre a situação do PSL: ''O partido está estagnado''

Presidente não escondeu a insatisfação e mobilizou críticas de deputados da legenda

Ingrid Soares, Augusto Fernandes
postado em 10/10/2019 06:00

Jair Bolsonaro: ''O povo quer um partido diferente, atuante''Apesar de amenizar a possibilidade de se desfiliar do PSL, o presidente Jair Bolsonaro continua sem esconder a insatisfação com a sigla e voltou a criticar a legenda, nesta quarta-feira (9/10), ao dizer que o partido está estagnado. ;O povo quer um partido diferente, atuante;, comentou. Mas o incômodo do presidente mobilizou deputados federais da legenda insatisfeitos, que assinaram um documento em defesa de Bolsonaro e um pedido para que o partido ;adote novas práticas, com a instauração de mecanismos que garantam absoluta transparência na utilização de recursos públicos e democracia nas decisões;. Mesmo diante das reclamações, pelo menos pelos próximos dias, o presidente garantiu que permanecerá como pesselista. ;Por enquanto, tudo bem;, afirmou.


Desde que desabafou a um apoiador, que se apresentou a ele como pré-candidato do PSL a vereador em Recife (PE), há dois dias, Bolsonaro revelou um clima de instabilidade dentro do partido. Na ocasião, ele pediu ao simpatizante para ;esquecer o PSL; e disse que o presidente da legenda, o deputado Luciano Bivar (PE), ;está queimado pra caramba;. Uma das razões para o desgaste seria o suposto esquema de candidaturas laranjas montado na legenda em Minas Gerais, nas eleições do ano passado, que teria sido abastecido com recursos do fundo partidário. Fariam parte do esquema o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, recentemente indiciado pela Polícia Federal, o ex-chefe da Secretaria-Geral Gustavo Bebianno, e Bivar.

Bolsonaro, contudo, nega que haja crise partidária. ;Não tem confusão nenhuma. É que nem briga de marido e mulher. De vez em quando acontece, né? Está tudo bem, não tem problema;, minimizou. No entanto, pessoas próximas ao chefe do Executivo garantem que ele está desconfortável com a situação. ;A única coisa que ele tem em mente é a transparência do ambiente onde está convivendo. Então, como isso não foi permitido no ambiente em que ele se encontra, ele, como tem a bandeira da nova política e da transparência com o dinheiro público, não está confortável no ambiente em que se encontra;, disse o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Admar Gonzaga, que também é consultor informal de Bolsonaro, com quem se encontrou no Palácio do Planalto. Segundo ele, o presidente pode sair da legenda sem perder o mandato alegando justa causa, de acordo com a jurisprudência do TSE, caso não haja transparência com os recursos do fundo partidário.

Em um dos desdobramentos do ambiente instável no PSL, a advogada Karina Kufa, que era responsável pelo controle jurídico da sigla desde fevereiro, manifestou a Bivar que não tinha mais interesse no contrato com o partido. O desligamento dela chegou a ser classificado como demissão, mas a advogada negou que tenha sido dispensada.

;Na verdade, foi um desacordo contratual, porque eu nunca fui funcionária do PSL, mas sim, advogada. E o PSL era um dos meus clientes;, disse. Ela acrescentou que estará ;ao lado do presidente em qualquer situação e com qualquer decisão dele;, e frisou que existem vários desgastes dentro da legenda. Questionada se Bolsonaro sairia do partido pela porta da frente, a advogada não hesitou: ;Pode ser que sim. Aí, vai ter que estudar estratégia e avaliar;.

Segundo o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, Bolsonaro não ;pretende deixar o PSL de livre e espontânea vontade;. ;Qualquer decisão nesse partido seria unilateral. Ele não tomará a decisão de sair do partido, ao menos no momento;, assegurou.

Por outro lado, Rêgo Barros declarou que o presidente aguarda mudanças do partido. ;O presidente reiterou que uma de suas premissas, e o fez de forma enfática, é a firmeza na defesa das bandeiras de campanha que o trouxeram ao Planalto. Destacou, ainda, que o PSL deve ser um diferencial na política. O que ele deseja é que o partido seja uma referência nacional baseado nos ditames que ele elencou ao longo da própria campanha;, informou

Encontro acalorado

A conversa do presidente com 16 deputados federais da sigla foi recheada de discussões, com gritaria, bate-boca e dedo médio em riste. Sem a presença de nenhum líder do partido ou do governo na Casa, os parlamentares apresentaram posicionamentos distintos quanto ao apoio a Bolsonaro na saída do PSL.

;Fiquei decepcionado com a posição de alguns colegas que mostraram que o que conta é ficar ao lado do poder financeiro do partido. Assim como Bolsonaro, eu também não posso ficar refém do dinheiro público para fazer política séria;, lamentou Bibo Nunes (RS).

Horas após o fim da reunião, 20 dos 52 parlamentares do PSL divulgaram uma nota na qual afirmam que se identificam com o presidente Bolsonaro. ;Nós, parlamentares do PSL, comprometidos com o projeto de um novo Brasil, que foi e que é encabeçado pelo nosso presidente Jair Bolsonaro, reiteramos o acordo firmado em 2018 com a grande maioria dos brasileiros de construir um país livre da corrupção, em nome dos valores republicanos voltados à consolidação da nossa bandeira de ética na democracia e de justiça social;, diz um trecho do texto.

À noite, Bolsonaro esteve no aniversário de 67 anos do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes. Mais cedo, o TCU havia decidido manter a suspensão da campanha publicitária que promove o pacote anticrime, formulado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.

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