Politica

PSL caminha para a divisão

Porta-voz diz que %u201Cqualquer casamento é passível de divórcio%u201D, mas que Bolsonaro ainda não decidiu deixar a sigla. Cúpula do partido ameaça expulsar descontentes

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 15/10/2019 04:14
Presidente discute 
saídas jurídicas para que parlamentares possam sair do partido sem punição

Correligionários do presidente Jair Bolsonaro no Congresso admitem que o cisma dentro do Partido Social Liberal (PSL) é irreversível. Lideranças da sigla na Câmara já articulam a desfiliação de alguns deputados que fizeram coro às reclamações de Bolsonaro contra o partido, ameaçando-os de expulsão se a saída não for amigável. O desgaste se agravou desde que o do chefe do Executivo recomendou, há uma semana, que um apoiador ;esquecesse; a legenda, indicando que ele próprio pode tomar a decisão de sair da agremiação.

Ontem, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, disse que, no entender do presidente, ;qualquer casamento é passível de divórcio;. ;Eventualmente, chega-se à situação de que é preciso que haja divórcio. Mas ele não qualificou que este momento, ou que este casamento, vai gerar divórcio. Ao menos neste momento;, afirmou.

Bolsonaro completa, hoje, 19 meses e sete dias de filiação ao partido que abriu as portas para ele e os filhos nas eleições de 2018; e permitiu até que o clã comandasse a legenda. Nos bastidores, o presidente busca uma saída jurídica para justificar o desligamento do PSL. Na semana passada, ao lado de 21 parlamentares ; entre eles o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ; assinou documento cobrando prestação de contas e auditoria externa das finanças do partido. Dessa forma, tanto o presidente quanto parlamentares poderiam usar eventuais irregularidades para solicitar desfiliação da sigla por justa causa, sem que haja perda de mandato.

Nos últimos dias, enfraquecido pelas declarações do chefe do Executivo, o deputado Luciano Bivar (PSL-PE), presidente do partido, recorreu a congressistas para defender a sigla. Estão ao seu lado, por exemplo, os deputados Júnior Bozzella (PSL-SP) e Felipe Francischini (PSL-PR), além do vice-presidente do partido, Antônio Rueda.

Equívoco
Bozzella, que surgiu como um ;porta-voz informal; da legenda na Câmara, afirmou ao Correio que a crise não foi criada pelo grupo que se mantém fiel ao PSL. ;Foi uma minoria, talvez um grupo de advogados que influenciaram parlamentares e induziram o presidente ao equívoco que tomou essas proporções. Nós entendemos que o Bivar foi honesto, abriu as portas e entregou para o grupo Bolsonaro o controle político, jurídico e financeiro do partido. O problema de mau uso do dinheiro não está dentro do PSL. Se houve algum erro, foi pontual, como o dos laranjas. Não houve conluio para usar recursos;, defendeu.
O parlamentar disse, ainda, que quer saber por que os deputados que ameaçam deixar o partido com o presidente não questionam a situação do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, presidente do diretório mineiro do PSL, suspeito de desviar fundos com o uso de candidaturas laranjas. ;Eles poderiam iniciar o debate pedindo transparência, solicitando investigação nas contas do ministro. Não vejo essa coerência. Querem criar uma narrativa? Ok. Vamos ser objetivos. Saiam do partido e deixem o fundo partidário;, desafiou.

Em meio às discussões sobre o futuro do PSL, Bolsonaro voltou a receber, ontem, a advogada Karina Kufa e o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Admar Gonzaga, que também é consultor informal do presidente. Segundo fontes, na conversa, Bolsonaro declarou que vai esperar ter acesso à prestação de contas para dar um ultimato ao partido. A princípio, ele fica no PSL.

O presidente também recebeu interlocutores do governo na Câmara. Os encontros serão cada vez mais constantes durante a semana. Líder do partido na Casa, o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO) disse que ;o PSL teria muito provavelmente acabado se não tivesse dado a legenda para o presidente;. Ele defendeu que a sigla se una para encontrar uma solução e não vire as costas a Bolsonaro. ;O mais importante para quem está desse lado é a manutenção do vínculo e da lealdade com o presidente. Vamos ter que fazer nosso cálculo político para saber a melhor maneira de sair sem colocar os mandatos individuais em risco;, analisou.

O também pesselista Bibo Nunes (RS) desafia o partido. ;Disseram que vão me expulsar. Pra mim, é uma grande honra. O PSL é o contrário do que imaginávamos. Não tem transparência. Estou há três meses brigando com o partido. Já me tiraram de comissões e dos grupos de Whatsapp. Não tem mais volta. Eu lamento a separação;, disparou.

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