Politica

Operação da Polícia Federal agrava a crise dentro do PSL

Presidente do partido, deputado Luciano Bivar, que disputa controle da legenda com bolsonaristas, é alvo de operação da Polícia Federal

Renato Souza
postado em 16/10/2019 06:00
Bolsonaro deu sinais de que deixaria a sigla uma semana antes de a Polícia Federal agir, mas, segundo o porta-voz, Uma operação da Polícia Federal (PF), deflagrada como parte das investigações sobre candidaturas laranjas nas eleições do ano passado, agravou ainda mais a situação do PSL, que corre o risco de sofrer uma fragmentação das bancadas na Câmara e no Senado. O presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), foi alvo de mandados de busca e apreensão autorizados pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco. A ação da PF surpreendeu os partidários de Bivar, que travam uma queda de braço com os parlamentares bolsonaristas pelo controle da legenda. Em meio à turbulência, o líder do partido na Câmara, Delegado Waldir (GO), acusou o presidente Jair Bolsonaro de ter obtido acesso prévio às informações sobre a operação.

Nas duas semanas anteriores à ação da PF, o chefe do Executivo se reuniu pelo menos duas vezes com o diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo. De acordo com informações da agenda pública de Bolsonaro, no último dia 4, uma sexta-feira, ele se encontrou com Valeixo no Palácio do Planalto. Cinco dias depois, na quarta-feira, o presidente voltou a se reunir com o chefe da PF, que, desta vez, estava acompanhado do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. O assunto tratado durante os encontros não foi divulgado.

Nesta terça-feira (15/10), no fim da tarde, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou que Bolsonaro não teve conhecimento prévio da ação da PF. ;O presidente desconhecia a operação. Não fez comentários. (Ele) entende que a operação, sendo de responsabilidade da Polícia Federal, órgão com tamanha relevância e confiança da sociedade, foi conduzida da melhor forma possível;, disse o porta-voz.

Rêgo Barros afirmou, ainda, que o presidente não considera a operação da Polícia Federal contra Bivar como uma ;justa causa; para permitir que parlamentares aliados deixem a sigla sem perder o mandato, como vem sendo veiculado nos bastidores nos últimos dias. ;O presidente não entende como justa causa (a operação da PF). Até porque seria como antever o futuro. E nenhum de nós é vidente em situações políticas;, disse. E acrescentou que Bolsonaro não decidiu se deixará o PSL: ;Neste momento, o presidente avalia todas as possibilidades;.

Na terça-feira da semana passada, ao ser abordado por um apoiador em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente deu o primeiro sinal de que poderia se afastar do PSL. Ao gravar um vídeo com o presidente, o homem citou o nome do deputado: ;Eu, Bolsonaro e Bivar juntos por um novo Recife;. Imediatamente, Bolsonaro pediu para que as imagens não fossem divulgadas. ;Cara, não divulga isso, não. O Bivar está queimado para caramba lá. Vai queimar meu filme também. Esquece esse cara, esquece o partido;, disse o presidente.

As equipes policiais saíram às ruas logo cedo. A corporação cumpriu nove mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao parlamentar em Pernambuco. Entre os locais visitados, estava a sede do PSL em Recife e uma casa ligada a Bivar em Jaboatão dos Guararapes (PE). Segundo a PF, as investigações têm como alvo um esquema de desvio de recursos do Fundo Partidário que deveriam ser destinados à campanha eleitoral de candidatas da sigla. De acordo com os investigadores, as irregularidades ficaram comprovadas após ;verificação preliminar de informações que foram fartamente difundidas pelos órgãos de imprensa nacional;.

Provas


Ainda segundo a PF, a operação tem como objetivo captar provas que possam ser usadas para fundamentar as acusações contra os suspeitos. ;Tendo em vista que ao menos 30% dos valores do Fundo Partidário deveriam ser empregados na campanha das candidatas do sexo feminino, há indícios de que tais valores foram aplicados de forma fictícia objetivando o seu desvio para livre aplicação do partido e de seus gestores;, informou à PF, em nota.

A corporação informou ter solicitado autorização para realizar as buscas em agosto deste ano. No entanto, a Justiça levou quase dois meses para decidir. Em nota, o escritório do advogado Ademar Rigueira, que faz a defesa de Luciano Bivar e do PSL em Pernambuco, disse ver com ;estranheza; o momento em que a operação foi realizada, tendo em vista que o partido passa por um momento de conflito com o Poder Executivo. ;A busca é uma inversão da lógica da investigação, vista com muita estranheza pelo escritório (de defesa), principalmente por se vivenciar um momento de turbulência política;, destacou um trecho do documento.

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