postado em 20/10/2019 04:04
O general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, disse, ontem, que a reforma da Previdência, que irá ao plenário do Senado em 22 de outubro, não corre risco. Ele afirmou não acreditar que parlamentares eleitos na esteira do presidente votariam contra o projeto por conta de uma briga interna. Também ontem, o ex-deputado Alberto Fraga visitou Bolsonaro. Ele disse ter aconselhado o presidente e pedido calma. O líder do partido na Câmara, Delegado Waldir, por sua vez, estava inacessível, por conta de um problema de saúde na família. E nas redes sociais, Joice Hasselmann trocou farpas com Eduardo Bolsonaro. Ela o chamou de ;picareta; e ;menino;, e ele a chamou de ;Pepa;.
Paulo Gontijo, presidente do Livres, movimento que surgiu no seio do PSL e deixou o partido após a entrada da família Bolsonaro, fez uma análise da crise do PSL. Disse desconhecer o ponto de ruptura, se houve a quebra de um pacto ou um desalinho de expectativas. Ainda assim, arriscou afirmar que a briga, de fato, é ;pela chave do cofre;. ;Não tenho como saber se alguém começou a querer o que não estava combinado. Mas, a briga é pela chave do cofre. Pelo espaço de poder. Uma coisa que eu vejo é o Bivar em uma situação mais confortável. Ele sempre amarrou muito bem o partido. Nunca abriu brecha para ser contestado. O que vai sobrar para os bolsonaristas é judicializar, tentar prestação de contas, e tentar ganhar espaço para uma negociação; avaliou.
Questionado sobre a sensação de ver a briga interna do PSL após o racha do Livres com o partido, Gontijo foi pragmático. ;Tem dois sentimentos simultâneos. Uma tristeza institucional, de ver a política do país chegando a esse nível. É um negócio que me entristece bastante. O outro é de familiaridade. Vi isso acontecendo. Muda-se o combinato e alguém paga o pato. Nesse caso, parece que quem vai pagar o pato é o presidente da República;, supôs.
Longe do fim
Para o especialista em direito eleitoral e político, Eduardo Tavares, a briga está longe do fim, e logo deve parar na Justiça Eleitoral. ;Havendo deputados que, em razão da crise instalada, busquem trocar de partido, pode ser instaurada uma disputa jurídica que reclame a intervenção do TSE e até mesmo do Supremo. De um lado, deputados pedindo o reconhecimento da justa causa para mudar de partido, e de outro, o PSL a defender que os mandatos são do partido. Será literalmente uma guerra;, previu.
Tavares acata o discurso de falta de transparência do partido, mas inclui o presidente da República no âmago do problema. ;O partido e gestão não são a família do presidente. O PSL tem se voltado para blindar o presidente e os filhos dele. Nesse ponto, o Brasil é uma pauta secundária. Teve que parar para discutir se era nepotismo a indicação do filho para a embaixada. Para a bandeira que levantaram de transparência e lisura, essa discussão tinha que ser inexistente. Os filhos atacam além do viés político. Aí vemos a autofagia. O partido digladiando-se, os aliados se destruindo. Enquanto a briga for de ego, a disputa de poder só vai seacirrar. As práticas que refutavam do PT se repetem no PSL. Falta consciência;, criticou.
Também para o especialista, é o presidente da República quem mais perde com a disputa. ;Se Bolsonaro sai e com ele vão vários deputados, quem perde é Bolsonaro. O melhor para o partido é aparar arestas, calar um pouco, estabelecer prioridades. É cômico que o presidente seja gravado por um deputado, o que demonstra desconfiança. Ele cobra transparência, sendo que não está sendo transparente com o líder. É questão de diálogo. Não há saída jurídica. A crise pode durar oito anos, mas o mandato é de quatro anos. O país não tem tempo de ver o PSL se implodir e se reconstruir. Transparência é necessária;, afirmou. (LC e IS)
Havendo deputados que, em razão da crise instalada, busquem trocar de partido, pode ser instaurada uma disputa jurídica que reclame a intervenção do TSE e até mesmo do Supremo;
Eduardo Tavares, especialista em direito eleitoral e político