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País quer dinheiro árabe para projetos

Fundos soberanos dos países do Golfo Pérsico visitados pelo presidente Jair Bolsonaro têm R$ 2,2 trilhões em ativos. Comitiva brasileira tenta afastar obstáculos políticos criados por alinhamento com Israel e atrair parte desses recursos para o programa de privatizações

postado em 27/10/2019 04:14
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Na reta final da mais longa viagem ao exterior, o presidente Jair Bolsonaro começou ontem a agenda oficial no Oriente Médio. A última escala dele antes de voltar ao Brasil é marcada pelas visitas a três países do Golfo Pérsico: Emirados Árabes Unidos, Catar e Arábia Saudita. Tendo em vista o potencial dos fundos soberanos das nações, o principal objetivo econômico do chefe do Palácio do Planalto será apresentar oportunidades para tentar atrair investimentos aos projetos de concessões e privatizações no âmbito do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI).

Segundo o Poder Executivo, hoje a carteira do programa conta com 118 projetos, com previsão de R$ 1,3 trilhão em investimentos. Os países árabes são importantes para incrementar mais recursos, na avaliação do governo, pois o Brasil explora uma parcela mínima do valor dos fundos soberanos de cada um: dos cerca de US$ 2,2 trilhões de ativos que as três nações têm juntas, menos de US$ 15 bilhões estão injetados aqui.

;Queremos levar ao conhecimento desses países as reformas macro e microeconômicas em curso no Brasil, que podem fazer com que a gente entre em uma fase de crescimento econômico sustentado. Existe um potencial grande na nossa carteira do PPI, razão pela qual muitos ministros acompanham o presidente para conversar nos corredores com empresários e autoridades, e dar detalhes sobre o que está sendo levado a cabo no Brasil. Será um grande esforço de atração de investimentos;, detalha o secretário de Negociações Bilaterais no Oriente Médio, Europa e África do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Kenneth Nóbrega.

Hoje, em Abu Dhabi, o Brasil e os Emirados Árabes devem assinar dois memorandos de entendimento na área da Defesa (veja matéria na página 3). A viagem à região é uma oportunidade para o Brasil intensificar as relações bilaterais com os países do Golfo Pérsico, visto que, atualmente, os três contribuem pouco para as exportações nacionais: apenas 2,13%, nos números do Ministério da Economia. De qualquer forma, eles aparecem como os principais compradores de proteína animal brasileira ; o Brasil é o maior exportador mundial de carne halal, consumida principalmente por muçulmanos.

Na pauta, existem acordos voltados à agropecuária; aviação civil; transporte marítimo; biodiversidade; produção alimentar; cooperação esportiva; cooperação em defesa; e cooperação em ciência, tecnologia e inovação, entre outros. ;São alguns atos que queremos firmar dentro da perspectiva de expansão dos negócios, começando com os Emirados Árabes Unidos, onde estamos mais avançados. Fechamos acordo de cooperação e facilitação de investimentos, e estamos fazendo força para que as revisões jurídicas fiquem prontas para o presidente assinar;, comenta Nóbrega.

Tensão política
A aproximação com os países árabes, no entanto, depende de fatores políticos. Depois de ter sugerido a transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, uma de suas promessas de campanha, Bolsonaro criou constrangimento junto à comunidade árabe. Isso porque Jerusalém é alvo de disputas religiosas entre israelenses e palestinos. Posteriormente, o presidente mudou de ideia e anunciou a abertura de apenas um escritório comercial na cidade ; voltado à promoção de negócios, ciência, tecnologia e informação ;, que deve iniciar as operações até o fim do ano.

;As notícias que foram veiculadas na época nos causaram grande preocupação. Por isso, organizamos missões a Israel, para conversar ;cara a cara; e explicar. Isso fez baixar um pouco a poeira e o resultado foram os convites para o presidente Bolsonaro visitar os países do Golfo;, comenta Nóbrega, acrescentado que, em 2020, devem ser feitas mais excursões ao Oriente Médio. ;Já existem conversas para irmos ao Kuwait e a outro grande país das Arábias.;

Ainda assim, serão necessários mais gestos para contornar a afronta que ele fez à reputação do mundo árabe. Não à toa, Bolsonaro terá compromissos importantes com chefes de Estado e outros representantes políticos. Na agenda, além do encontro com o príncipe herdeiro dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed Bin Zayed Al Nahya, estão reuniões com o primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, xeque Mohamed bin Hashed Al Maktoum; com o emir do Catar, Tamim bin Hamad Al-Thanii; o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman; e o rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdel Aziz.

Para o coordenador geral do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (Gacint-USP), Alberto Pfeifer, de modo geral, Bolsonaro visa estreitar laços e pontes de diálogo, melhorando, assim, a imagem sobre seu perfil político. ;Não viajar significa não aprofundar parcerias e contatos. Dada a percepção externa sobre Bolsonaro, principalmente nas democracias ocidentais, as viagens também visam eliminar essa percepção. O Brasil tem relação frutífera e amistosa com esses países. Se houve alguma fase não muito feliz em que o presidente possa ter dito algo que foi malvisto, isso tem a chance de ser corrigido agora, além de estabelecer programas de trabalho;, observa.

Rendimento
Amenizar a relação pode abrir caminho para que o Brasil conquiste mais investimentos. ;Esses países procuram investir em atividades rentáveis e buscam fluxo contínuo e estável. O Brasil está à beira de exposição de carteiras de infraestrutura. Eles se interessam, por exemplo, em concessões de serviços públicos como energia, ferrovias, portos e aeroportos, projetos que têm rendimento constante com retorno e baixo risco. O Brasil é um grande mercado para isso. Comparado com outros países em desenvolvimento, é um dos melhores para esse tipo de investimento e de maior economia, adicionado de baixa inflação;, frisa Pfeifer.

Riqueza para o futuro
O fundo soberano é um instrumento administrado por um governo com objetivo predeterminado. Geralmente, um fundo soberano gerencia recursos oriundos de lucros realizados com a extração de recursos minerais, além dos royalties dessas atividades. Eles são criados tanto para rentabilizar os recursos naturais quanto para acumular riqueza para as gerações vindouras.

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