Politica

Crise sobe a rampa do Planalto

Depoimento de assessores da Presidência na CPI das Fake News agrava turbulência no PSL e expõe ação de filhos de Bolsonaro

postado em 28/10/2019 04:04
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Os fantasmas das eleições de 2018 ainda devem assombrar muita gente graúda do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos dias, a crise na legenda mudou de patamar e escalou a rampa do Palácio do Planalto. As atenções voltadas às candidaturas de fachada em Pernambuco e Minas Gerais agora se voltam também para as suspeitas de que a estrutura da sede do governo esteja sendo usada para comandar um batalhão de perfis falsos nas redes sociais, com a missão de espalhar difamações e mentiras. Em entrevista ao Correio, o presidente da CPI mista das Fake News, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), disse que ;a comissão de inquérito não foi criada para servir de arena de disputa política, mas adotará todo o rigor nas investigações e na responsabilização dos envolvidos;.

;A CPMI aprovou requerimento de convocação de pessoas que trabalharam na campanha do presidente Jair Bolsonaro para que esclareçam denúncias de disseminação de fake news. Vamos apurar com todo o rigor, mas não vou permitir que a CPMI seja transformada em palanque para quem queira se vingar;, afirmou o senador, assegurando não ser governista nem de oposição. ;Nosso objetivo é deixar um grande legado para o país, com uma legislação mais dura contra as fake news e uma maior proteção para a sociedade. Afinal, as fake news destroem reputações, ofendem famílias, e não podemos mais permitir que pessoas mal-intencionadas se sintam seguras por trás de um computador para continuar a fazer isso;, afirmou.

Impulsionada pelas investigações sobre o uso de candidaturas fantasmas nas eleições passadas, a crise no PSL se transformou em uma disputa interna entre partidários do presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), e de Bolsonaro. O presidente da República virou alvo de ameaças e acusações de ex-aliados. A revelação da deputada Joice Hasselmann (SP), retirada por Bolsonaro da liderança do governo no Congresso, de que a difusão de fake news iniciada na campanha continua a todo vapor dentro do Planalto abalou em Brasília.

Nos próximos dias, a CPMI vai agendar os depoimentos de seis assessores de Bolsonaro que tiveram a convocação aprovada na semana passada. Os requerimentos foram apresentados pela oposição, que tem maioria no colegiado e imposto sucessivas derrotas à ala governista. Entre os convocados estão integrantes do chamado ;gabinete do ódio;, uma expressão usada internamente no governo para se referir ao grupo formado pelos assessores especiais da Presidência Tércio Arnaud Tomaz e José Matheus Sales Gomes, além de Mateus Diniz, lotado na Secretaria de Imprensa. Eles são ligados ao vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente.

A lista de convocados inclui também duas assessoras que trabalharam na AM4 Inteligência Digital, empresa contratada pela campanha de Bolsonaro. São elas Rebecca Félix e Taíse Feijó, trazidas para o governo pelo ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno, demitido em fevereiro depois de se desentender com Carlos Bolsonaro. Rebecca foi demitida do cargo que ocupava no Palácio no último dia 17. Durante a campanha, ela coordenou a equipe de comunicação digital, encarregada das redes sociais. Chegou a prestar depoimento no Tribunal Superior Eleitoral em processo que investiga o disparo de mensagens em massa por WhatsApp.

Taíse, lotada na Secretaria de Modernização do Estado, entrou no governo na assessoria do Bebianno, que coordenou a campanha de Bolsonaro. Na AM4, ela ajudou a operar a estratégia de comunicação digital do então candidato. Outros convocados pela CPMI são o secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, e o assessor especial da Presidência Filipe Martins.

As expectativas para esta semana na CPI giram em torno do depoimento do deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), ex-aliado e agora desafeto de Bolsonaro, marcado para quarta-feira. Em agosto, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ao ser questionado sobre o suposto impulsionamento de fake news pela campanha presidencial do PSL, Frota respondeu que sabia de todo o método. Como o parlamentar foi convidado, ele não é obrigado a comparecer

Os movimentos em Brasília indicam que a crise do PSL poderá trazer ainda mais dores de cabeça para Bolsonaro. Há um sentimento grande de revolta entre deputados contra o presidente e seu filho e deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que se tornou líder da legenda na Câmara em substituição a Delegado Waldir (GO), após uma conturbada disputa.

Apesar de Eduardo insistir que a poeira baixou e a crise está debelada, uma forte tensão ainda está no ar. ;Eles desmoralizaram o partido publicamente de uma maneira desumana, disseram que não há transparência, deram um golpe para tomar o controle, ofenderam o presidente Bivar e vários deputados, e agora querem dar uma de bonzinhos dizendo que a crise acabou? Nada disso, eles vão ter que reparar todas essas difamações que cometeram;, disse o deputado Júnior Bozella (PSL-SP).




O retorno de Queiroz
Em áudios de WhatsApp, publicados pela Folha de S. Paulo, Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), se queixa de ter sido abandonado pelo grupo político que elegeu Jair Bolsonaro no enfrentamento da investigação que o Ministério Público move contra ele e o senador. Queiroz e Flávio são investigados por supostas práticas de lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa na época em que o filho do presidente era deputado estadual no Rio. ;O MP está com uma p* do tamanho de um cometa para enterrar na gente. Não vi ninguém agir;, diz Queiroz. Em outro trecho, ele revela ter planos para o diretório regional do PSL no Rio de Janeiro, até agora comandado por Flávio. ;Resolvendo essa p* que está vindo na minha direção, vamos ver se a gente assume esse partido aí. Eu e você de frente aí. Lapidar essa p*;, afirma ele ao interlocutor, que não foi identificado.




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