Agência Estado
postado em 30/10/2019 09:59
De Riad, na Arábia Saudita, onde cumpre mais uma etapa de sua viagem oficial a países da Ásia e Oriente Médio, o presidente Jair Bolsonaro usou não apenas a transmissão ao vivo em suas redes sociais para refutar qualquer ligação com o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), mas também concedeu entrevistas a veículos de comunicação, como as TVs Record, Bandeirantes e SBT para rebater a suspeição levantada em reportagem veiculada no Jornal Nacional, da Rede Globo, dizendo estar indignado e que o intuito disso é desestabilizar o País.
Na "live" e nas entrevistas, ele acusou o antigo aliado, e agora desafeto, o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC-RJ), de repassar o inquérito do caso Marielle, que corre sob sigilo, para a imprensa.
Na noite de terça-feira, 29, o Jornal Nacional veiculou reportagem mostrando que o porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, onde reside o presidente da República, falou no depoimento (que oficialmente está sob sigilo) que horas antes do assassinato da vereadora, um dos acusados de participar do crime, o ex-policial Élcio de Queiroz, entrou no local, dizendo que iria na casa 58, de Bolsonaro, e que ao interfonar para a residência, o "seu Jair" autorizou a entrada.
Neste dia e horário, contudo, Bolsonaro, que era deputado federal, estava em Brasília e tinha, inclusive registrado presença e participado de votação na Câmara dos Deputados.
No depoimento, segundo mostrou a reportagem do Jornal Nacional, o porteiro disse ainda que o carro de Queiroz, ao entrar no condomínio, seguiu para a casa de Ronnie Lessa, sargento da PM, apontado também como participante do assassinato da vereadora, e que morar no mesmo local. O porteiro disse que voltou a ligar para a casa 58 e que o homem que o atendeu anteriormente disse que sabia para onde Queiroz estava indo.
Nas entrevistas às emissoras de TV brasileiras, como a Bandeirantes, Bolsonaro disse que todos sabem o que acontece nos países da América do Sul, como o Chile, e acusou a Globo de querer levar essa crise para o Brasil, de não veicular denúncias que dizem respeito ao PT e as relações e contratos "bilionários" com a emissora, e reiterou que na renovação de sua concessão, que ocorre em 2022, "o rigor da lei" será utilizado.
"Eu trabalho 24 horas por dia para ajudar o Brasil e a Globo trabalha com fake news", acusou, dizendo que lamenta o serviço "baixo e vil" da emissora em atacar a sua família e as pessoas honestas que estão ao seu lado.
Na entrevista, o presidente disse ter "pena do porteiro" que não deve lembrar de detalhes de um ano atrás. E disse novamente que o governador Witzel, alguém que era desconhecido no Rio de Janeiro, se elegeu porque "colou" em seu filho Flávio e agora quer ser presidente da República e virou inimigo.
"Ele (o governador fluminense) colocou na cabeça que quer destruir a minha família e vazou este processo que corre em segredo de Justiça." Indagado se a Polícia Federal poderia entrar no caso, refutou a ideia, dizendo que iriam dizer que isso seria para protegê-lo. E indagou: "Quem mandou matar Jair Bolsonaro?", sobre o atentado a faca que sofreu na campanha presidencial do ano passado.
À TV Bandeirantes, Bolsonaro disse que o processo do caso Marielle já está no Supremo Tribunal Federal (STF), como lhe disse há alguns dias o próprio governador Witzel, em um aniversário no Clube Naval, por envolver uma autoridade como o presidente da República (que foi citado nos autos pelo porteiro do Condomínio Vivendas da Barra). Ao refutar qualquer ligação com o caso, o presidente da República disse novamente que está sendo vítima de um "conluio da Globo, Witzel e do delegado que conduz o inquérito".
Moro
Mais cedo, o presidente afirmou que acionará o ministro da Justiça, Sérgio Moro, para que o porteiro do condomínio preste um novo depoimento à Polícia Federal.