Politica

Apuração da morte de Marielle consolida ruptura entre Bolsonaro e Witzel

Relações entre o presidente da República e o governador do Rio têm o pior momento. Por trás da crise, estão as próximas eleições

Bernardo Bittar, Rodolfo Costa
postado em 31/10/2019 06:00
[FOTO1]O caso Marielle azedou de vez as relações entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que já estavam estremecidas. Nesta quarta-feira (30/10), pouco antes de deixar a Arábia Saudita, última etapa da viagem que fez à Ásia e ao Oriente Médio, o presidente voltou a acusar Witzel de ter vazado para a TV Globo trechos do inquérito da Polícia Civil sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco ; e classificou o governador de ;agir de forma criminosa;. Mais ainda: sugeriu que o delegado que investiga o caso inventou o depoimento que tenta envolvê-lo no caso a pedido do chefe de governo fluminense.

Witzel negou ter vazado qualquer informação das investigações e afirmou que nem mesmo teve acesso a documentos do caso, que corre em segredo de Justiça. Ele lamentou que o presidente, ;num momento talvez de descontrole emocional;, tenha feito acusações a ele. Disse esperar um pedido de desculpas como o que foi dirigido pelo presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela publicação de vídeo em que é comparado a um leão atacado por hienas.

;Eu jamais vazei qualquer tipo de documento. Sequer tive acesso a documentos que constem dessa investigação. Se esse documento vazou, como foi apresentado nesta quarta-feira (30/10)por uma emissora de televisão, que a Polícia Federal investigue;, afirmou o governador, durante inauguração de um programa do governo do estado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

O clima entre Bolsonaro e Witzel se deteriorou depois que o governador manifestou, em mais de uma ocasião, que quer disputar a próxima eleição presidencial. Em evento no Rio, em outubro, Bolsonaro citou ;inimigos internos;, numa referência velada ao governador. Na transmissão ao vivo que fez pelas redes sociais, na noite de terça-feira, de um hotel na Arábia Saudita, o presidente citou Witzel diversas vezes. Disse que ele só se elegeu por ter ficado, na campanha eleitoral, ;colado; a seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL).

O estremecimento das relações entre Witzel e o presidente levaram o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), presidente do diretório estadual do partido, de orientar correligionários na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) a abandonar a base de apoio ao governador do estado. Embora Flávio negue, a decisão teve dedo do presidente da República.

As decisões de Witzel, por sua vez, não são tomadas a esmo. O governador tem apoio irrestrito do presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo. A dobradinha, entretanto, tem dividido o partido. No Congresso, alguns parlamentares da legenda foram atendidos pela articulação política do governo e sinalizam uma postura de apoio ao Palácio do Planalto.

O deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), primeiro vice-líder do partido na Câmara, se queixa da postura de Witzel. O parlamentar evita acusar o governador de estar por trás do vazamento deliberado do depoimento do porteiro ouvido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro no caso Marielle, mas o acusa de mentir quando nega ter conversado sobre o assunto com Bolsonaro, como afirma o presidente. ;Ele nega o que não podia ter negado;, criticou.

A avaliação do parlamentar é que Witzel foi ;tomado pelo poder;. ;É uma tristeza pelo meu estado. Historicamente, quando o governador do Rio e o presidente da República não se entendem, o estado deixa de avançar e prosperar. Elegemos alguém com um discurso alinhado com o presidente e, agora, somos pegos pelo desejo de ser candidato em momento crítico para o Rio, em nome de um projeto próprio;, criticou Otoni.

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