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Caso Marielle sobe tensão, mas procuradora desfaz crise que sacudia governo

Procuradora do Ministério Público do Rio de Janeiro esvazia crise ao afirmar que funcionário de condomínio não disse a verdade ao relatar à polícia que um dos suspeitos do assassinato de Marielle Franco procurou pelo então deputado Jair Bolsonaro, na casa dele, no dia do crime

Augusto Fernandes, Renato Souza, Rodolfo Costa
postado em 31/10/2019 06:00

[FOTO1]No começo da manhã desta quarta-feira (30/10), Brasília amanheceu sob tensão. A apreensão foi provocada pela informação de que um porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, do Rio de Janeiro, havia ligado o nome do presidente da República, Jair Bolsonaro, a um dos suspeitos de assassinar a vereadora carioca Marielle Franco (PSol) e o motorista dela, Anderson Gomes, no ano passado. No entanto, ao longo do dia, o clima de crise se desfez após declarações da procuradora Simone Sibilio, chefe do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio de Janeiro. Segundo ela, o funcionário do condomínio mentiu no depoimento que prestou à polícia.

De acordo com reportagem publicada pela TV Globo, na noite de terça-feira, o porteiro afirmou que Élcio de Queiroz, acusado de dirigir o carro no momento em que Marielle foi assassinada, chegou ao residencial na tarde do dia 14 de março, horas antes do crime, dizendo que iria à casa 58, onde mora Jair Bolsonaro. O porteiro afirmou ter ligado para a casa do presidente, e um homem que ele identificou como ;seu Jair; autorizou a entrada de Élcio. Porém, verificou que o suspeito, na verdade, foi até a casa 65, que pertence a Ronie Lessa, apontado pela polícia como o autor dos disparos que provocaram a morte da vereadora.

O porteiro afirmou às autoridades que novamente telefonou para a casa de Jair Bolsonaro e obteve autorização para que o suspeito continuasse dentro do condomínio. No entanto, ao analisar gravações telefônicas da portaria, o Ministério Público do Rio de Janeiro descobriu que quem autorizou a entrada de Élcio no condomínio foi Ronie Lessa. A reportagem citou também que, naquele dia, Bolsonaro, que na época era deputado federal, estava em Brasília, como comprovam registros da Câmara.

Gravação

De acordo com a procuradora Simone Sibilio, confrontado com a gravação, o porteiro manteve o depoimento. No entanto, não apresentou provas de que estaria falando a verdade. ;A pessoa que está na cabine liga para casa 65, e isso está comprovado pelas gravações. E a pessoa que atende na casa é Lessa. Com base na pessoa que atende, precisavamos comprovar: essa voz é de quem? O Ministério Público, com base na voz de Lessa, obtida no depoimento, fez um confronto com a voz da cabine ; e o confronto deu positivo. Portanto, há prova pericial de que quem atende e quem autoriza a entrada de Élcio de Queiroz é Ronnie Lessa;, afirmou Simone. De acordo com a procuradora, qualquer pessoa que mente em depoimento pode ser punida. ;Todas as pessoas que prestam falso testemunho podem ser processadas;, disse ela.

Mais cedo, Carlos Bolsonaro, filho do presidente, que também tem residência no condomínio, já havia publicado um vídeo sobre os arquivos da portaria. Nas imagens, Carlos revela o teor de ligações para a casa 58, de Bolsonaro, em que ocorre um diálogo cotidiano, de poucos segundos, sem que Bolsonaro ou Élcio sejam citados. A ligação que está sendo usada nas investigações ocorre para a casa 65, onde Ronie Lessa atende e autoriza a entrada de Élcio.

As informações ao MP, de que o porteiro mentiu em depoimento, foram comemoradas nos corredores do Palácio do Planalto. A recomendação, contudo, é manter a serenidade. No Twitter, Bolsonaro publicou o versículo João 8:32, da Bíblia: ;E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!”.

Na saída do gabinete, o vice-presidente Hamilton Mourão bateu na mesma tecla. ;A verdade vai sempre triunfar. Acho que fica melhor para todo mundo;, comentou.

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