Politica

Saída de Lula da prisão aumenta o clima de polarização política no país

Na visão de parlamentares e de especialistas, a tendência nos próximos dias será a acentuação do embate e o consequente impacto nas eleições municipais de 2020

Rodolfo Costa
postado em 09/11/2019 07:00

[FOTO1]A saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão reacendeu o clima de polarização observado durante as eleições presidenciais de 2018. O petista saiu da cadeia já fazendo críticas ao governo. O presidente Jair Bolsonaro adotou o silêncio, mas não demorou para que filhos dele ampliassem o tensionamento com opositores. As redes sociais, por sinal, entraram em ebulição e voltaram a refletir as disputas entre os polos. Na visão de parlamentares e de especialistas, a tendência nos próximos dias será a acentuação do embate e o consequente impacto nas eleições municipais de 2020.


No início da noite desta sexta-feira (8/11), o nome Lula e a hashtag #Dia9NasRuas eram os temas mais comentados no Twitter, com provocações e discussões entre simpatizantes de ambos os lados. O líder do PSol na Câmara, Ivan Valente (SP), questionou o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) sobre a ;situação do Lula;, marcando-o num vídeo em que satiriza a participação do parlamentar em um programa de televisão ; na ocasião, o filho do presidente associou Lula à palavra livre.

Eduardo respondeu a provocação e acusou Valente e a oposição de ;ignorar o risco de botar em liberdade 160 mil presos;. ;Pedem prisão para assassinos de Marielle (Franco, vereadora assassinada), mas querem soltar bandidos de seus partidos. Piada;, disparou. O vereador fluminense Carlos Bolsonaro (PSC) também comentou a soltura de Lula. ;Não tenho dúvidas de que esse jogo virará! O Brasil não aceita mais o show dos bandidos do PT, PCdoB, Piçóu (sic), etc!”, declarou, no Twitter.

Para o cientista político Geraldo Tadeu ; coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) ;, a polarização vai se ampliar. ;Lula, agora, volta a ocupar um dos polos diretamente, de onde poderá alterar os termos desse tensionamento;, frisou.

Potencial

Embora ainda responda por outros processos na Justiça, a soltura de Lula dá ao PT a chance de resgatar a narrativa eleitoral do ;Lula Livre; e incorporar o capital político em candidaturas em 2020. Por esse motivo, e considerando a possibilidade de Bolsonaro sair do PSL e as incertezas eleitorais que essa decisão pode acarretar, Tadeu entende que o PT pode, em um primeiro momento, ser mais favorecido entre os polos. ;Lula volta a assumir um lugar de um partido orgânico, que vai atrair a militância. Bolsonaro lidera um movimento inorgânico, sem história política e disciplina partidária, do qual não se tem previsibilidade de aliados, que usam sua imagem e, depois, não demonstram o mesmo compromisso, a exemplo de (Wilson) Witzel (governador do Rio) e (João) Doria (governador de São Paulo);, argumentou.

Mantido o clima de polarização observado nas últimas eleições, não é possível descartar dificuldades do centro em romper os polos, admitiu o líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB). ;Vai acentuar (a polarização). Quando acentua e tem confronto mais acirrado, atinge quem vai se eleger. Mas não vejo como isso pode atingir as agendas pelo país;, disse. ;O Congresso vai ter responsabilidade em uma pauta profissional, mas, para isso, precisamos de um bom relacionamento entre o Executivo e o Legislativo.;

O primeiro-vice-líder do PDT na Câmara, Afonso Motta (RS), discordou de que a liberdade de Lula amplie a polarização, mas defendeu o ;bom senso; do debate, a fim de evitar maiores tensões. ;Nossa grande bandeira é a democracia, o Estado democrático de direito e a educação. Não vamos contribuir com o tensionamento do país;, ressaltou. ;Quanto mais se faz isso, mais difícil vai ficar para o debate. Não podemos antecipar uma eleição com três anos.;

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