postado em 14/11/2019 04:13
[FOTO1]O modo de o presidente Jair Bolsonaro lidar com o Congresso deve amortecer insatisfações políticas com sua saída do PSL e a criação de um partido, o Aliança pelo Brasil. Essa é a avaliação da maioria dos parlamentares ouvidos pelo Correio. Especialistas apontam que a crise com a primeira legenda e a criação de uma sigla própria fazem parte do modus operandi bolsonarista, mas destacam que o chefe do Executivo está cada vez mais dependente das ruas, enquanto queima capital político com polarizações.
Ex-líder do PSL na Câmara, deputado Delegado Waldir demonstra ceticismo com a criação da sigla, que ele define como uma ;venda de terrenos na Lua;. O parlamentar avisou que o PSL não estará com o presidente em todas as pautas. ;Temos pautas em comum. A agenda econômica, por exemplo. No combate à corrupção, no entanto, vamos votar diferente. Somos favoráveis à CPI das Fake News, prisão em segunda instância e CPI da Lava-Toga;, explicou.
Da ala bolsonarista do PSL, Bia Kicis (DF) foi taxativa: não haverá nenhum prejuízo. Do mesmo grupo, o deputado Bibo Nunes (RS) concordou. Ele garantiu que todos os parlamentares da agremiação votarão com o presidente.
Líder do DEM, Elmar Nascimento (BA) fez uma análise fria. ;O problema do presidente com o PSL é uma questão interna. Era o único partido 100% alinhado, e isso ele (Bolsonaro) não tem mais. Vai ter meia legenda, mas isso não vai atrapalhar a agenda econômica, que é uma questão do país, não do governo;, avisou.
No Senado, o vice-líder do PSD, Ângelo Coronel (BA), vê o comportamento do presidente como previsível. ;Continuarei votando com independência. E tem muitos parlamentares que votam com o governo, mesmo não sendo do partido. Não dá para governar sem o Congresso. Espero que Bolsonaro mantenha a harmonia e atue sem beligerância;, frisou.
O cientista político Geraldo Tadeu, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ressaltou que a criação de um partido está dentro do espírito do bolsonarismo. ;Uma política militante, que insiste muito na mobilização, em uma retórica de enfrentamento, de acirramento da polarização. O presidente Bolsonaro não pensa em termos pragmáticos, mas militantes. Vai na retórica de uma aliança nacionalista.;
Ele disse que Bolsonaro ficou mais fraco com a saída do PSL. ;Em vez de compor, ele diminuiu a base, mas ele não busca governabilidade. Como eu disse, o modo de ação é militante. Ele acredita que pode pressionar o Senado, a Câmara, o STF, a partir das ruas e nas redes;, explicou.
Para o especialista, ao agir dessa forma, o presidente coloca todos os ovos na mesma cesta. ;Se deixar cair, todos se quebram. As pautas econômicas consensuais vão andar por conta de uma coalizão do Congresso. Há uma pressão de empresários e setores da imprensa. E é uma maneira de a Câmara e de o Senado se colocarem como atores importantes;, avaliou. ;Se apropriam de uma pauta que deveria ser do governo. Aconteceu com a Dilma. Há uma insatisfação latente por conta da crise e das políticas de austeridade. O país vem, há cinco anos, em um processo de crise, com desemprego, aumento da desigualdade, PIB baixo. O que pode acontecer é imprevisível. O bolsonarismo aposta nas redes e nas ruas. Eles não têm outra estratégia. Se não der certo, ficarão isolados. Todos os ovos no mesmo cesto.;